sábado, 27 de setembro de 2014

Qual é o seu sonho?

Qual é o seu grande sonho? O meu? Sim, o que você sonha um dia realizar, aquele seu grande sonho da juventude, qual é? É, mmmm, bom, eu acho que, mmmm, é...

A verdade é que odeio essa pergunta, sempre odiei, pelo simples fato de não saber respondê-la. Poderia responder que é viajar, mas isso não é um sonho, é simplesmente algo que gosto muito de fazer, assim como gosto de comer e beber. Poderia dizer que é dar a volta ao mundo, mas isso é algo que decidi fazer há pouco tempo atrás. Ser astronauta, trabalhar no Green Peace, morar em Nova York, casar e ter filhos, abrir um negócio, nada disso...

E mesmo não gostando dessa pergunta, uns dias atrás recebi um vídeo sobre "como alcançar seus sonhos", ou algo assim, e resolvi assisti-lo. Era um vídeo meio chato, de um cara falando horas sobre como transformar seu sonhos em negócio, mas aí ele falou certas coisas que na hora não dei muita atenção, mas que ficaram martelando na minha cabeça por alguns dias.

Ele começava dizendo que muitas vezes os sonhos surgem através de pessoas que conhecemos, ou de pessoas que nos inspiram. Você conhece aquela pessoa e pensa,  "poxa, queria ter a vida igual à dela por tais e tais motivos". E sem racionalizar muito passa a fazer coisas como aquela pessoa, ou então, surgem pensamentos como,  "o que essa pessoa faria se estivesse na minha situação"? Comigo isso aconteceu mais de uma vez, acho que tive a sorte de conhecer pessoas realmente inspiradoras.

Mas isso não é o suficiente, certo? Tem que haver algo mais, algo que é só seu e de ninguém mais. E aí o vídeo chato deu a resposta que eu precisava. É possível ter muitos sonhos, e envolver-se com muitas coisas, defender diversas causas ao longo da vida. Plim! Fez-se a luz! É isso! Eu não tenho um sonho, eu tenho vários, exatamente como os meus sonhos reais, aqueles que acontecem durante as horas de sono. Começo sonhando que estou numa mesa de jantar com amigos e termino sonhando que estou voando no meu unicórnio. Eu, às vezes, estou tão envolvida com a causa que acho que vou mudar o mundo, que vou me unir a um grupo de pessoas e promover uma revolução! E às vezes, meu grande sonho é somente chegar num lugar com chuveiro quente e uma cama para descansar depois de um longo dia.

Parei de me preocupar! O meu grande sonho agora é viver os meus dias da melhor forma possível, com amor e bondade, valorizando as pequenas conquistas e deixando as grandes pra depois. Uma hora elas surgem, sejam elas quais for.

domingo, 21 de setembro de 2014

O mais importante é o decidir!

Descobri porque tenho horror à "rotina"! O problema não é fazer o mesmo todos os dias, o problema é a falta de desafios quando não há escolhas.

Isso mesmo, se você faz sempre a mesma coisa, você não escolhe, você não pensa, você simplesmente repete uma escolha que você fez há algum tempo atrás. Mas quando não há rotina, quando seus dias podem ser qualquer coisa, você tem que decidir o tempo todo.

Eu acordo pela manhã e decido se levanto ou demoro mais um pouco na cama, se tomo café da manhã na padaria ou nem como nada, se caminho pela vizinhança ou pego um metro, se fico 20 minutos ou 2 horas naquele lugar. Isso quando não há decisões maiores para tomar, como que destino escolher para a próxima parada, onde ficar, quanto tempo...

Acho que só agora me dei conta disso. Só agora, depois de comprar uma passagem e pensar: mas teria sido melhor eu ter ido para a outra direção né?! Ou depois de resolver ir embora da cidade e ser tomada por uma sensação de "bem que eu poderia ter ficado um pouco mais, e ter conhecido aquele lugar que parecia tão interessante". Bom, o que parece é que sempre que decidimos algo, deixamos outro "algo" para trás. Por isso que na vida o mais importante é o decidir, já dizia Cora Coralina.

Eu sempre fui muito racional nas minhas escolhas e sempre tentei planilhar os prós e contras de cada decisão, e planejar bem os próximos passos, mas há algum tempo que venho tentando ser mais intuitiva e menos racional. Achava que estava me saindo bem nessa tentativa até essa viagem. As últimas decisões e os "ses" que surgiram fizeram eu perceber que ainda sou muito insegura. Estou aprendendo. Já descobri que apesar de toda insegurança e ansiedade que surge a cada decisão é disso o que eu gosto, é isso que me faz sentir viva, e não importa muito se a escolha foi a mais adequada, o que importa é a imprevisibilidade, é o novo, o desconhecido, a falta de rotina, é viver aquilo que eu mesma escolhi e arcar com todas as consequências, sejam elas boas ou ruins. E sei que quando retomar a minha vida de trabalho voltarei a ter uma rotina, mas também sei que poderei decidir por ter uma vida com mais escolhas e menos repetições, do jeitinho que eu gosto.

Hoje resolvi comer galletas de chocolate com sorvete de creme, mesmo sabendo que tenho que maneirar nas calorias pra não virar uma bola,  e decidi ir no cinema mesmo tendo uma cidade pra desvendar e pouco tempo por aqui. Decisões bobas, mas no fim não deixam de ser escolhas, escolhas nesse mundo repleto de opções. Que bom! 

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A cidade das Arepas, Bogotá.

Eram como pequenos discos brancos, dourando em cima de uma grelha quente, com um cheiro delicioso e uma ótima aparência. Havia várias pessoas na volta esperando por sua porção. Assim que passei pela barraca, na rua próxima ao nosso apartamento alugado, fiquei curiosa. Não sabia o que era, mas a minha “alma gorda” já suplicou por um pedaço. Mais tarde descobri que eram Arepas, uma massa de canjica (de milho), com queijo e manteiga. Uma delícia! Viciei, e comi uma dessas quase todos os dias em que estive em Bogotá.

Até agora a culinária Colombiana foi a que mais me agradou. São tantas coisas diferentes e deliciosas que é difícil eleger o prato preferido. Eu e a mãe fomos em alguns bons restaurantes e tivemos a oportunidade de experimentar alguns pratos tradicionais, como o Tamale, a Bandeja Paisa, a sopa Ajiaco, e outras delícias de rua que não lembro mais o nome. Talvez os quitutes colombianos sejam o que há de mais interessante na cidade.

Bogotá é uma cidade grande, com mais de 6 milhões de habitantes espalhados em prédios baixos e casas. O trânsito é pior que o de São Paulo, se é que isso é possível. Em nosso primeiro dia resolvemos voltar da parte norte da cidade para o nosso apartamento, de ônibus, às seis horas da tarde. Lembrei de um vídeo que assisti, do metrô no Japão (eu acho) em que havia policiais empurrando os passageiros para dentro dos vagões. Era mais ou menos isso! O sistema de ônibus da cidade é como o de Curitiba, em plataformas, que para acesso é necessário pagar a passagem antecipadamente e passar por uma roleta. As pessoas nas plataformas, amontoam-se esperando por seu ônibus, e quando esse chega apertam-se tanto que na hora de fechar as portas parte das roupas e mochilas ficam para o lado de fora. Que experiência emocionante!

A cidade não é bonita mas tem partes interessantes. No centro, os Rolos (quem nasce em Bogotá) andam apressados, e de vez em quando param para fazer ligações em celulares emprestados. Isso mesmo! Espalhados pela cidade pessoas carregam um a plaquinha com o valor do minuto cobrado, e qualquer um pode chegar, pagar, e usar o telefone para fazer ligações. Um substituto do bom e velho orelhão, que pelo jeito sumiu por aqui.

Próximo ao centro há um teleférico que sobe uma montanha, o Montesserate, e lá de cima a vista é fantástica. Em uma manhã nublada fizemos um tour pelas ruas da Candelária, um bairro histórico também no centro da cidade, para conhecer a arte de rua, de grafiteiros. Foi o máximo! Fomos também até uma parte da cidade mais chique, com lojas e restaurantes, próximo ao Centro Comercial Andino. Visitamos o Museu do Ouro e o Museu do Botero. E fizemos um tour até a Lagoa Guaravita e também a Catedral de Sal.

A Catedral de Sal foi realmente surpreendente. Achei que chegaria lá e veria uma igreja construída com blocos de sal, com um altar com uma cruz também de sal, e na saída haveriam vários vendedores ambulantes vendendo terços de sal. Por isso que digo, às vezes não saber é melhor do que ler qualquer resumo no Lonely Planet. A Catedral foi construída em uma antiga mina de sal, de mais de 500 anos e ativa até hoje. Para chegar até ela é preciso andar por um longo túnel, e descer a mais de 120 metros da superfície. É incrível, são enormes salões que abrigam as naves da Catedral e que fazem dessa visita uma experiência única.

Deixamos Bogotá em uma sexta pela manhã para voar até Cartagena. A mãe veio passar dez dias de suas férias comigo e resolvemos dividi-los entre Bogotá e Cartagena. Acho que os dias que passamos por lá foram suficientes para ver e sentir um pouco dessa cidade e da cultura Colombiana. Gostei, ainda mais por estar em tão boa companhia!


Os discos brancos
 
As chamadas de celular
 
O Túnel para a Catedral de Sal

domingo, 7 de setembro de 2014

Hay Paro! – Arequipa, Peru.

Eu tinha três dias em Cusco antes do embarque para a Colômbia, e já tinha rodado bastante pela cidade e seus arredores. Então decidi conhecer Arequipa, uma cidade ao sul do Peru, da qual havia recebido boas indicações.
 
Comprei uma passagem para quinta à noite, saindo de Cusco as 20:30 e chegando à Arequipa no outro dia pela manhã. Só depois que comprei as passagens é que me dei conta que dez horas de viagem de ida, mais dez horas de volta, não seriam pouca coisa. Na hora só pensei que poderia viajar durante a noite e economizar na hospedagem, mas não realizei que vinte horas eram suficientes para ir de São Paulo à Caxias do Sul!
 
Bom, já tinha comprado a passagem, agora só restava relaxar antes da partida. Eu estava num hostel com a Vanessa, minha nova amiga brasileira que conheci na trilha Salkantay, ela também pegaria um ônibus para Puno, e então decidimos que beberíamos a tarde toda para ocupar o tempo e facilitar as horas de sono durante a viagem.
 
Cheguei na rodoviária a pé, correndo, pois queria economizar com o táxi, mas por um pequeno “erro de cálculo” levei mais tempo do que eu imaginava. Meio tonta no meio de tanta gente, levei uns dez minutos para achar o guichê da companhia de ônibus onde eu deveria trocar o bilhete, e mais outros dez minutos em uma outra fila para pagar uma taxa de uso do terminal (sim, tem que pagar uma taxa para estar na rodoviária), e depois mais um bom tempo tentando entender de onde saía o ônibus. Ao contrário do Brasil, o box de onde sai o ônibus não está marcado na passagem, é preciso procurar por todos os cantos até encontra-lo. Meio na sorte mesmo. Enquanto eu estava lá, atordoada no meio de tanta gente gritando, me atropelando com suas malas, encontrei por acaso um outro amigo, que também conheci na trilha, e que também estava na batalha para encontrar seu ônibus. Conversamos um pouco, rimos mais um pouco, e cada um seguiu seu rumo. O ônibus saiu atrasado quase meia hora.
 
No ônibus passou um filme (muito bom aliás), serviram um lanchinho e tinha um cobertor e também calefação. Ótimo, não podia ser melhor. Na verdade poderia, se não fossem as inúmeras curvas da estrada, e buracos, que me sacolejaram a noite toda até chegar lá. As sete da manhã já estava na praça principal, sentada num restaurante agradável, tomando um café, esperando para visitar o Monastério Santa Catalina.  A cidade é realmente linda, está emoldurada pelos três vulcões e tem muitas construções antigas bem conservadas que deixam a cidade um charme. Caminhei, caminhei, caminhei, num dia lindo de sol, encantada com sua beleza, com suas praças e sua arquitetura. Visitei o Monastério, que achei lindo. Fiquei muito impressionada com o tamanho do edifício, com as cores, os espaços. Gastei algumas horas por lá, curtindo cada canto antes dos turistas chegarem em seus grupos.
 
Depois da visita ao Monastério resolvi procurar um restaurante para almoçar. Eis que caminhando pelas ruas da cidade escuto chamarem meu nome. Nem me dei o trabalho de olhar, quem estaria me chamando nessa cidade tão longe de tudo? Chamaram de novo, resolvi olhar. Era a Joane e o Andy, o casal de amigos Ingleses que conheci no Salar do Uyuni e que estavam passando uns dias pela cidade! Ai, como são boas essas coincidências de viagem!
 
Visitamos o mercado e almoçamos por lá. (Estou ficando boa nesse negócio de comer em mercados e em bancas de comidas de rua.) Decidimos passar a tarde em um terraço com uma linda vista para a cidade, bebendo alguns drinks e esperando o pôr do sol. Ótima tarde em ótima companhia.
 
Eram sete horas da noite e tive que deixá-los para enfrentar a segunda parte da saga “viagem de ônibus”. Viajar de ônibus em estradas locais é uma experiência que deveria fazer parte de qualquer viagem em um novo país. É pura cultura!  Cheguei na rodoviária e levei algum tempo para encontrar o balcão da empresa de ônibus. Entrei na fila e esperei, e esperei. Estavam com um “problema no sistema” e a mocinha do balcão não conseguia fazer outra coisa a não ser esbravejar e socar o mouse na mesa. As pessoas começaram a ficar agitadas, preocupadas que não teriam tempo para comprar seu ticket. Depois de brigar com uns dois que tentaram passar na minha frente, consegui estender o braço com o meu papel e fazer a menininha trocar por um boleto preenchido a mão, já que o computador havia travado. Bom, sai correndo para pagar a taxa de uso do terminal, e depois para achar o ônibus no meio da multidão.
 
Ufa! Embarcada, e com a sorte de não ter ninguém do meu lado dessa vez, me acomodei na cadeira e logo dormi. No meio da noite o ônibus para (já vi essa história antes) e a senhora ao lado grita: Hay um paro! Um “paro”? Penso eu - O que seria isso? E ali ficamos parados por algum tempo até o motorista subir correndo as escadas e pedir pra todos fecharem as cortinas. Ai, ai, isso não tá certo!
 
Depois de quase uma hora parados começamos a movimentarmos novamente, passamos pela primeira barreira de pedras e fogueiras na beira da estrada. Eram manifestantes, trabalhadores, que haviam fechado a estrada em protesto. Havíamos passado pela primeira barreira, mas haviam mais duas em seguida. A segunda não levou muito tempo para passar, mas na terceira paramos e ficamos. Já estava amanhecendo quando o batalhão da polícia chegou no local, eram inúmeros policias paramentados. Não sabia se ficava aliviada ou se passava a ter medo. Os policias passaram para a negociação com os grevistas, e nós ficamos. Pareceu uma eternidade. Só ficava pensando em como avisaria meus pais que estava lá parada, que perderia o voo para a Colômbia, mas que estava tudo bem. Estava no meio do nada em algum lugar do Peru.
A senhora ao lado tinha informações privilegiadas e não saia do telefone, ela deve ter recebido mais de dez ligações enquanto estávamos parados ali. Descobri que ela também chamava-se Marina enquanto ela avisava à todos no ônibus que o sobrinho dela estava na manifestação, e que no máximo em meia hora nos deixariam passar. Meia hora que pareceu dois dias. Mas passamos! Depois de mais algumas horas estávamos em Cusco. Cheguei no hostel acabada, cansada, só queria tomar um banho e descansar um pouco.
 
Realmente, tudo isso foi muito mais divertido e emocionante do que se tivesse ficado as últimas noites em Cusco. Mais uma aventura para contar! Conheci a linda cidade de Arequipa, adquiri mais algumas palavras para meu vasto vocabulário espanhol, conheci a Marina, encontrei amigos, fiquei um pouco apreensiva, cansada, e terminei assim meus dias pelo país. Agora parto para a segunda parte da viagem, na Colômbia. Vamos ver que outras histórias me esperam por lá!


O céu de Arequipa

O Monastério




quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Salkantay, a trilha da montanha nevada.

Escrever sobre a experiência da trilha Salkantay não é tarefa fácil, pois acredito que cada pessoa tem uma experiência única, e o que escrevo aqui é totalmente pessoal.

Nesse momento estou na cama de um hostel barato, em Águas Calientes, com febre depois de ter passado muito mal ainda pela manhã. Tenho dor na batata da perna, nas coxas, nos braços, e o dedão do meu pé esquerdo, que havia inflamado antes da trilha, agora está pior. O outro pé tem uma pequena bolha e também um corte. Isso tudo é uma resposta do meu corpo, que coitado, não deve ter entendido até agora o que aconteceu. Foram 4 dias, 80 kms, muito frio, às vezes muito sol, e uma exigência do meu corpo além de seu limite. Sim,  porque se houvesse respeitado meu limite ainda estaria parada na primeira subida, lá na primeira cidade da trilha. Tudo bem, acho que agora, após ter atingido o objetivo, ele (meu corpo) está no direito de reclamar um pouquinho. Amanhã já estarei melhor.

Durante a caminhada foram muitas reações, desde raiva por ter inventado de fazer a trilha, até choro por ter superado uma parte do trajeto. Acontece que eu sou teimosa, e decidi que faria a trilha, na minha primeira visita à Machu Pichu, há um ano e meio atrás, e agora precisava provar que conseguia fazer isso. Era uma aposta minha comigo mesma, do tipo: "vai Marina, prova pra mim que você é forte e corajosa, como você pensa que é, e termina essa trilha". E aí, a cada etapa concluída, vinha aquele pensamento: "viu, eu disse que você conseguia".

E o mais impressionante é que quando colocada em uma situação como essa o pensamento gira somente em função do trajeto, da caminhada e da sobrevivência. No meu caso a mente ficou vazia, sem pensamentos futuros ou passados, tudo o que importava era o presente. É como uma meditação, concentração na passada, no ritmo, na respiração, na dor, e só. Horas e mais horas assim. As vezes eu conversava no caminho com outras pessoas, mas a maior parte do tempo estava em silêncio, sozinha.

No primeiro dia, durante a apresentação das pessoas no meu grupo, já imaginei que teria mais dificuldade que os outros. Todos eles com menos de 30 anos, europeus. Não da pra ignorar, a idade faz diferença, e o fato de ser Europeu, faz deles uma raça mais forte, preparada para a altitude, para a neve e frio. Todos os dias o garoto alemão passava por mim correndo, como se estivesse atrasado para a escola. Bom, talvez se eu estivesse com melhor preparo físico a diferença não seria tão grande, mas não foi o caso, a preguiçosa aqui há tempos que não fazia nenhuma atividade física.

Quando cheguei no acampamento no primeiro dia, uma barraca montada em baixo de uma tenda, bem próxima da montanha nevada foi uma alegria. Fiquei feliz por ter concluído o primeiro dia com êxito, e por estar naquela barraca tão confortável. Que ironia, uma barraca, e um saco de dormir pareciam uma miragem depois de tudo aquilo. Meus pés doíam tanto que do jeito que deitei eu fiquei, não tinha forças pra me mexer. No jantar o guia deu uma explicação para o segundo dia, que segundo ele, era o pior. Seriam 4 horas de subida a mais de 4 mil metros de altitude. Deixou claro que quem quisesse desistir deveria fazer logo, para ser possível pegar um cavalo para cruzar a montanha. Fui dormir apavorada, com muito medo de não conseguir. Durante a noite fez um frio de muitos graus abaixo de zero.

Acordamos as 5 da manhã e logo começamos a caminhada. Acho que o guia deu uma "puxada" na galera, logo no início pra ver quem resolvia voltar. Eu fiquei pra trás como sempre, mas terminei a primeira parte. Duas meninas resolveram voltar. Eu fiquei e pensei: "só desisto se cair dura no chão". Continuamos pelas próximas horas, numa tática infalível para montanhas e altitude, devagar e sempre, sem parar pra descansar. Funcionou! Cheguei ao topo depois de todos, mas ainda em tempo pras fotos do grupo. Nevava e fazia muito frio, mas meu corpo estava quente e um pouco anestesiado depois de tanto esforço. Aí eram SÓ mais 5 horas de caminhada ladeira abaixo. Foi descendo sozinha a montanha, com neve caindo no rosto que chorei. Chorei alguns minutos, de cansaço, de realização, de satisfação, de felicidade.

O terceiro e o quarto dia eram, supostamente, os mais fáceis. Não achei. Talvez seria se eu não tivesse enfrentado os dois dias anteriores. Quando acordei, no terceiro dia, meu corpo estava cansado, sem forças. Cai duas vezes na trilha por puro cansaço físico, as respostas do corpo eram lentas e demoradas. Foi nesse dia que descobri o poder do chocolate. Foi comer uma barrinha de Twix que meu corpo achou forças do além. No final desse dia fomos até as águas termais, e pudemos descansar por umas 3 horas nas águas quentes. Que delícia!!!

O quarto dia era também pra ser fácil, mas tínhamos que carregar conosco todas as coisas que até agora estavam sendo transportadas pelos cavalos. Cinco kgs a mais nas costas e vamos que vamos! Foram mais 6 horas de caminhada num sol que lembrou as minhas visitas na obra em Cuiabá. Em pensar que eu reclamava de dar uma voltinha por lá. Chegamos em Águas Calientes, a cidade de entrada para Machu Pichu, no início da tarde. Eu estava esgotada, acabada, tudo o que eu queria era tomar um banho e descansar.

Quando cheguei no hotel e me olhei no espelho realizei que faziam quatro dias que não me olhava refletida em lugar nenhum. Faziam quatro dias que não tomava um banho decente, que não me preocupava com a sujeira das minhas roupas e do meu corpo e que não acessava a internet. E parece que foram décadas! Cada dia foi tão intenso, tão cheio de surpresas e desafios, tanta coisa nova acontecendo. Com certeza foi uma experiência única, como muitas nessa viagem. Eu provavelmente não faria essa trilha denovo, mas fico muito feliz e orgulhosa por te-la feito. Quando cheguei a Machu Pichu no quinto dia agradeci por estar lá, por ter conseguido, pela vida que tenho, pela sorte que sempre está ao meu lado.