quarta-feira, 9 de março de 2016

Prefiro ser essa metamorfose ambulante!

Faz seis meses que voltei!
Me dei conta disso hoje, uma semana depois da data oficial, quando estava no ônibus, perdida em meus devaneios sobre a vida e as pessoas, e achei que eu precisava escrever e compartilhar sobre os meus sentimentos. Afinal, depois de ter pedido demissão de um emprego de seis anos e viajado por treze meses, meio ano após o regresso, parece uma boa marca. Tanta coisa mudou. Nunca imaginei, nem nos meus pensamentos mais estapafúrdios, que eu estaria aqui hoje.
Tudo começou há dois anos atrás, quando procurando um novo caminho para minha carreira, decidi fazer o curso da Artemísia. O que eu não sabia, é que na verdade, eu estava mergulhando nos mais profundos sentimentos, anseios e medos. Antes mesmo do fim do curso decidi que tudo tinha que mudar. Pedi demissão e decidi viajar.
Deixei para trás um apartamento mobiliado, roupas e sapatos, um trabalho, amigos e uma cidade. Foi muito difícil desapegar de tudo isso. Fui sozinha pro aeroporto, e viajei por 13 meses, por mais de 30 países, apenas com uma mochila nas costas.
Lembro perfeitamente do momento em que fechei a porta do meu apartamento em São Paulo. Sentia um misto de medo, insegurança, curiosidade e felicidade. Chorei no caminho do aeroporto. E lembro também da minha última semana em Barcelona, antes de voltar de vez para o Brasil, de novo com muito medo, insegurança, tristeza e ansiedade.
Olhando pra trás, e comparando com a minha vida em São Paulo, vejo que muito está diferente. Pela primeira vez na vida estou morando sozinha. Desde que sai da casa da minha mãe, sempre dividi apartamento com outras pessoas e essa é a primeira vez que a casa é só minha. Não foi uma decisão consciente, simplesmente aconteceu, e ainda estou me adaptando à essa mudança. Tenho vizinhos histéricos, que vivem brigando, e não tenho mais ninguém pra dividir uma garrafa de vinho e desabafar sobre a vida quando chego em casa à noite.
Desde o início do ano estou recebendo hóspedes pelo Couchsurfing. É a maneira que eu arranjei de continuar viajando sem sair do lugar. E além de tudo, minha casa não fica tão vazia, e eventualmente ainda tenho companhia para um copo de vinho.
Não uso mais sapato de salto nem faço a unha, toda semana, no salão. Às vezes acho, que muitas pessoas do meu antigo trabalho, se assustariam ao me ver indo trabalhar de All Star e camiseta.
Vou para o trabalho de bicicleta, sempre que dá. São 30kms diários que me enchem de felicidade. Fujo da academia, que jurei nunca mais colocar os pés, e ainda fujo do trânsito caótico de fim de tarde.
Estou reaprendendo a viver perto dos meus pais. Há sete anos que não sabia como era a rotina de quem têm os pais por perto. É um misto de entender meu papel como filha, continuar preservando o meu espaço, desfrutar do convívio e não tornar nada uma obrigação. Acho que tem sido uma das partes mais desafiadoras, por incrível que pareça.
Estou vivendo com 1/3 do salário de quando vivia em São Paulo. É claro que o custo de vida em Porto Alegre é menor, e viver sem pagar aluguel ajuda muito, mas acho que o principal é a mudança de pensamento. Tenho comprado menos! É um modo de vida difícil de se preservar quando inserida novamente numa “sociedade consumidora”, mas tenho tentado ao máximo não comprar nada que não preciso.
Não faço mais planos de longo prazo. Por mais que eu tente, não consigo vislumbrar um horizonte maior do que seis meses. Um pouquinho de cada vez, um dia depois do outro, e assim vou levando.
Estou trabalhando como Gerente de Projetos, numa empresa de TI engajada em justiça social. E acho que essa é a principal mudança. Não só pelo fato de ser um cargo novo em uma nova área, mas por ser mais uma etapa de autoconhecimento e mudança que se inicia. Estou aprendendo que sou capaz! Que há um mundo ainda para ser explorado, que há muita coisa pra aprender com outras pessoas, com a tecnologia e com o mundo. Confesso que fiquei em dúvida quando essa chance apareceu na minha vida, mas hoje tenho certeza que foi mais uma dessas surpresas que o Universo, mais sábio do que eu, escolheu por mim.
Muita coisa continua igual também! Continuo gostando de Malu Magalhães, falando DE tarde, gostando de abraços e beijos, rindo à toa, sonhando com viagens, sofrendo com saudades e vivendo intensamente (talvez um pouquinho mais, e com mais coragem).
Mas nem tudo são rosas, e ainda sofro com o processo de adaptação. Sinto muuuuuuuuita falta dos amigos que deixei pra trás e que perdi durante a trajetória de mudança (foram muitos). Sinto falta da “falta de rotina”, das viagens constantes, da cidade de 12 milhões de habitantes, onde eu era só mais uma, onde havia um mar de opções de entretenimento, onde as pessoas eram mais amigáveis e menos desconfiadas.

Às vezes me sinto como um peixe fora d’água. Não acho que faço parte desse mundo, mas ainda não sei bem a que mundo pertenço. Estou tentando descobrir, aos poucos, continuando nas minhas tentativas, na minha eterna metamorfose ambulante e fugindo daquela velha opinião formada sobre tudo.
Há dois anos atrás, no último dia do curso.
No final de semana passado, dois anos depois. Continuo rindo à toa.