quinta-feira, 10 de maio de 2018

Passado os três primeiros meses!

Eu assumo a responsabilidade de nunca ter buscado informações sobre maternidade e gravidez. A maternidade estava tão longe dos meus planos que eu acreditava não ter sentido nenhum "perder tempo" aprendendo sobre o tema.  Acho que por isso até uma antipatia por mulheres grávidas eu desenvolvi. Eu confesso que olhava para elas com um misto de pena e desgosto. Sempre achando-as desajeitadas e julgando a forma que se vestiam, se moviam, e até a forma que acariciavam suas barrigas. Ok, eu sei, fui uma péssima pessoa com esses julgamentos, e agora o Universo tá dando um jeito de me ensinar a lição. Acho que o principal aprendizado até o momento foi: "Marina você só pensa que é empática, falta muito para livrar-se de todos os julgamentos e preconceitos e sensibilizar-se com a realidade de outras pessoas". Ponto para o Universo, falta pra mim. Aceita, aprende e segue em frente!

Passado os três primeiros meses de turbilhão de emoções, de dilemas quanto a vida profissional, lugar para morar, de data para voltar ao Brasil, de contas e planos, de dores de estômago e nos seios, sono intenso e medo, muito medo do desconhecido, eu finalmente havia aterrizado os pés no chão. Decidimos, eu e o Marcus, a voltar pra Porto Alegre no final de Abril, com cinco meses de gravidez, e desde então o foco das nossas ações direcionou-se para dois temas: achar um médico para acompanhar o parto, e nos preparar para a chegada do bebê.

Ter um parto natural com respeito.
O primeiro médico que buscamos foi indicação de uma conhecida que teve gêmeos por parto normal. O médico obstetra dela apoiou e acompanhou o parto natural dos dois bebês. Ingenuamente achei que isso seria o suficiente para garantir o direito da minha escolha por um parto humanizado.
Conforme fui pesquisando, me informando, ouvindo outros relatos, buscando outros profissionais da área, percebi que o caminho para ter um parto natural, sem nenhum tipo de violência, e sem o risco de uma cesárea desnecessária seria bastante difícil.
O primeiro dado que me deparei em minhas pesquisas, foi o percentual de cesáreas realizadas no Brasil (o país com o maior índice de cesáreas no mundo). As cesáreas são 56% na totalidade dos nascimentos, e o número sobe para quase 90% em hospitais privados. A Organização Mundial de Saúde preconiza que apenas 10% de cesárias são necessárias por medida de segurança, para redução da morbidade neonatal e materna, ou seja, o restante (80%) são por comodidade médica ou da paciente. O número é chocante!
Fui buscar mais informação com as minhas amigas mães sobre seus partos, e acredito que elas seguem as estatísticas. A grande maioria fez cesárea, e os motivos são os mais variados, desde a idade da mãe até o tamanho do bebê, muitos deles totalmente questionáveis.
A verdade é que o sistema médico no Brasil não incentiva o parto natural. O valor pago para um médico fazer uma cesárea é muito mais vantajoso que o valor pago para um parto natural que pode durar horas. Por isso, a maioria dos médicos vai tentar achar uma justificativa para agendar aquela cesárea e voltar para seu consultório o mais rápido possível.
A maioria das mães, induzidas por seus médicos, não vão buscar informações sobre os riscos das cesáreas e nem sobre os infinitos benefícios que um parto natural terá para ela e para o seu bebê, e apenas seguirão a corrente, acabando em mesas de cirurgias.
E isso é só a ponta do iceberg. Uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência no prenatal ou durante o parto. A violência pode ser desde privação de comida durante o trabalho de parto até xingamentos e agressão física.
É nessas horas que percebo como os meus privilégios me colocam em uma posição de vantagem sobre muitas mulheres. Eu tenho acesso a informação e tenho a possibilidade de decidir pelo parto que eu julgar ideal. Mesmo assim o caminho para o parto natural não será fácil. A falta de respeito por nossas escolhas vem de todos os lados. Fim de semana passado, ao avisar para os médicos do centro de ecografias que eu não queria saber o sexo do bebê tive que escutar piadinhas bobas e ainda ficar com receio, até o último momento, que a minha vontade não seria respeitada. E isso não é nada comparado à tantas outras agressões que podem acontecer durante o prenatal e o parto, principalmente com mulheres de baixa renda.

Preparação para receber o bebê.
Acredito que me preparar para receber o bebê está muito mais relacionado com organizar nosso tempo (meu e do meu companheiro) para práticas de yoga, meditação, escolher e cozinhar nossa comida, do que comprar utensílios para o bebê. Parece que a cultura de consumo exige que o "enxoval"do bebê tenha um número x de produtos, e não tê-los pode evidenciar a péssima mãe que você será. Até eu, que tenho consciência disso, e tento evitar o consumo desnecessário, caio na armadilha de não ser uma "boa mãe"por não ter determinados produtos.
Decidimos que não vamos comprar carrinho, nem berço, nem um trilhão de roupinhas, sapatos e acessórios. Vamos começar com o mínimo necessário e aos poucos, dependendo da necessidade, vamos comprar, ou não, tais produtos.
Decidimos que vamos tentar usar fraldas de pano. Elas são muito melhores para o bebê, que não estará em constante contato com um monte de químicos de fraldas descartáveis, além de ser uma ajuda ao meio ambiente.
Decidimos que o bebê vai dormir no nosso quarto, num moisés, nos seus primeiros dias de vida. E depois? Bom, depois vamos deixar nossa intuição e nossa vivência com esse serzinho definir o que é melhor pra todos.

É claro que ainda existe muita insegurança, e muita falta de informação. Mas estou confiante que aos poucos a gente vai descobrindo qual é a melhor maneira de receber esse ser nas nossas vidas. Tenho certeza que ele vai me ensinar muito mais do que a minha prepotente sabedoria de listas de enxovais de bebê, ou de conselhos de vendedoras de lojas infantis.