terça-feira, 22 de novembro de 2016

Sobre o amor - parte II

Nunca esqueço de uma conversa despretenciosa sobre o amor, que tive há muito tempo atrás com um colega de trabalho. Eu tinha terminado um relacionamento de cinco anos e estava arrasada. No meio do papo ele pergunta:
- Mas você realmente amava esse homem?
- Sim. Acho que sim. Quer dizer... como posso ter certeza?
Ele respondeu:
- Se você amasse, voce simplesmente saberia.
Soou meio arrogante, como quem já havia encontrado o amor verdadeiro, e que não tinha mais tempo a perder com essas questões mundanas (ele se separou algum tempo depois, detalhe complementar).
Fiquei com essa dúvida na cabeça por anos, e ainda penso se um dia vou ter essa certeza, de que já experimentei o amor pleno, por mim mesma e não através do outro.
Se eu amei? Sim, eu amei intensamente aquele menino e tantos outros que vieram depois.
Amei com todo o meu corpo, com o meu coração e com a minha mente.
Quis decorar as feições do seu rosto, as rugas dos seus olhos, a cor do seu cabelo e da sua pele. Quis que aquele momento em seus braços nunca acabasse. Respirei fundo pra sentir o seu cheiro. Quis sentir a sua pele, e estar tão perto, junto, como se eu fosse parte do seu corpo.
Me preocupei com seus problemas, com suas dores, com a sua saúde, com o seu jantar. Quis lhe dar tudo que eu tinha de melhor. O meu melhor sorriso, o meu melhor carinho, a minha melhor história, o meu melhor conselho.
Ri alto das suas piadas, topei os planos mais bobos, e disse muito mais sim do que não. Fui sincera e honesta.
Compartilhei segredos e desejos. Compartilhei ideias, opiniões, e a minha sobremesa.
Distribui abraços, beijos, cafuné e carinhos o tempo todo, em qualquer lugar.
Comemorei suas vitórias, e fiquei muito feliz quando ele estava feliz. E chorei, quando vi que não podia ajudar, quando a minha presença não podia aliviar a sua dor. Torci por sua felicidade, mesmo que essa fosse longe de mim. Mentalizei muita energia positiva nos seus piores momentos.
Me entreguei, de corpo e alma.
Fiz planos para o futuro, sonhei e desejei coisas bobas, pra nós dois, felizes pra sempre. Como se houvesse pra sempre.

Se isso é amar plenamente, eu não tenho certeza. Eu amei tudo o que eu podia e absorvi tudo o que de melhor existia entre nós dois.
Talvez eu ainda não tenha aprendido amar, talvez o amor seja algo muito mais simples, talvez o amor esteja no momento, talvez seja pra vida inteira, talvez não seja pra todos. Não sei bem. A única coisa que sei é que não quero deixar de amar intensamente, do jeito que for, do jeito que eu sei, sem economia, sem restrições, perdoando e aprendendo sempre, corrigindo os erros, recomeçando, mais uma vez.

domingo, 23 de outubro de 2016

Sobre o amor

Ontem à noite, com uma taça de vinho na mão, aninhada em meus travesseiros, antes de encarar mais alguns episódios de mais uma temporada no Netflix, resolvi assistir à um TED Talk sugerida por um dos meus colegas de trabalho, "The power of Vulnerability".

Uma excelente ideia para um sábado à noite, depois de um dia cheio de emoções, de preocupações com o futuro, com o trabalho e com a vida. Sim, eu estava extremamente vulnerável e acredito que a melhor opção seria assistir a um filme de ação, com perseguições de carro em alta velocidade, mas decidi, em sã consciência, assistir ao vídeo intitulado O poder da Vulnerabilidade.

O vídeo em questão, iniciava falando sobre conexões humanas. Sobre a habilidade do indivíduo empatizar com outros, de amar, de ter coragem de viver a vida com o coração. A oradora concluía dizendo que pessoas que aceitam a vulnerabilidade, e aceitam não ter controle das situações, vivem suas vidas de forma mais plena. Bom, isso é um resumo simplista sob o meu ponto de vista. Mas acontece que depois disso parei para refletir ainda mais sobre a minha própria vida.

Voltando um pouco no tempo, semana passada participei de um evento da empresa em que trabalho, em Florianópolis. Foi um fim de semana intenso, cheio de acontecimentos. Já na primeira noite no hotel tive uma "crise de pânico". Foi assim que eu apelidei esse momento em que eu perco o controle de tudo, das minhas emoções e reações, do meu corpo e até da minha respiração. Foi um momento que eu estive totalmente vulnerável, morrendo de vergonha, querendo entrar num buraco e aparecer no Japão. Passada a situação, no outro dia pela manhã, consegui admitir e explicar com palavras a minha fraqueza. Foi a primeira vez na vida que consegui falar disso com outra pessoa, e admitir o problema.

Vai entender a vida e o ser humano, mas acho que esse momento de vulnerabilidade extrema, e de "aceitação" de quem eu sou, foi super importante para todo o resto que sucedeu-se. E foi participando das conversas com pessoas tão parecidas comigo em muitos aspectos, e tão diferentes em outros, que eu fui estabelecendo conexões, e ideias foram se juntando, para no fim, depois de muitos aprendizados, concluir três fatos sobre mim:

  1. Eu preciso de momentos para discutir ideias. Eu sou idealizadora, eu sou sonhadora e sempre acho que é possível fazer diferente. Então, eu preciso de momentos que fujam do imediato, do dia-a-dia de responder emails e assistir a vídeos no Youtube. Eu preciso disso pra entender o real impacto das minhas ações, que estou fazendo algo maior e que vai muito além das oito horas diárias de trabalho.
  2. Eu gosto de resolver questões difíceis. E quando não há nenhum problema para ser resolvido eu me desinteresso. Eu estou sempre a procura de algo desafiador, e por isso que eu sou tão questionadora, que eu não aceito o imposto, que eu abomino o que é igual, o que é padrão. Não que resolver problemas traga felicidade, mas não resolve-los ou aceitá-los, é que me deixa infeliz!
  3. E eu descobri, que o que mais me fascina são as pessoas. Mais que viagens e lugares distantes, pessoas me despertam a curiosidade, me envolvem, me tiram do sério e me irritam. As pessoas não são lógicas, não são previsíveis. E é pelas conexões com as pessoas que acredito que a vida vale a pena. É me entregando de corpo e alma, sem medo e sem vergonha, que eu aprendo, que eu troco, evoluo, e me torno uma pessoa melhor. "Sem o amor eu nada seria".

Voltando ao vídeo da noite passada, eu acho que estou no caminho para entender e aceitar as minhas vulnerabilidades (e agora compartilhando elas aqui). Eu entendi que para mim é impossível amar e ser feliz sem ser vulnerável, sem me entregar, sem mostrar minhas fraquezas. Eu estou tentando viver de verdade, com coragem, mais perto do coração, nutrindo as conexões com as pessoas, não concordando com o imposto, fugindo das aparências, aceitando quem eu sou e que eu mereço, lutando pelos meus sonhos no mundo real.

Vejo o amor no horizonte!

quarta-feira, 9 de março de 2016

Prefiro ser essa metamorfose ambulante!

Faz seis meses que voltei!
Me dei conta disso hoje, uma semana depois da data oficial, quando estava no ônibus, perdida em meus devaneios sobre a vida e as pessoas, e achei que eu precisava escrever e compartilhar sobre os meus sentimentos. Afinal, depois de ter pedido demissão de um emprego de seis anos e viajado por treze meses, meio ano após o regresso, parece uma boa marca. Tanta coisa mudou. Nunca imaginei, nem nos meus pensamentos mais estapafúrdios, que eu estaria aqui hoje.
Tudo começou há dois anos atrás, quando procurando um novo caminho para minha carreira, decidi fazer o curso da Artemísia. O que eu não sabia, é que na verdade, eu estava mergulhando nos mais profundos sentimentos, anseios e medos. Antes mesmo do fim do curso decidi que tudo tinha que mudar. Pedi demissão e decidi viajar.
Deixei para trás um apartamento mobiliado, roupas e sapatos, um trabalho, amigos e uma cidade. Foi muito difícil desapegar de tudo isso. Fui sozinha pro aeroporto, e viajei por 13 meses, por mais de 30 países, apenas com uma mochila nas costas.
Lembro perfeitamente do momento em que fechei a porta do meu apartamento em São Paulo. Sentia um misto de medo, insegurança, curiosidade e felicidade. Chorei no caminho do aeroporto. E lembro também da minha última semana em Barcelona, antes de voltar de vez para o Brasil, de novo com muito medo, insegurança, tristeza e ansiedade.
Olhando pra trás, e comparando com a minha vida em São Paulo, vejo que muito está diferente. Pela primeira vez na vida estou morando sozinha. Desde que sai da casa da minha mãe, sempre dividi apartamento com outras pessoas e essa é a primeira vez que a casa é só minha. Não foi uma decisão consciente, simplesmente aconteceu, e ainda estou me adaptando à essa mudança. Tenho vizinhos histéricos, que vivem brigando, e não tenho mais ninguém pra dividir uma garrafa de vinho e desabafar sobre a vida quando chego em casa à noite.
Desde o início do ano estou recebendo hóspedes pelo Couchsurfing. É a maneira que eu arranjei de continuar viajando sem sair do lugar. E além de tudo, minha casa não fica tão vazia, e eventualmente ainda tenho companhia para um copo de vinho.
Não uso mais sapato de salto nem faço a unha, toda semana, no salão. Às vezes acho, que muitas pessoas do meu antigo trabalho, se assustariam ao me ver indo trabalhar de All Star e camiseta.
Vou para o trabalho de bicicleta, sempre que dá. São 30kms diários que me enchem de felicidade. Fujo da academia, que jurei nunca mais colocar os pés, e ainda fujo do trânsito caótico de fim de tarde.
Estou reaprendendo a viver perto dos meus pais. Há sete anos que não sabia como era a rotina de quem têm os pais por perto. É um misto de entender meu papel como filha, continuar preservando o meu espaço, desfrutar do convívio e não tornar nada uma obrigação. Acho que tem sido uma das partes mais desafiadoras, por incrível que pareça.
Estou vivendo com 1/3 do salário de quando vivia em São Paulo. É claro que o custo de vida em Porto Alegre é menor, e viver sem pagar aluguel ajuda muito, mas acho que o principal é a mudança de pensamento. Tenho comprado menos! É um modo de vida difícil de se preservar quando inserida novamente numa “sociedade consumidora”, mas tenho tentado ao máximo não comprar nada que não preciso.
Não faço mais planos de longo prazo. Por mais que eu tente, não consigo vislumbrar um horizonte maior do que seis meses. Um pouquinho de cada vez, um dia depois do outro, e assim vou levando.
Estou trabalhando como Gerente de Projetos, numa empresa de TI engajada em justiça social. E acho que essa é a principal mudança. Não só pelo fato de ser um cargo novo em uma nova área, mas por ser mais uma etapa de autoconhecimento e mudança que se inicia. Estou aprendendo que sou capaz! Que há um mundo ainda para ser explorado, que há muita coisa pra aprender com outras pessoas, com a tecnologia e com o mundo. Confesso que fiquei em dúvida quando essa chance apareceu na minha vida, mas hoje tenho certeza que foi mais uma dessas surpresas que o Universo, mais sábio do que eu, escolheu por mim.
Muita coisa continua igual também! Continuo gostando de Malu Magalhães, falando DE tarde, gostando de abraços e beijos, rindo à toa, sonhando com viagens, sofrendo com saudades e vivendo intensamente (talvez um pouquinho mais, e com mais coragem).
Mas nem tudo são rosas, e ainda sofro com o processo de adaptação. Sinto muuuuuuuuita falta dos amigos que deixei pra trás e que perdi durante a trajetória de mudança (foram muitos). Sinto falta da “falta de rotina”, das viagens constantes, da cidade de 12 milhões de habitantes, onde eu era só mais uma, onde havia um mar de opções de entretenimento, onde as pessoas eram mais amigáveis e menos desconfiadas.

Às vezes me sinto como um peixe fora d’água. Não acho que faço parte desse mundo, mas ainda não sei bem a que mundo pertenço. Estou tentando descobrir, aos poucos, continuando nas minhas tentativas, na minha eterna metamorfose ambulante e fugindo daquela velha opinião formada sobre tudo.
Há dois anos atrás, no último dia do curso.
No final de semana passado, dois anos depois. Continuo rindo à toa.