domingo, 17 de maio de 2015

A mesmice ou a coragem, qual será a nossa escolha?

Querida amiga,
 
Li novamente tudo o que você me escreveu, antes de te responder isso, para tentar te ajudar da melhor forma possível. E eis que a sua última pergunta está aqui martelando na minha cabeça: como você está se sentindo nessa sua jornada?
Se eu lhe contar que quando você me mandou as mensagens, eu estava com o celular na não, sentada em uma cadeira de aeroporto em Penang na Malásia, com a cabeça baixa, chorando baixinho e me sentindo a pessoa mais solitária do mundo, você acredita?
Não!!! Não pare de ler agora, e nem tente cortar os pulso depois de tanto drama. Sei, provavelmente te contar isso não é nada encorajador, mas essa é a mais pura verdade, e eu devo lhe falar: tem dias que são muito difíceis.
 
E sabe porque são difíceis? Pelo simples fato de eu estar enfrentando, e encarando coisas que talvez eu nunca tivesse que encarar se estivesse vivendo a minha vida acomodada.
 
Vou te contar outra verdade chocante! Apesar de estar fazendo uma viagem como essas e parecer uma menina corajosa diante dos olhos de muita gente, eu sou muito insegura. Sim, eu tenho muitas dúvidas sobre o meu comportamento, me sinto culpada por minhas escolhas, pelas minha atitudes, e muitas vezes sinto que não mereço ser feliz. Choro, me descabelo, perco a compostura.
 
Forte isso? Talvez. Mas tudo bem também, porque essa sou eu, cheia de defeitos, chorona e sensível, procurando ser uma pessoa melhor, procurando o meu lugar no mundo, tentando me libertar das minhas culpas e ser feliz. Pelo menos hoje, por mais sofrido que às vezes seja, por mais que tenha que deixar pra trás o meu passado, me desapegar de pessoas que amo, tenho a certeza que estou no caminho certo.
 
Antes de eu sair de São Paulo eu tinha uma vida boa, não posso reclamar. Com um bom trabalho, morando bem, com bons amigos, com boas perspectivas de carreira... mas aí, um dia meus "olhos abriram" (ui, que clichê!) e eu percebi o quanto essa vidinha acomodada e cheia de vícios estava me fazendo mal.
 
Eu demorei pra admitir que era hora de partir, de mudar, e assim como você, também me sentia "fugindo" das responsabilidades como uma criança rebelde. Sofri muito pra tomar a decisão. Chorei por uma semana seguida. E então um dia sentei, e escrevi meu plano de "fuga" detalhado. Coloquei no papel as razões que me faziam ir embora e porque eu me sentiria melhor com isso. Além de fazer um planejamento financeiro, e estabelecer metas de experiências que gostaria de ter durante a minha viagem, e que de alguma forma acrescentariam algo pra mim, e não pra minha carreira. Aliás, decidi que esse tempo serviria pra pensar em alternativas pra minha carreira, pois sabia que se nada desse certo, aquilo que eu fazia antes de pedir demissão eu continuaria sabendo fazer depois dessa viagem. Certo?
 
Acho que a parte mais difícil depois de tomada a decisão foi contar isso pros meus pais, e assumir a minha decisão para o resto do mundo. É claro que meus pais foram contra a ideia de ficar um ano sem trabalhar, de sair por aí atravessando fronteiras. Minha mãe ficou com medo, meu pai achou que eu devia focar no meu trabalho. E aí, a Juju (minha guru) me disse algo que me deu força pra esse momento:
- Primeiro se convença, tenha certeza do que você quer, que você terá força pra enfrentar julgamentos de quem quer que seja. 
E foi o que eu fiz. Eu estava determinada, eu queria mudar independente das consequências.
 
E se você quer saber, essa foi a parte mais difícil de tudo isso. Depois que eu sai do país tudo ficou mais fácil. A parte de viajar, dormir em hostel, passar perrengue de viagem, economizar grana, planejar a viagem, é a parte de longe, mais fácil. É muito fácil viajar sozinha pra onde for, e tenho certeza que você vai tirar de letra. Essa também vai ser a parte divertida. Conhecer gente nova, experimentar coisas novas, ter surpresas, ver lugares lindos, viver uma cultura nova, se desafiar e se surpreender.
 
A parte difícil talvez seja encontrar com uma nova Você que há muito estava escondida. Isso pode ser doloroso. Esteja preparada.
Queria poder dizer que fazer uma viagem assim será como a viagem da Julia Roberts (Comer Rezar e Amar) mas pelo menos pra mim não tem sido bem assim. A cada dia que passa tenho ido mais à fundo nos meus sentimentos, e mexer em tudo isso tem me deixado ainda mais confusa.
 
Não acho que largar tudo e viajar o mundo seja a solução de todos os problemas ou que seja a garantia de resposta das suas dúvidas. Muito pelo contrário, prepare-se pra ter mais dúvidas, e mais problemas sem solução. Mas eu não me arrependo de absolutamente nada ( e te digo que tenho conhecido muitas pessoas na mesma situação, e nunca ouvi ninguém arrependido). Na verdade nem consigo imaginar a minha vida de outra forma nesse momento. Estou fazendo aquilo que eu sempre quis.
 
Quanto as dificuldades que surgirem no caminho, pode ter certeza que todas te farão mais forte. Você vai aprender a lidar muito melhor com qualquer tipo de situação, vai ficar mais corajosa, e vai rir quando as pessoas postarem que estão com raiva do transito ou da chuva em São Paulo ou no Rio.
 
Mas prepare-se também pra repensar todas as suas verdades e seus planos de futuro. Algumas coisas não vão mais fazer sentido, e você pode ficar muito desapontada por perceber que durante toda a sua vida perseguiu coisas que hoje não servem pra você. E esteja preparada pra enfrentar isso sozinha. Porque são poucas as pessoas que tem a coragem de fazer isso, e são poucas as pessoas que irão te entender.
 
Bom, se você quer saber a minha opinião, eu te diria que você está num caminho sem volta. Se você chegou até aqui pensando nessa possibilidade não há nada mais o que possa fazer a não ser perseguir o seu desejo e fazer o que você realmente quer. Então tire coragem de onde quer que seja e vá em frente.
 
Sei que nesse momento você deve estar muito confusa, com muito medo de tomar uma decisão precipitada, com medo de se arrepender no futuro, com medo de as coisas darem errado, e eu entendo bem, eu também tive medo de tudo isso. 
 
Mas você tem certeza que quer correr o risco de olhar pra trás e arrepender-se do que você deixou de fazer por puro medo? Pense nisso.      
 
Beijos grandes e conte comigo.