domingo, 27 de dezembro de 2015

Cidades - postado em 15/12/15

Cena 1: Esperando o ônibus, escuto um grito de uma senhora atrás de mim. Meu coração dispara. Viro em sua direção e identifico o ocorrido. Um passarinho tinha feito cocô no seu braço. Ela gritava de nojo. Sério??? O pobre passarinho, que se alimenta de matéria orgânica, deve ter ficado é com nojo dela, que estava em baixo do seu galho preferido.

Cena 2: Atravessando a rua, com meu vestido floreado e óculos de sol amarelo, uma mulher de dentro do carro grita em minha direção. Quase atingindo o outro lado da rua, volto para o canteiro do meio e me abaixo na sua janela pedindo pra ela repetir. "Moça", ela pergunta, "onde é a Lan House?" Ein? "Lan House moça, você sabe!" Sim, eu sei o que é uma Lan House mas não tenho ideia onde tem uma. Será que eu tenho cara de quem frequenta uma Lan House? Peço desculpas por não saber onde é e termino de atravessar a rua.

Cena 3: Já na outra parada de ônibus, escuto um grito no meu ouvido. "Moça!" Cheguei a dar um pulo. "Sua bolsa está aberta". Sim, faz 30.2 segundos que eu abri pra tirar meu celular. "Ah sim! Muito obrigada por me avisar!" Eu fecho a bolsa rápido e ela fica com uma cara de satisfação por ter me alertado de um perigo eminente...

Cidades: Onde passarinhos dão nojo, Lan Houses são ponto de referências e bolsas abertas são convites para um crime. 
Conclusão: Quero morar na Ferrugem!

A imigração - publicado em 23/7/15

Entreguei o passaporte para o oficial da imigração. Ele me olhou muito sério e repetiu meu nome com um forte sotaque:
- Marina?
-Yeah!
Respondi com aquela cara de quem pensa, "não, meu nome é Josefina, mas te entreguei um passaporte com outro nome só pra fazer uma gracinha".
Eu já tive muito medo desses processos de imigração, por experiências ruins do passado. Mas depois de tanto tempo atravessando fronteiras já consigo ficar relaxada e apenas curtir o momento.
- Quanto tempo você vai ficar por aqui?
Pensei, olhei pra baixo, pra cima e disse:
- Aaa, duas semanas, talvez..
Ele me olha com uma cara de quem não consegue entender como um turista não sabe quanto tempo vai ficar no país, e me pergunta com tom de exclamação:
- Mas há quanto tempo você está viajando?
- Aaaaa, dez meses.
De novo respondo sem muita certeza.
Ele vira pro lado, chama a colega que está atendendo um americano de meia idade e fala alguma coisa no idioma que não entendo.
Os dois começam a rir, e a falar várias coisas enquanto ele folheia meu passaporte e da uma olhada nos carimbos. A oficial olha pra mim e diz em inglês.
-Nossa, que legal! Você é muito sortuda. Quem sabe um dia ainda faço isso! Você teve que guardar muito dinheiro pra essa viagem?
A pergunta dela me pegou totalmente de surpresa. Na verdade eles estavam achando realmente legal o fato de eu estar viajando por tanto tempo.
Respondo que sim, afim de não prolongar mais o papo. Enquanto isso o oficial carimba o meu passaporte e responde sorrindo!
- Have a good time in Bali!
- Thanks!
E foi assim que eu passei pela imigração da Indonésia. Do jeito mais fácil e engraçado até hoje!
Tomara que o país esteja repleto de pessoas como esses dois oficiais da imigração!

A última história - publicado em 3/9/15

Cheguei no aeroporto de Madri e queria beber uma cerveja. A cerveja custava $2,55, mas eu só tinha $2,40. Precisava de $0,15 pra conseguir comprar a cerveja e gastar todas as minhas moedas. (Não que eu não tivesse mais dinheiro, eu tinha, mas eu queria mesmo gastar as moedas). Lembrei do meu tempo de escola, quando eu não tinha dinheiro suficiente pra comprar meu lanche, e procurava moedas no chão até completar quanto eu precisava.
Resolvi usar a mesma estratégia. Sai procurando pelo aeroporto uma moeda perdida. Procurei, procurei e procurei, e conclui que o pessoal da limpeza devia ser muito ágil, porque não havia nem migalha no chão, quem dirá moedas.
Aí, quase desistindo da cerveja, resolvi que gastaria as moedas em uma das centenas máquina de guloseimas. Fiquei olhando pra máquina, pensando no que poderia comprar. Não queria nada, queria a cerveja. Olhei pro chão e vi uma moeda de um centavo. Não servia para coisa nenhuma, mas lembrei do que minha mãe sempre dizia. "Não devemos nunca deixar moedas no chão!", deve dar azar, pensei. Peguei a moeda e estava indo embora, mas antes resolvi dar uma olhada no lugar do troco na máquina! Vai que alguém esqueceu alguma coisa...Eis que havia $ 0,40, esperando por mim! 😄
Não comprei nada na máquina, comprei minha cerveja, dei o troco para o garçom! Dei risada, e agradeci ao universo pela boa sorte que me acompanhou durante toda essa viagem! 
Hahhahaha, obrigada!

domingo, 18 de outubro de 2015

Sim, há algo acontecendo no mundo. E eu, o que faço?

- As coisas estão mudando! As pessoas estão mudando, e o mundo está em transformação. Eu tenho certeza!
Eu estava exaltada, tentando argumentar com a minha irmã sobre o meu ponto de vista. Estávamos sentadas na cama, durante o feriado, discutindo sobre novos “modelos de vida”. Cada uma com o seu gadget, ela assistindo Netflix, e eu rolando as atualizações pelo Facebook. Quando quase desistindo da briga, sem mais subsídios, me deparei com o texto do Gustavo Tanaka intitulado “Há algo grandioso acontecendo no mundo”. Parei e li tudo, do início ao fim, sem piscar.
Ali estavam descritas todas as mudanças que eu percebo acontecendo no mundo, e ainda com uma mensagem “de esperança” para aqueles como eu, acreditam que é possível mudar.
Me senti acolhida, senti que não estava mais sozinha nessa. Me enchi de entusiasmo, e desde então venho pensando em cada um dos motivos explanados tão bem pelo Gustavo.
Deve haver solução! Tantas pessoas querendo mudar...
E num exercício de reflexão cheguei a algumas soluções para cada um dos itens abordados. E é claro que existem milhares de caminhos, possibilidades e saídas. Aqui estão somente as que eu acredito que poderiam dar certo.
Sim, o mundo está se transformando! E o que eu posso fazer?
1)      Ninguém aguenta mais o modelo de emprego. Nem eu!
Nos venderam a ideia de que sucesso profissional era alcançado com um cargo de chefia, com um bom salário, inúmeras responsabilidades, sendo importante para a empresa e com pouco tempo para a vida pessoal. Esse sucesso era necessário para sustentar a nossa “família Doriana” com todos os luxos que ela merece. Chegamos ao extremo do “trabalho por dinheiro”.
Acontece que os modelos de família estão mudando, e jovens como eu, na casa dos 30, não têm uma família com três filhos sentados à mesa no café da manhã. Então, trabalhar somente por dinheiro não faz mais sentido, ainda mais quando isso reflete na falta de tempo para a vida pessoal.  Além do dinheiro é preciso ter satisfação, é preciso ter um propósito.
E para encontrar essa satisfação, antes de mais nada, entendo que devemos conhecer a nós mesmos, entender quais são nossos pontos fortes, e aceitar aquilo em que não somos tão bons. E só através do autoconhecimento é que teremos coragem para encarar o medo da mudança, e escolher uma nova empresa alinhada aos nossos valores, ou concretizar aquele velho sonho de empreender.
Exemplos dessas mudanças são empresas que remodelam seus escritórios para criar um ambiente diferenciado para os seus funcionários, como a Google, ou ainda o novo movimento dos Nômades Digitais, de jovens que largam seus empregos tradicionais para trabalhar pela internet.
Existem alternativas, elas estão por aí. O que temos que fazer é parar, entender nossas frustrações, entender no que somos bons, as nossas paixões, aquilo que nos move, e criar coragem para partir para outra.
2)      O modelo de empreendedorismo também está mudando. E eu também estou.
Sim, é preciso empreender com propósito. Porque unir forças para enfrentar desafios e encarar as dificuldades de empreender, só faz sentido se essa empresa além de gerar dinheiro, também gere um impacto positivo para sociedade. Temos que empreender usando as nossas melhores habilidades, naquilo que somos apaixonados.
As startups nascem para solucionar problemas, problemas do coletivo, problemas nascidos de crises econômicas. Foi assim que nasceu o Banco Pérola, pensando em resolver um problema da sociedade. Essa é a hora de empreender pensando na comunidade, juntando forças com quem têm as mesmas paixões, e investindo tempo e suor naquilo que acreditamos.
3)      O surgimento da Colaboração. Até que enfim!
Os brasileiros culturalmente são desconfiados. Essa desconfiança em relação ao outro é histórica, vem da época do Brasil colônia, onde tudo e todos eram explorados, e sempre “passados para trás”. Talvez por isso tenhamos tanta dificuldade em confiar em desconhecidos, ou acreditar que eles possam nos ajudar.
Mas o movimento de colaboração começou no mundo todo, e negócios colaborativos estão surgindo. É o caso do Airbnb ou ainda do Couchsurfing. E os brasileiros, aos poucos, estão percebendo que é possível articular redes de relacionamentos para atingir objetivos comuns.
Temos que desenvolver essa habilidade de trabalhar em rede, de escutar outras opiniões, de contar com a habilidade do outro para o sucesso do nosso projeto. Oferecer nossas habilidades, colaborar com projetos existentes e compartilhar experiências. Esse é só o começo das redes colaborativas, muito mais está por vir.
4)      Estamos começando a entender o que é a internet. E como ela pode nos ajudar.
Há pouco tempo li que apenas 10% das pessoas que acessam a internet geram conteúdo para a rede. Isso ainda é muito pouco! Existem milhões de pessoas conectadas, diariamente buscando conteúdos em blogs e sites, ávidas por conteúdo de qualidade. Existe espaço para criação, existe espaço para qualquer um, independente da sua popularidade, produzir e criar conteúdo através da internet.
Exemplos disso são os videologs que se tornaram muito populares, como o da Jout Jout, com milhares de seguidores. Ou até mesmo o texto do Gustavo, alcançando milhares de pessoas em pouco tempo. Além dos blogs especializados, em viagens, moda, beleza, futebol, entre outros, que dão dicas e ensinam muito sobre os temas.
Através da internet é possível buscar inspiração, aprender com o outro, desenvolver habilidades, aprender com inúmeros webnários e e-books gratuitos. Há espaço para todos, para aprender, desenvolver e criar, temos apenas que dominar o nosso próprio espaço.
5)      A queda do consumismo. Que ele caia e nunca mais se levante.
Do que adianta ter uma conta bancária cheia de dinheiro se não há mais tempo para desfrutá-lo? Percebemos que qualidade de vida está muito mais ligada ao tempo, do que ao consumo desnecessário. Não precisamos do último modelo de carro ou celular, da última roupa da moda, da refeição no mais luxuoso restaurante, de 20 pares de sapato, mas precisamos de tempo para nos dedicarmos aquilo que gostamos, para cuidarmos da nossa casa, dos nossos relacionamentos pessoais, da nossa alimentação e do nosso corpo.
Redes de troca estão surgindo. É possível trocar aquilo que não precisamos por algo realmente necessário. É possível doar ou vender, e há muitas pessoas já fazendo isso. Como no site Enjoei, um brechó on line que está fazendo muito sucesso.
Precisamos nos questionar o quanto realmente necessitamos para viver bem. Temos que reavaliar gastos e consumos básicos, identificar a origem dos gastos supérfluos. E parar com a desculpa de “eu compro porque eu mereço, pelo meu trabalho duro”. Há de se mudar esse sistema de recompensas, há de se mudar comportamento.
6)      Alimentação saudável e orgânica. O cuidado com o corpo e com a alma.
Quantas vezes engolir qualquer coisa que aparece pela frente, no intervalo de uma reunião ou outra é a melhor opção? E de novo a desculpa de “eu mereço esse chocolatinho” é a mais usada por nós. Quanto da nossa alimentação passou por algum processo industrial antes de chegar na nossa boca?
Temos que, antes de tudo, ter consciência do que estamos ingerindo, buscar informação nos rótulos e pesquisar sobre uma alimentação mais saudável. E depois mudar hábitos alimentares, pouco a pouco. A quantidade de açúcar, sal e gordura que ingerimos diariamente ainda é muito alta, principalmente pela ingestão de produtos industrializados. Se mudarmos a escolha dos alimentos que ingerimos, muita coisa muda. Melhoramos nossa saúde, e na busca de alimentos com menos químicos nos aproximamos da produção local, fomentamos esse comércio e fortalecemos nossa comunidade.
7)      Despertar da Espiritualidade. A reconexão.
Na busca do autoconhecimento, para entender nossos potenciais, para promover mudanças de vida, a espiritualidade pode ser um caminho. Estamos tão desconexos do universo, do nosso verdadeiro eu, que temos, de alguma forma reestabelecer essa conexão. Seja através da meditação, de prática de yoga, ou de qualquer outra prática que nos coloque em contato profundo com nosso corpo e mente.
Os ensinamentos budistas, por exemplo, nos ensinam sobre desapego e sobre a efemeridade de tudo na vida. Isso ajuda muito em um tempo de mudanças constantes. Com o despertar da espiritualidade também se formam correntes do bem. A partir do momento que estou melhor, eu faço melhor, e deixo o mundo melhor. A verdadeira mudança começa dentro da gente.
8)      Movimento Descolarização. Não é só na escola que se aprende.
Com a informação disponível em alguns cliques, já não faz mais sentido ensinar com a metodologia de acúmulo da informação, de “decoreba”, como era antigamente. A informação está disponível, o que temos que aprender é utilizá-la da melhor forma, e formar cidadãos que atuem para o bem comum, que pensem no coletivo e que aos poucos também mudem a nossa economia.
Há como se desenvolver muitas habilidades pela internet, como é o caso do Duolingo, que está mudando e facilitando a maneira de aprender uma outra língua.  Há como aprender sobre qualquer coisa, sobre qualquer tema. Temos que explorar ainda mais essas alternativas de aprendizado, e compartilhar informações e habilidades com a nossa rede. Isso sim, será uma revolução!
9)      Sustentabilidade. (esse item inclui por minha conta)
Estamos novamente nos aproximando da natureza, procurando cada vez mais, ter contato com a terra e com a água. Estamos ficando mais conscientes em relação ao meio ambiente, as fontes poluidoras, a geração de resíduo e ao impacto que isso gera para o mundo. Isso muda a forma como os produtos são fabricados e vendidos, como os edifícios são construídos, muda a economia.
Estamos mais conscientes sobre os direitos humanos, estamos discutindo abertamente assuntos que há bem pouco tempo eram muito polêmicos como a injustiça de gênero, de classes, da discriminação contra homossexuais, negros e mulheres. Ainda são assuntos delicados, mas aos poucos estão ganhando espaço na política e até nas instituições religiosas. Muitas pessoas públicas estão se posicionando a respeito e inclusive marcas, como o Boticário, deixando claro para o seu consumidor qual o seu posicionamento. Isso muda tudo, muda o mercado, muda a forma de relacionamentos, muda a nossa percepção sobre o mundo.
Sim, há algo grandioso acontecendo no mundo, e temos que começar a nos mexer!


Tempos de mudança
 

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O amor em tempos de Tinder.

Depois de 15 dias de conversa pelo Skype eu estava embarcando pra Bangkok, pra conhecer o Paquistanês que tinha conquistado o meu coração...

Sou usuária do Tinder há alguns anos, e costumo dizer que é como fazer parte de um grande experimento social. Lá consigo elaborar muitas teorias sobre amor e relacionamentos, e ainda testar muitas outras. Ah, se Platão vivesse em tempos de Tinder, eu e ele seríamos grandes amigos.

É engraçado, que pra começo de história, muita gente tem vergonha de dizer que está no Tinder, ou ainda afirma que não precisa disso pra conhecer pessoas, ou que tem medo. Tsc, tsc, tsc! Bobinhos! O Tinder nada mais é do que “sair pra paquerar” sem ter que sair de casa. É como se eu estivesse em todos os bares, programas cults e parques da cidade, ao mesmo tempo, sem gastar dinheiro ou fôlego. E ainda com a vantagem de saber que a pessoa está disponível, e que também tem interesse por mim. Uaaaauu, isso é fantástico!

Eu, por exemplo, defini alguns critérios para otimizar ainda mais o meu tempo no aplicativo. Não dou "likes" para selfies dentro do carro (1 em cada 3 homens tem uma foto dentro do carro) - se o carro é o mais importante pode ter certeza que não temos muito em comum. Não dou like para quem tem uma única foto no perfil - assim é fácil parecer bonito! E nem para fotos mal tiradas, de má qualidade- se a pessoa não tem ao menos uma foto legal, que algum amigo tirou, é que essa pessoa não anda fazendo muitas coisas legais ultimamente. Tá, entre outras coisas óbvias, como fotos de sunga ou no espelho da academia.

Aos outros que aparecem, dou uma chance, leio os seus profiles e me dedico à olhar os detalhes na foto. Hoje mesmo eu dispensei um menino que em uma das fotos usava uma camisa da Dudalina..."Que horror Marina! Que preconceito!"

Sim, acontece que nesse mundo de relacionamentos virtuais, o que mais usamos são os nossos pré conceitos para julgar quem está lá do outro lado. Não tem outra forma. No mundo do Tinder o Eduardo nunca teria saído com a Mônica. Eles eram muito diferentes...

Talvez por isso que eu estou em constante conflito com os acontecimentos Tinderianos. Não quero deixar de conhecer pessoas pelo meu julgamento, quero ter a oportunidade de ser surpreendida, assim como quando eu conhecia um carinha na balada, nos meus áureos tempos de noitada. E foi por essa razão que estabeleci uma outra regra: não troco Facebook antes de conhecer pessoalmente. Já não basta todos os julgamentos prévios? Ainda precisamos ver a vida inteira da pessoa antes de sair pra tomar um café? Esses dias, um menino disse que não sairia comigo se antes eu não me tornasse sua amiga no Face, por segurança. Por segurança a Monica nunca teria trocado telefone com o Eduardo e muito menos teria ido encontrá-lo no parque da cidade. Se a pessoa tem medo de marcar um encontro pra um café provavelmente nunca terá coragem de colocar o pé na estrada sem destino. Então, de novo, pouco temos em comum.

Acontece que escrever sobre o Tinder é escrever sobre os relacionamentos modernos. Relacionamentos que nascem da obsessão de encontrar alguém que se encaixe em pré-requisitos, em regras pré-determinadas. "Não faço isso, não faço aquilo. Pra ficar comigo tem que ser assim ou assado. Quero um relacionamento desse e desse jeito." Sem deixar espaço pro acaso, pro diferente, espaço pra quebrar a cara e aprender com as frustrações, pra testar todos os tipos de relacionamento. 
As pessoas têm medo de experimentar, e esperam a perfeição sem nunca ter experimentado o imperfeito. O Tinder é apenas uma ferramenta para os relacionamentos atuais, não muda nada do que aconteceria naturalmente.
E esses indivíduos estão tão obcecados em encontrar alguém que se encaixe em um certo estereótipo que acabam se iludindo. E depois, lá na frente, se dão conta que estão com alguém diferente daquilo que haviam idealizado. Veja só! Agora é tarde demais!
Eu, ainda quero me jogar de cabeça, me entregar, viver intensamente, me apaixonar. Já quebrei a cara umas tantas vezes, meu coração já ficou em frangalhos, mas isso não é motivo pra recuar. E foi assim, desse jeito intenso, que eu conheci o Muhammad, pelo Tinder, numa breve passagem por Bangkok. Começamos a conversar só depois que eu já estava a milhares de kms de distância, na Indonésia. Ele não se encaixava em nenhum pré-requisito. Ele era mulçumano, paquistanês e estava à milhas de distância, mas mesmo assim algo me atraiu. E mesmo com tudo diferente veio meio de repente uma vontade de se ver, e os dois se encontravam todo dia e a vontade crescia como tinha que ser...

Voltei pra Bangkok para conhecê-lo, sem contar nada pra ninguém (quantas pessoas me chamariam de louca por isso)! Quando nos vimos pela primeira vez parecia que já nos conhecíamos há séculos. Vivi uma das melhores semanas da minha viagem ao seu lado. Ele era carinhoso, engraçado, e conversávamos por horas dos mais diversos assuntos. Inclusive sobre a minha descrença em Deus e sobre seu orgulho por ser muçulmano paquistanês.
Eu fui embora, como previsto, mas ganhei um amigo. Hoje continuamos conversando por Skype, sempre que da. E aprendi pela experiência que relacionamentos podem surgir assim, em qualquer lugar, pelo Tinder, até com a pessoa menos provável. Porque o mais importante nessa vida são as pessoas que conhecemos, e o que nos permitimos aprender e viver com elas. Esses serão os momentos que vamos lembrar pra sempre, e não aqueles que gastamos sentados no sofá vendo fotos de desconhecidos passar pela tela do celular.
E quem irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração, e quem irá dizer que não existe razão...

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Podia ser pior!

Toca o despertador as 9. Levanto com a cara péssima depois de uma noite de insônia. Penso, "podia ser pior, ser obrigada a acordar mais cedo, ainda bem que eu moro ao lado do trabalho."
Vou pra cozinha, preparo o meu mamão cortadinho com sucrilhos integral industrializado e como correndo. "Podia ser pior, e ter que comer um pão de queijo do boteco, assim como nos dias em que saio correndo para uma reunião."
Tomo banho, me enrolo na toalha e começo o processo de escovar o cabelo e fazer maquiagem. "Podia ser pior, o meu cabelo é bem fininho e seca rápido, e de maquiagem só 4 produtinhos."
Corro pro quarto, coloco o meu vestido novo, minha calcinha que aperta a barriga, e aquele salto alto pra ficar ainda mais elegante. Me sinto linda, mas bem desconfortável. "Podia ser pior, ao menos eu tenho dinheiro pra comprar um vestido novo e um sapato elegante."
Passo a manhã no trabalho e no intervalo do almoço corro pra manicure, e depois passo em casa pra comer legumes congelados e ovo. "Essa podia ser bem pior, pelo menos posso fazer a unha toda semana, e ainda comer em casa quase todo dia. Que sorte!"
No fim do dia me arrasto pra casa, estou morta de cansaço. "Af, podia ser pior, pelo menos eu gosto do meu ambiente de trabalho, apesar de trabalhar com algo que pouco me motiva e já não fecha com os meus valores."
Coloco uma roupa de academia e arrastada pela Francine vou malhar. "Odeio malhar, mas podia ser pior, pelo menos tenho a Fran pra me acompanhar e a academia é perto de casa."
A rotina durante a semana é cansativa, mas nos finais de semana, tenho dinheiro pra me divertir em bares legais e restaurantes caros, e como estou longe da família tenho tempo de sobra pra gastar nas noites paulistanas.
"É, a minha vida é realmente perfeita, não tenho do que reclamar, levo uma vida saudável e com excelente qualidade de vida."
E foi assim que eu pensei por muito tempo, até que um dia eu percebi que, " a minha vida podia ser bem melhor"!
Hoje o despertador raramente toca pela manhã, mas mesmo assim acordo cedo, depois de uma boa noite de sono. Se o dia amanhece bonito, coloco o tênis emprestado da minha mãe e vou correr. Se não, deixo pra mais tarde. Ou então vou caminhando até algum compromisso e já incorporo o exercício nas atividades do dia a dia.
Faço o meu pão integral sem conservantes, preparo meu suco natural. Como cada vez menos doces, lacticínios, gorduras e carne. Naturalmente, apenas prestando atenção no que o meu corpo diz. Ele é sábio e avisa o que eu devo fazer.
Não uso mais salto, nem vestidos novos. Minha roupa básica é uma calça jeans e um All Star. Não comprimo a barriga com calcinhas apertadas, ela faz parte do corpo que tenho, não tenho que ter vergonha disso. Não faço mais escova no cabelo, que agora mais curto, seca rápido e fica mais crespo. Não uso maquiagem, no máximo um BB cream com proteção solar. Não faço mais a unha no salão, eu mesmo corto e hidrato as cutículas.
Não tenho mais aquele bom salário, não tenho mais dinheiro para frequentar bons restaurantes, nem para ir à bares caros toda semana. Não tenho carro. Tenho os meus pais por perto, e não gasto nem 1/4 (- de 25%) do que gastava quando trabalhava em São Paulo. Trabalho em casa, a hora que me sinto mais confortável. Economizo no que posso, não compro nada que não preciso, mas me alimento melhor e tenho tempo pra ir caminhando até o supermercado, pra fazer uma faxina na casa, meditar e ler.
Sei que essa fase da vida poderá ser passageira. O dinheiro acumulado, naquela fase ali de cima, vai acabar. Talvez, dependendo do rumo das coisas, será difícil ter uma vida como a que levo agora. Mas hoje eu sei que posso viver com menos dinheiro e de uma forma mais simples, e é isso que eu quero e que busco para a minha vida. É uma vida assim que me faz feliz.
Aprendi que uma vida saudável nada tem a ver com malhar enlouquecidamente numa academia depois de um dia estressante de trabalho, ou comer legumes congelados nas refeições e passar cremes caros pelo corpo.
Hoje entendo o real sentido da tão famosa frase "Você tem que se cuidar!" "Pode deixar, estou cuidando muito bem de mim! :)"
O pão integral com castanha e papoula que fiz hoje.

domingo, 21 de junho de 2015

A Greve na Bélgica- texto de 7/12/14

Acordo às 4 da manhã no meu hostel em Luxemburgo, depois de uma noite mal dormida por causa de uma mulher que roncava mais alto que meu pai.

Saio do hostel as 4:15 em direção à estação de trem, caminhando 2 kms lomba acima, com a minha mochila de 14kgs nas costas. Me recusei a pagar 20 euros para pegar um táxi.

Chego em tempo, um pouco suada e descabelada, e sento perto do letreiro para verificar de onde sairia meu trem.

Eis que aparece no letreiro: train supprimé. Cutuco o rapaz ao meu lado e pergunto se significa o que eu tinha entendido. Isso mesmo, o trem foi cancelado.

Espero o local de venda de bilhetes abrir, e com cara de desespero pergunto ao rapaz do balcão o que aconteceu.

- É a greve na Bélgica moça! Nenhum trem entra ou sai do país.

- Sério? Eu tenho um voo saindo de Amsterdã às 2 da tarde, preciso chegar lá. Não existe nenhuma maneira de chegar na Holanda sem passar pela Bélgica?

Ele me olha com uma cara de quem pensa, claro que não sua ignorante, mas educadamente responde:

-Não senhora!

Ok, sento de novo em frente ao letreiro e penso no que posso fazer. Fico ali olhando o letreiro quando aparece: trem partindo as 6:11 com destino a Paris.

Volto correndo ao gichê de venda de passagens.

- Gostaria de trocar esse meu ticket para Amsterdã por um para Paris.

-Ok, senhora, plataforma 7 em 15 minutos.

Parei no ponto wi-fi da estação, avisei a Neominha que não chegaria à Dublin, reservei um hostel pelo Hostelword, e embarquei.


E aqui estou! Bonjour Paris!

Acabo de comprar um novo voo para Dublin, saindo de Paris no sábado pela manhã! Tive um prejuízo de 88 euros do voo que perdi, mas ganhei dois dias nessa cidade maravilhosa! 

É, acho que ficar triste e "pobre" em Paris até que não é tão ruim assim! Hehehehe

Tailândia

Quando eu digo que estou viajando pelo mundo algumas pessoas me perguntam: e aí, qual seu país preferido?
Como se desse pra comparar banana com maçã!
A questão é que todos os lugares tem coisas boas e ruins e é difícil comparar entre culturas tão diferentes, e eleger o melhor país. 
Maaaaaasssss... temo dizer que tenho o meu país queridinho! Sim, tenho uma queda, um carinho, um amor pela Tailândia! 😍
Conheci um Australiano que morou durante anos no Brasil e também algum tempo na Tailândia. E ele disse: A Tailândia é o Brasil do Sudeste Asiático! 
Bingo! É isso! O nosso povo é muito parecido, por isso que me sinto tão em casa quando estou aqui.
Bom, sendo assim, elegi aqui 14 razões pelas quais eu amo a Tailândia. Não que eu precisasse justificar o meu amor, mas talvez assim consigo mais fãs pro local.
1) A comida Tailandesa.
Sem dúvida a melhor que eu já comi. Tá ali, ali com a italiana, mas é mais saudável, e mais apimentada! E eu aprendi amar comida apimentada depois da minha primeira viagem ao país.
2) A comida de rua.
Tá bom, podia entrar no item 1, mas acho que merece um quesito especial! A comida de rua é barata, é variada, é fresca, e é muito gostosa. Na Colômbia a comida de rua também é tentadora, mas de novo a Tailândia ganha disparado, por sua variedade, disponibilidade (há qualquer hora, em qualquer esquina) e sabor.
3) O Seven Eleven.
Só quem já veio à Tailândia vai entender. Existem Sevens Elevens, por toda parte, um em cada esquina. Um paraíso de preços baixos e variedade pros mochileiros. Fora a toast feita na hora! Minha preferida!
4) Friendly people.
Não conheci nenhum outro lugar na minha viagem onde as pessoas locais fossem tão amigáveis. Talvez Cuba possa competir nesse quesito, mas de novo  a Tailândia ganha disparado! As pessoas são sorridentes e solícitas, e todos parecem se esforçar muito pra tentar  te entender!
5) Thai Massage.
Experimentei massagens no Laos, Camboja e Vietnã, e a Thai Massage é a melhor, com toda a certeza. Por R$18,00 você ganha uma hora de puro relaxamento! Amo!
6) Os templos Budistas.
Vi templos budistas em vários outros lugares, mas em nenhum outro país os templos são tão coloridos e reluzentes, e estão por toda parte.
7) As praias.
Ok, isso pode gerar muitos argumentos, pois é fácil dizer que as praias no Brasil, na Colômbia, no México, em Cuba, na Itália, na Croácia e na Austrália também são maravilhosas, mas de novo, acho que nunca vi um pôr do sol tão lindo como vi nas praia do Sul da Tailândia.
8) O Budismo.
É a religião oficial do país e isso faz muita diferença quando se trata da cultura do país. Uma das principais filosofias do Budismo refere-se a compartilhar. Mesmo que tenham poucas posses os Tailandeses estão sempre dispostos a compartilhar o que têm.
9) A Imigração.
Essa é a terceira vez que entro no país. E é sempre tão fácil! Nunca me perguntam nada, apenas carimbam meu passaporte e me dão o direito de ficar no país por 90 dias! É importante lembrar de ter o comprovante de vacina de febre amarela junto ao passaporte.
10) Não entra-se de sapato em lugar algum.
Eu adoro esse hábito. Tirar o sapato pra entrar em casa, no restaurante, no supermercado e nas lojas. Andar de pés descalços é uma delícia!
11) É barato.
Em que outro lugar do mundo é possível comer por R$5,00 uma comida saborosa? Em que outro lugar do mundo é possível viajar kms de trem ou de ônibus por menos de R$10,00? A Tailândia é o paraíso para os mochileiros de plantão!
12) É seguro.
É preciso tomar cuidado assim como em qualquer outro lugar do mundo, sempre há alguém espertalhão querendo tirar vantagem. Mas é um lugar em que se pode sair as ruas à noite sem medo. Nunca me senti insegura viajando por aqui.
13) É simples.
Na maioria dos lugares tudo é simples. Não há luxo. É um país pra viver de calça de tecido, camiseta e chinelo de dedo. E eu amo isso!
14) É fácil.
Por todos esses motivos que viajar pela Tailândia se torna muito fácil. Foi aqui que encontrei o maior número de mulheres viajando sozinhas. Existem turistas por todos os lados e parece que os Tailandeses estão bem preparados para recepcioná-los! Sawadeeka! 🙏


Vamos fugir, desse lugar baby!

Agora tem sido assim. Uma notícia de um crime, ou uma notícia sobre a baixa popularidade da Dilma, um texto difamando o país e constatando que não há solução a não ser abandoná-lo.
Parece que virou moda falar mal sobre o país, criticá-lo, e apontar como solução para todos os problemas a mudança para o exterior. O Exterior sabe? Aquele lugar onde tudo é lindo, funciona, é seguro, tem pessoas sorridentes andando pelas ruas, e é claro, é bem melhor que no Brasil. Esse paisinho de terceiro mundo onde só se fala sobre futebol e se espera o ano todo pelo Carnaval. Ai, esses Brasileiros de mentalidade atrasada, não sabem o que é uma vida boa num país desenvolvido.
Hoje ao terminar de ler um desses textos percebi como prepotente pode ser esse pensamento. Como é fácil colocar a culpa em uma nação inteira pelos problemas que temos em nossas vidas. O trabalho está ruim, estamos insatisfeitos com a monotonia do emprego seguro, estamos cansados dos nossos amigos, estamos desgastados com as nossas relações familiares, de saco cheio da nossa cidade e assim achamos que a culpa de tudo isso só pode ser desse país, e da gente que vive nele. Melhor fazer as malas e sair daqui enquanto há tempo!
Eu fiz isso. Fiz as malas e sai do meu emprego, me afastei da minha cidade e dos meus amigos. Estava esgotada, insatisfeita, queria mudar, precisava sair. Mas não precisava sair porque o meu país era uma droga. Eu precisava mudar porque EU precisava melhorar, rever algumas atitudes, ter novas perspectivas, novas experiências, essas que só temos quando atravessamos fronteiras. O problema era meu e não de uma nação inteira.
Nessa viagem já passei por 23 países e mais de 80 cidades. Em todas elas imaginei como seria morar ali pela vida inteira. Como seria envelhecer naquele país, ter uma família, novos amigos um novo emprego. E muitas pareceram um lugar bom pra ficar e morar. Facilmente posso me imaginar morando em Sydney, em Barcelona, e até na Cidade do México. Posso imaginar a linda vida que teria lá, com um emprego que às vezes me faria feliz, às vezes não, com uma casa confortável, não tanto como sonhei, mas aconchegante como eu gostaria, com amigos ao meu lado, correndo alguns riscos, não tendo dinheiro pra tudo o que gostaria de fazer, mas tendo uma vida saudável e feliz.
Acontece, que exatamente essa mesma vida, nesse mesmo desenho de uma família feliz, numa vida saudável e segura, também é possível no Brasil. Assim como conheço pessoas que estão insatisfeitas com suas realidades no Brasil, conheço outras tantas que estão muito felizes vivendo a vida que elas sempre sonharam. É claro que sempre haverá problemas com as cidades, assim como há problemas em Sydney, Barcelona, Tóquio ou Nova York (Ou será que há gente que acredita que corrupção, assaltos, trânsito e poluição só existem no Brasil?). Mas esses mesmos problemas são incapazes de destruir o sonho daqueles que realmente acreditam, se esforçam pra fazer seus dias melhores, e ajudam a transformar o país num lugar melhor.
Isso tudo pode soar utópico, e infantil, mas eu realmente acredito que no nosso país há muito mais gente boa do que ruim. Que há muita gente por aí fazendo a diferença, também insatisfeita com as injustiças, mas levantando de suas camas todos os dias decididos a mudar um pouquinho de suas realidades. Eu acredito que o país do futebol, também é o país do trabalho em equipe, onde as pessoas são solidárias, receptivas, guerreiras, trabalhadoras e honestas.
Pode acreditar, gente insatisfeita têm em todo o lugar! Até na mais segura das cidades, na mais paradisíaca praia, na casa mais confortável, e na cidade mais cheia de opções de lazer. Para algumas pessoas a satisfação pode estar mesmo em uma cidade como Tóquio ou em uma ilha no Mar do Caribe (talvez eu até seja uma delas). Tudo bem, que essas pessoas façam suas malas e mudem-se. O que não podemos é generalizar e culpar uma nação inteira pelos nossos problemas e achar que todos as nossas frustações resolverão-se fugindo do país Tupiniquim.

sábado, 13 de junho de 2015

A viagem do Vietnã aos Laos

Eu olhei no relógio, eram 5 horas da tarde. Tinha acabado de acordar da minha sonequinha depois de uma viagem super cansativa para Sa Pa. Resolvi apenas checar o horário do ônibus para o Laos, que tinha certeza que partia às 9 da noite. Já tinha até confirmado com a menina da recepeçao que me vendeu o ticket! Meus planos eram acordar, tomar um banho e sair para comer algo antes da viagem. Estava faminta só tinha comido o café da manhã as 7 da matina.

Peguei o ticket calmamente e li: pick up time at the hostel, 5PM. 

O que? Como assim? Agora?

Desci as escadas correndo até a portaria, querendo estrangular a menina que havia me confirmado o horário e me certifiquei: 

- O ônibus pra Vientiane sai mesmo as 17? 

-Sim! Quer fazer o check out?

-Nãããão!!! 

Subi correndo novamente, coloquei tudo dentro da mochila e ainda ousei pular debaixo do chuveiro no banho mais rápido da história. As 5 e 10 estava de novo na portaria fazendo o check-out. 

Apareceu um cara berrando algo que não entendi, e o moço da recepção mandou eu segui-lo. Ele parecia bravo porque aparentemente  estava esperando somente por mim. Tudo uma correria, uma confusão, e o menino da recepeçao dizia pra eu ir logo, enquanto ao mesmo tempo eu repetia que queria meu passaporte que havia ficado retido no hostel! Ele parecia tão nervoso quanto eu, e depois de eu repetir pela terceira vez ele entendeu que precisava devolver meu passaporte para que eu pudesse ir.

Segui o cara de camisa azul esbravejante. Ele dirigia uma moto, na contramão, e pediu para que eu e mais outros turistas trouxas (como eu), o seguissem. Andamos umas três quadras seguindo o cara de camisa azul e sua moto, pelo meio da rua, na chuva, com nossas mochilas nas costas. 

Chegamos até uma rua principal onde haviam dois táxis esperando. Eles pareciam com muita pressa. E assim que cheguei perto do táxi, o motorista arrancou a mochila das minhas costas, que se enroscou na minha bolsa e no meu braço. E num golpe, atirou a mochila, e meu braço preso à ela, dentro do porta-malas. Quase fui decapitada!

O carro era uma adaptação, e pra caber mais passageiros, parte do porta-malas havia sido transformada em bancos. O motorista esbravejante, mandou eu sentar na ultima fileira, com mais um casal soterrado em baixo de suas mochilas. Obviamente não cabiam 3 pessoas naquele lugar, mas haviam de caber. Sentei com uma perna por cima da perna da outra menina e metade da bunda pra fora do assento, na posição mais confortável do mundo. Mais 3 meninas e suas mochilas gigantes dividiam o banco da frente, e mais à frente ainda o motorista e outra menina com mais duas mochilas. Parecíamos uma lata de sardinha!

O motorista saiu dirigindo loucamente no trânsito de Hanoi, buzinando pra todos os lados, até receber uma ligação. Falou alguma coisa e retornou, depois de uns 10 minutos, para o mesmo lugar da nossa partida. Com cara de quem "não está entendendo nada", todos nós nos olhamos. E uma das meninas da lata de sardinha disse em tom de ironia: 

-Vai ver ele voltou pra buscar mais alguém!

Caímos na gargalhada, que durou até o motorista voltar com uma outra menina e sua mochila. Ele abriu a porta do banco de trás, e gritava para que ela entrasse ali. Era impossível!!!

Mas nada é impossível na Ásia. Sempre cabe mais um. Elas sentaram uma no colo das outras, colocaram as mochilas em cima de tudo, e assim fomos, por 20 infinitos minutos até a estação de ônibus.

Chegando na estação um terceiro cara nos encaminhou até os ônibus e distribuiu aleatoriamente as passagens pra cada um. Éramos uns 17 turistas trouxas até o momento. Eu fui correndo até uma vendinha e consegui comprar uma caixa de biscoitos antes de partir. Foi a minha única refeição nas 20 horas de viagem até o Laos.

Larguei a mochila no bagageiro e procurei um lugar pra sentar enquanto os outros passageiros largavam suas malas e preparavam-se pra entrar no ônibus. Sentei num banco próximo a outros motoristas e comecei comer meus biscoitos. Um deles chamou o amigo e os dois sentaram próximo à mim e ficaram falando coisas que eu não entendia, e olhavam fixamente pros meus peitos, apontando e dando risada. Devem ter ficado impressionados com o tamanho, já que para os padrões asiáticos devo parecer uma Cicciolina! Eles foram chegando tão perto, que eu pensei que o próximo passo seria estender a mão e tocar em mim. Olhei furiosa pra eles, mas não queria levantar. Perguntei se eles estavam olhando pra minha caixa de biscoitos, se eles queriam um. Depois passei a xinga-los em português, e por ultimo, totalmente acuada, levantei do banco e me dirigi pro ônibus.

Os ônibus no Vietnã são extremamente criativos. Ao invés de cadeiras reclináveis são camas, colocadas em dois andares, como num beliche. São 3 camas em cada fileira, e para caber mais gente, as últimas fileiras, no fundo do ônibus, são camas juntas, como se fosse uma cama de casal, mas que devem caber 3 pessoas, em baixo de uma outra cama, num lugar sem janelas, e ao lado da porta do banheiro. Basicamente uma caverna com um colchão. Parecida com aquelas tendas que crianças fazem para brincar. Era nesse lugar que eu devia sentar, com mais um casal de turistas trouxas. 

Fui pro meu assento na caverna e bastaram 5 minutos pra me sentir totalmente sufocada do calor aliada a falta de circulação de ar! Fiquei de pé no corredor até todos os passageiros se sentarem, e então percebi que eles separavam os turistas trouxas dos vietnamitas. Os turistas ficavam todos nos últimos assentos, os piores, enquanto a elite dominava os assentos da frente. 

Todos sentados, percebi que os assentos do meio do ônibus estavam vazios. Peguei as minhas coisas e sentei numa outra cama vazia. Assim que o ajudante do motorista me viu sentada ali, veio até mim e começou a gritar coisas que eu não entendia, mandando eu voltar pro meu assento. Eu dizia que era impossível viajar por 20 horas naquela caverna e que eu não voltaria pra lá. Ele não me entendia e berrava a mesma coisa, cada vez mais bravo. Então, ele pegou as minhas coisas e começou a levar pra fora do ônibus, me mandando descer já que eu não queria voltar pra caverna. Nessas alturas já estava muito nervosa e berrava cada vez mais, enquanto todos os outros turistas trouxas e os vietnamitas da elite só me olhavam.

Com medo, voltei pro fundo do ônibus e fiquei de pé até ele começar a se movimentar. Assim que apagaram as luzes pulei de novo na cama no meio do ônibus, agarrada nas minhas coisas, pensando que a qualquer momento o ajudante louco do motorista, viria até mim e me jogaria pra fora, no meio da estrada. Tive os mais terríveis pesadelos nessa noite. 

O ônibus seguiu no estilo Vietnamita de direção! Buzinando o tempo todo, de um lado pra outro na pista, freiando de forma brusca.

Chegamos na fronteira às 5 da manhã, mas a fronteira só abria as 7. Esperamos por duas horas até nós encaminharmos ao lado da fronteira do Vietnã. Pagamos a propina básica para os agentes da polícia carimbarem nosso passaporte de saída, e mais uma propina para os ajudantes do motorista que carregavam os nossos passaportes. 

Atravessamos a pé para o lado do Laos, enquanto os passageiros da elite foram levados de ônibus, os trouxas caminharam uns 2 kms até a imigração no Laos. Mais algumas horas de burocracia no lado do Laos e voltamos pro ônibus.

Quando entramos, duas trouxas perceberam que haviam deixado seus celulares dentro do ônibus, e que esses não estavam mais lá. Todo mundo procurando, em todos os lugares, elas avisam ao motorista que os celulares sumiram. Eles fazem cara de que não entenderam. Elas já estavam conformadas com a perda dos aparelhos quando o ajudante louco do motorista aparece com os dois celulares, tentando explicar algo que não entendemos. Enfim elas suspiram aliviadas. 

Fizemos a parada do almoço em um lugar na estrada difícil de ser chamado de restaurante (olha que não sou nada fresca, e com a viagem tenho me tornado muito menos), mas servia comida para os passageiros que ali paravam. Saímos do ônibus pra tomar um ar, quando vimos que no teto do ônibus, ao lado do nosso, haviam dois filhotes de cachorros. O que faziam dois filhotes de cachorro em cima do ônibus? Estavam sendo "transportados" em caixas que se abriram e eles com muito calor e sede fugiram. Estavam tentando sair de cima do ônibus, mas eram muito pequenos e acabaram caindo. Um deles parecia morto, o outro estava chorando de dor. A cena mais horrível que eu podia ter visto.

Enquanto isso acontecia, os turistas todos alarmados com a situação, juntaram-se ao redor do cachorrinho sobrevivente para tentar ajudá-lo, enquanto os vietnamitas ficavam apenas observando, sem mexer um dedo, somente acompanhando os movimentos dos turistas.

Fomos chamados pra voltar ao nosso ônibus, e os cachorrinhos ficaram lá, sem que ficássemos sabendo o seu destino. 

Antigamente, no Vietnã, era comum comer carne de cachorro, hoje em dia apenas alguns lugares ainda apreciam essa iguaria. Talvez esses dois filhotes virassem o almoço do dia seguinte nesse restaurante de beira de estrada.

Depois dessa ultima parada faltavam poucas horas pra chegarmos no nosso destino. Cheguei cansada, com fome, suja, suada, mas feliz por ter sobrevivido a essa "maravilhosa" experiência de viagem. E o meu hostel tinha piscina, não podia ter ficado mais feliz!

sábado, 6 de junho de 2015

O que eu aprendi no Vietnã.

Há quase 20 dias no país posso dizer que o Vietnã me ensinou algumas coisas. Aliada a minha trajetória e meu momento de vida, as reflexões e acontecimentos durante esse período tornaram essa parte da viagem única e inesquecível.
Fizemos, eu e minha mãe, uma viagem que iniciou pela fronteira com o Camboja (atravessamos de ônibus) passando por Ho Chi Min (antiga Saigon), Huê, Hoi An, Da Nang até Hanoi, atual capital do país, terminando em um cruzeiro pelas ilhas de Ha Long Bay.
 
1)As cidades podem "funcionar" de diferentes maneiras.
O trânsito é um caos (na visão de um ocidental como eu). Há motos, muitas motos, por todos os lados. Estacionadas ou andando em cima das calçadas, atravessando cruzamentos, na contramão, nunca respeitando os semáforos e sempre buzinando. Como as calçadas servem para estacionamento ou para área de mesas dos restaurantes de rua, não sobra muito espaço para os pedestres, que acabam tendo que andar pelo meio da rua. E ainda tem os ciclistas que seguem no meio do trânsito, e há eventualmente carros e alguns ônibus. Todos andando em perfeita harmonia! 

Sei que parece loucura dizer isso, mas a verdade é que tudo flui, como num balé ensaiado. As pessoas não parecem estar estressadas, nem xingam-se umas às outras. Elas também não andam em velocidade alta e não ficam bravas quando alguém "corta" a sua frente, ou não dá sinal para entrar, ou quando um pedestre cruza seu caminho. Os motoristas buzinam compondo uma melodia, mais para se fazerem presentes, do que para alertar alguém de seu erro. Tudo faz parte de uma coreografia perfeita, que para um simples espectador parece estar tudo a ponto de desabar. Mas nada desaba, ninguém cai, ninguém bate, todos saem ilesos. 

E tudo isso enquanto alguns outros moradores, continuam sentados nas mesas das calçadas bebericando o seu chá e mascando sementes de girassol, ou batendo papo com amigos nas sombras das árvores, ou fazendo exercícios nos parques (que são lindos, muito bem cuidados). Compondo assim cidades cheias de vida, até altas horas da noite até o raiar do novo dia.
 
Fiquei pensando em pesquisar quantas pessoas sofrem acidentes de transito por aqui, depois achei desnecessário. Em todo esse tempo por aqui não vi nenhum acidente e nenhum motoqueiro caído no chão. Tratando-se de cidades como Ho Chi Min, com 12 milhões de habitantes, acho que o simples fato de não ter presenciado nada já é uma boa estatística.
As motos em cima das calçadas
Os lindos parques arborizados

As mesas de rua, no meio das ruas


2) As crianças sabem se virar sozinhas.
Quando estávamos em Ha Long Bay fizemos um passeio até uma antiga cidade flutuante, onde no passado famílias de pescadores viviam em casas construídas em cima de plataformas flutuantes. Ao chegar no ponto de partida, um píer no meio do mar, havia um menininho de uns 3 anos brincando sozinho. Ele carregava um pedaço de um fio elétrico, e depois usava um pedaço de madeira quebrada para brincar num banco próximo da água. A criança parecia "sobrando", como a minha mãe resolveu apelidar as crianças por aqui, pois aparentemente não havia nenhum adulto tomando conta dela.
 
Veja só quantos perigos eminentes! Um fio elétrico, um pedaço de madeira cheio de farpas, um píer no meio do mar sem nenhuma proteção, além do sol pegando fogo do meio da manhã. E a criança estava lá, sorridente, brincando, sem dar bola para todos aqueles turistas indo e vindo de todos os lados. Uma cena dessas seria impossível no Brasil, haveria com certeza um adulto correndo atrás da criança, e falando muitos “nãos”. Mas aqui as crianças parecem ser diferentes. Elas brincam sozinhas no meio da rua, são habilidosas, ágeis e sabem se defender. Estão livres, para tentar e aprender com os erros. Ou as crianças daqui são especiais e nascem com um gene diferente das crianças no Brasil, ou o excesso de cuidados e zelo dos pais é que está acabando com a habilidade nata de sobrevivência das crianças do nosso país.
O menino brincando sozinho no píer.

 3) Um país socialista também pode dar certo.

Não, a ideia não é causar polêmica nem defender o regime político do Vietnã. Mesmo porque, para isso precisaria de muito mais informação e vivência, do que alguns dias pelo país puderam me dar. Mas a impressão que tive é que o país está dando certo. Não é um país rico, mas também não é um país miserável. Não vi milionários andando em carros importados, ou helicópteros sobrevoando a cidade (cena tão comum em São Paulo que aqui pareceria uma piada) mas também não há moradores de rua, crianças pedindo esmola, e as ruas são limpas e os parques e áreas verdes são um verdadeiro cartão postal!

O país atravessou um longo período de guerra (20 anos), numa das guerrilhas mais violentas do século XX, com milhões de mortes (mais de 3 milhões de civis). Muitas famílias foram destruídas, muitas pessoas fugiram do país e tudo isso há pouco tempo atrás. O país reabriu-se recentemente para o turismo, só nos anos 90. E parece que já está preparado para receber todos os curiosos do mundo, inclusive norte-americanos, seus ex-inimigos de guerra, que andam tranquilamente pelas ruas. Uma prova disso é a cidade de Hoi An, uma cidade muito bem preservada, com muitos restaurantes e cafés, que ganhou o título de minha cidade favorita no Vietnã.

As pessoas estão dando um jeito de sobreviver e de sustentar suas famílias, de viver bem! Eu e a mãe fomos visitar o Museu da Mulher aqui em Hanói (recomendo a visita) e assistimos à um vídeo de mulheres vendedoras de rua. Era um documentário com depoimentos dessas mulheres que vão para as ruas vender frutas, flores e todo o tipo de bugigangas. Muitas delas são provenientes de cidades do interior e vem para a capital apenas para ajudar nas finanças da família. Elas dividem uma casa, entre 10 ou mais mulheres, acordam muito cedo e trabalham até muito tarde para ganhar uns trocados. Votam para suas famílias uma vez a cada 15 dias com menos de U$20,00 no bolso, que foi o lucro delas nesses dias. Uma vida difícil, de muito desgaste. Fiquei pensando nessas mulheres, e em tantas outras que vi nesse museu. Mulheres que lutaram na linha de frente durante a Guerra (cerca de 40% dos combatentes eram mulheres), mulheres que perderam muitos filhos para guerra (uma delas havia perdido oito filhos), mulheres responsáveis pelas plantações de arroz, pela tecelagem, pela manufatura, mulheres que ainda estão lutando por um mundo melhor.
 
Assim como a The, uma jovem vietnamita proprietária de um café na cidade de Da Nang. O café é um espaço acolhedor, aconchegante, com um delicioso cardápio. Mas não é só isso, assim que sentamos na mesa, a The, veio até nós e começou a nos dar dicas de turismo, e aproveitou para nos contar do seu projeto. A ideia do café é ser um espaço para trocas, entre jovens vietnamitas e turistas do mundo todo. Os turistas ganham com as dicas e curiosidades sobre a cidade e o país, e os jovens vietnamitas ganham a chance de praticar seu inglês e aprender a língua com os turistas. Além de tudo, no próprio café ela tem alguns dormitórios para turistas que desejem ficar hospedados gratuitamente desde que se disponham a conversar com o pessoal local. Uma ideia simples, cheia de propósito. E essa foi a imagem que fiquei do país, de pessoas batalhadoras, que continuam lutando, mas dessa vez não contra o inimigo, mas contra as marcas deixadas pela história.
As vendas de rua

As mulheres vendedoras de rua.

4) O que é ser “bem-educado”.
Bom, se olhar com os olhos de um ocidental, mais especificamente de um brasileiro de classe média (metido à besta, como eu) os vietnamitas são extremamente mal-educados, de uma grosseria sem tamanho. 

Estou acostumada com a falta de gentileza nos aeroportos do mundo inteiro, mas acho que nunca tinha visto nada parecido com o que vi nos aeroportos daqui. No primeiro aeroporto, depois da chamada para o embarque eu e a mãe nos encaminhamos para a fila. A fila parecia algo “simbólico”, já que, assim que abria um espaço de menos de 10 cms entre duas pessoas, uma terceira já tomava o lugar. Além de filas paralelas que surgiam para a entrada no mesmo portão! O cara que estava atrás de nós, ou melhor grudado em nós como se fosse a nossa sombra, depois de dar umas resmungadas simplesmente passou na nossa frente. Simples assim, sem nenhum constrangimento. Assim que o avião pousou, todos os passageiros pularam de suas poltronas. Duas vezes a mãe levou um safanão na cabeça da moça que estava atrás lutando pra alcançar a sua mala. 

No outro dia, almoçando num restaurante, fiquei observando uma mulher ocidental sair do restaurante, pegar a sua moto e entrar no trânsito local. A moça já saiu irritada pois a garçonete não aparecia com a sua conta. Depois chegou uma pedestre que resolveu passar atrás da sua moto bem na hora em que ela estava saindo. E ainda depois esbravejou com umas outras motos que entraram em sua frente, antes de atravessar o cruzamento e sair pelas ruas.
Mas, foi também aqui no Vietnã que no primeiro dia em que chegamos a Ho Chi Min uma senhora, do nada, resolveu nos ajudar a encontrar o nosso hotel, caminhando conosco até a entrada da propriedade. Foi aqui que em todos os hotéis que nos hospedamos (hotéis baratinhos, de diárias de U$30,00) fomos recebidas com sucos e frutas cortadinhas, e por pessoas gentis que faziam de tudo para nos agradar, e que também tivemos o melhor serviço em restaurantes e lojas. Foi na rua da tumultuada Hanoi, que um senhor fez sinal para que atravessássemos com ele, para a nossa salvação, e foi onde ganhamos mimos das vendedoras da loja que nos acharam simpáticas. Não houve uma só pessoa, independente do seu nível social, que não soubesse onde era o Brasil. E todas sabiam alguma coisa a mais. O país do futebol, do Neymar, e da escalação completa da Copa de 94. O país das mais lindas top models. O país de belas paisagens. O país que tem como língua oficial o português. Obrigada! E não é que tenham muitos turistas brasileiros por aqui, aliás não encontramos nenhum durante a nossa viagem. 
 
É, parece que ser bem-educado não se resume a bom comportamento nos aeroportos.

5) E por último, mas não menos importante, aprendi a tomar café com gelo e leite condensado!
Uma delícia refrescante para os dias de calor por aqui.

A mãe e meu café gelado

domingo, 17 de maio de 2015

A mesmice ou a coragem, qual será a nossa escolha?

Querida amiga,
 
Li novamente tudo o que você me escreveu, antes de te responder isso, para tentar te ajudar da melhor forma possível. E eis que a sua última pergunta está aqui martelando na minha cabeça: como você está se sentindo nessa sua jornada?
Se eu lhe contar que quando você me mandou as mensagens, eu estava com o celular na não, sentada em uma cadeira de aeroporto em Penang na Malásia, com a cabeça baixa, chorando baixinho e me sentindo a pessoa mais solitária do mundo, você acredita?
Não!!! Não pare de ler agora, e nem tente cortar os pulso depois de tanto drama. Sei, provavelmente te contar isso não é nada encorajador, mas essa é a mais pura verdade, e eu devo lhe falar: tem dias que são muito difíceis.
 
E sabe porque são difíceis? Pelo simples fato de eu estar enfrentando, e encarando coisas que talvez eu nunca tivesse que encarar se estivesse vivendo a minha vida acomodada.
 
Vou te contar outra verdade chocante! Apesar de estar fazendo uma viagem como essas e parecer uma menina corajosa diante dos olhos de muita gente, eu sou muito insegura. Sim, eu tenho muitas dúvidas sobre o meu comportamento, me sinto culpada por minhas escolhas, pelas minha atitudes, e muitas vezes sinto que não mereço ser feliz. Choro, me descabelo, perco a compostura.
 
Forte isso? Talvez. Mas tudo bem também, porque essa sou eu, cheia de defeitos, chorona e sensível, procurando ser uma pessoa melhor, procurando o meu lugar no mundo, tentando me libertar das minhas culpas e ser feliz. Pelo menos hoje, por mais sofrido que às vezes seja, por mais que tenha que deixar pra trás o meu passado, me desapegar de pessoas que amo, tenho a certeza que estou no caminho certo.
 
Antes de eu sair de São Paulo eu tinha uma vida boa, não posso reclamar. Com um bom trabalho, morando bem, com bons amigos, com boas perspectivas de carreira... mas aí, um dia meus "olhos abriram" (ui, que clichê!) e eu percebi o quanto essa vidinha acomodada e cheia de vícios estava me fazendo mal.
 
Eu demorei pra admitir que era hora de partir, de mudar, e assim como você, também me sentia "fugindo" das responsabilidades como uma criança rebelde. Sofri muito pra tomar a decisão. Chorei por uma semana seguida. E então um dia sentei, e escrevi meu plano de "fuga" detalhado. Coloquei no papel as razões que me faziam ir embora e porque eu me sentiria melhor com isso. Além de fazer um planejamento financeiro, e estabelecer metas de experiências que gostaria de ter durante a minha viagem, e que de alguma forma acrescentariam algo pra mim, e não pra minha carreira. Aliás, decidi que esse tempo serviria pra pensar em alternativas pra minha carreira, pois sabia que se nada desse certo, aquilo que eu fazia antes de pedir demissão eu continuaria sabendo fazer depois dessa viagem. Certo?
 
Acho que a parte mais difícil depois de tomada a decisão foi contar isso pros meus pais, e assumir a minha decisão para o resto do mundo. É claro que meus pais foram contra a ideia de ficar um ano sem trabalhar, de sair por aí atravessando fronteiras. Minha mãe ficou com medo, meu pai achou que eu devia focar no meu trabalho. E aí, a Juju (minha guru) me disse algo que me deu força pra esse momento:
- Primeiro se convença, tenha certeza do que você quer, que você terá força pra enfrentar julgamentos de quem quer que seja. 
E foi o que eu fiz. Eu estava determinada, eu queria mudar independente das consequências.
 
E se você quer saber, essa foi a parte mais difícil de tudo isso. Depois que eu sai do país tudo ficou mais fácil. A parte de viajar, dormir em hostel, passar perrengue de viagem, economizar grana, planejar a viagem, é a parte de longe, mais fácil. É muito fácil viajar sozinha pra onde for, e tenho certeza que você vai tirar de letra. Essa também vai ser a parte divertida. Conhecer gente nova, experimentar coisas novas, ter surpresas, ver lugares lindos, viver uma cultura nova, se desafiar e se surpreender.
 
A parte difícil talvez seja encontrar com uma nova Você que há muito estava escondida. Isso pode ser doloroso. Esteja preparada.
Queria poder dizer que fazer uma viagem assim será como a viagem da Julia Roberts (Comer Rezar e Amar) mas pelo menos pra mim não tem sido bem assim. A cada dia que passa tenho ido mais à fundo nos meus sentimentos, e mexer em tudo isso tem me deixado ainda mais confusa.
 
Não acho que largar tudo e viajar o mundo seja a solução de todos os problemas ou que seja a garantia de resposta das suas dúvidas. Muito pelo contrário, prepare-se pra ter mais dúvidas, e mais problemas sem solução. Mas eu não me arrependo de absolutamente nada ( e te digo que tenho conhecido muitas pessoas na mesma situação, e nunca ouvi ninguém arrependido). Na verdade nem consigo imaginar a minha vida de outra forma nesse momento. Estou fazendo aquilo que eu sempre quis.
 
Quanto as dificuldades que surgirem no caminho, pode ter certeza que todas te farão mais forte. Você vai aprender a lidar muito melhor com qualquer tipo de situação, vai ficar mais corajosa, e vai rir quando as pessoas postarem que estão com raiva do transito ou da chuva em São Paulo ou no Rio.
 
Mas prepare-se também pra repensar todas as suas verdades e seus planos de futuro. Algumas coisas não vão mais fazer sentido, e você pode ficar muito desapontada por perceber que durante toda a sua vida perseguiu coisas que hoje não servem pra você. E esteja preparada pra enfrentar isso sozinha. Porque são poucas as pessoas que tem a coragem de fazer isso, e são poucas as pessoas que irão te entender.
 
Bom, se você quer saber a minha opinião, eu te diria que você está num caminho sem volta. Se você chegou até aqui pensando nessa possibilidade não há nada mais o que possa fazer a não ser perseguir o seu desejo e fazer o que você realmente quer. Então tire coragem de onde quer que seja e vá em frente.
 
Sei que nesse momento você deve estar muito confusa, com muito medo de tomar uma decisão precipitada, com medo de se arrepender no futuro, com medo de as coisas darem errado, e eu entendo bem, eu também tive medo de tudo isso. 
 
Mas você tem certeza que quer correr o risco de olhar pra trás e arrepender-se do que você deixou de fazer por puro medo? Pense nisso.      
 
Beijos grandes e conte comigo.