Há quase 20 dias no país posso dizer que o Vietnã me ensinou algumas
coisas. Aliada a minha trajetória e meu momento de vida, as reflexões e
acontecimentos durante esse período tornaram essa parte da viagem única e
inesquecível.
Sei que parece loucura dizer isso, mas a verdade é que tudo flui, como num balé ensaiado. As pessoas não parecem estar estressadas, nem xingam-se umas às outras. Elas também não andam em velocidade alta e não ficam bravas quando alguém "corta" a sua frente, ou não dá sinal para entrar, ou quando um pedestre cruza seu caminho. Os motoristas buzinam compondo uma melodia, mais para se fazerem presentes, do que para alertar alguém de seu erro. Tudo faz parte de uma coreografia perfeita, que para um simples espectador parece estar tudo a ponto de desabar. Mas nada desaba, ninguém cai, ninguém bate, todos saem ilesos.
E tudo isso enquanto alguns outros moradores, continuam sentados nas mesas das calçadas bebericando o seu chá e mascando sementes de girassol, ou batendo papo com amigos nas sombras das árvores, ou fazendo exercícios nos parques (que são lindos, muito bem cuidados). Compondo assim cidades cheias de vida, até altas horas da noite até o raiar do novo dia.
4) O que é ser “bem-educado”.
Estou acostumada com a falta de gentileza nos aeroportos do mundo inteiro, mas acho que nunca tinha visto nada parecido com o que vi nos aeroportos daqui. No primeiro aeroporto, depois da chamada para o embarque eu e a mãe nos encaminhamos para a fila. A fila parecia algo “simbólico”, já que, assim que abria um espaço de menos de 10 cms entre duas pessoas, uma terceira já tomava o lugar. Além de filas paralelas que surgiam para a entrada no mesmo portão! O cara que estava atrás de nós, ou melhor grudado em nós como se fosse a nossa sombra, depois de dar umas resmungadas simplesmente passou na nossa frente. Simples assim, sem nenhum constrangimento. Assim que o avião pousou, todos os passageiros pularam de suas poltronas. Duas vezes a mãe levou um safanão na cabeça da moça que estava atrás lutando pra alcançar a sua mala.
No outro dia, almoçando num restaurante, fiquei observando uma mulher ocidental sair do restaurante, pegar a sua moto e entrar no trânsito local. A moça já saiu irritada pois a garçonete não aparecia com a sua conta. Depois chegou uma pedestre que resolveu passar atrás da sua moto bem na hora em que ela estava saindo. E ainda depois esbravejou com umas outras motos que entraram em sua frente, antes de atravessar o cruzamento e sair pelas ruas.
Fizemos, eu e minha mãe, uma viagem que iniciou pela fronteira com o Camboja (atravessamos
de ônibus) passando por Ho Chi Min (antiga Saigon), Huê, Hoi An, Da Nang até
Hanoi, atual capital do país, terminando em um cruzeiro pelas ilhas de Ha Long
Bay.
1)As cidades podem "funcionar" de diferentes maneiras.
O trânsito é um caos (na visão de um ocidental como eu). Há motos, muitas motos, por todos os lados. Estacionadas ou andando em cima das calçadas, atravessando cruzamentos, na contramão, nunca respeitando os semáforos e sempre buzinando. Como as calçadas servem para estacionamento ou para área de mesas dos restaurantes de rua, não sobra muito espaço para os pedestres, que acabam tendo que andar pelo meio da rua. E ainda tem os ciclistas que seguem no meio do trânsito, e há eventualmente carros e alguns ônibus. Todos andando em perfeita harmonia!
O trânsito é um caos (na visão de um ocidental como eu). Há motos, muitas motos, por todos os lados. Estacionadas ou andando em cima das calçadas, atravessando cruzamentos, na contramão, nunca respeitando os semáforos e sempre buzinando. Como as calçadas servem para estacionamento ou para área de mesas dos restaurantes de rua, não sobra muito espaço para os pedestres, que acabam tendo que andar pelo meio da rua. E ainda tem os ciclistas que seguem no meio do trânsito, e há eventualmente carros e alguns ônibus. Todos andando em perfeita harmonia!
Sei que parece loucura dizer isso, mas a verdade é que tudo flui, como num balé ensaiado. As pessoas não parecem estar estressadas, nem xingam-se umas às outras. Elas também não andam em velocidade alta e não ficam bravas quando alguém "corta" a sua frente, ou não dá sinal para entrar, ou quando um pedestre cruza seu caminho. Os motoristas buzinam compondo uma melodia, mais para se fazerem presentes, do que para alertar alguém de seu erro. Tudo faz parte de uma coreografia perfeita, que para um simples espectador parece estar tudo a ponto de desabar. Mas nada desaba, ninguém cai, ninguém bate, todos saem ilesos.
E tudo isso enquanto alguns outros moradores, continuam sentados nas mesas das calçadas bebericando o seu chá e mascando sementes de girassol, ou batendo papo com amigos nas sombras das árvores, ou fazendo exercícios nos parques (que são lindos, muito bem cuidados). Compondo assim cidades cheias de vida, até altas horas da noite até o raiar do novo dia.
Fiquei pensando em pesquisar quantas pessoas sofrem acidentes de transito por aqui, depois achei desnecessário. Em todo esse tempo por aqui não vi nenhum acidente e nenhum motoqueiro caído no chão. Tratando-se de cidades como Ho Chi Min, com 12 milhões de habitantes, acho que o simples fato de não ter presenciado nada já é uma boa estatística.
As motos em cima das calçadas |
Os lindos parques arborizados |
As mesas de rua, no meio das ruas |
2) As crianças sabem se virar sozinhas.
Quando estávamos em Ha Long Bay fizemos um passeio até uma antiga cidade flutuante, onde no passado famílias de pescadores viviam em casas construídas em cima de plataformas flutuantes. Ao chegar no ponto de partida, um píer no meio do mar, havia um menininho de uns 3 anos brincando sozinho. Ele carregava um pedaço de um fio elétrico, e depois usava um pedaço de madeira quebrada para brincar num banco próximo da água. A criança parecia "sobrando", como a minha mãe resolveu apelidar as crianças por aqui, pois aparentemente não havia nenhum adulto tomando conta dela.
Quando estávamos em Ha Long Bay fizemos um passeio até uma antiga cidade flutuante, onde no passado famílias de pescadores viviam em casas construídas em cima de plataformas flutuantes. Ao chegar no ponto de partida, um píer no meio do mar, havia um menininho de uns 3 anos brincando sozinho. Ele carregava um pedaço de um fio elétrico, e depois usava um pedaço de madeira quebrada para brincar num banco próximo da água. A criança parecia "sobrando", como a minha mãe resolveu apelidar as crianças por aqui, pois aparentemente não havia nenhum adulto tomando conta dela.
Veja só quantos perigos eminentes! Um fio elétrico, um pedaço de madeira cheio de farpas, um píer no meio do mar sem nenhuma proteção, além do sol pegando fogo do meio da manhã. E a criança estava lá, sorridente, brincando, sem dar bola para todos aqueles turistas indo e vindo de todos os lados. Uma cena dessas seria impossível no Brasil, haveria com certeza um adulto correndo atrás da criança, e falando muitos “nãos”. Mas aqui as crianças parecem ser diferentes. Elas brincam sozinhas no meio da rua, são habilidosas, ágeis e sabem se defender. Estão livres, para tentar e aprender com os erros. Ou as crianças daqui são especiais e nascem com um gene diferente das crianças no Brasil, ou o excesso de cuidados e zelo dos pais é que está acabando com a habilidade nata de sobrevivência das crianças do nosso país.
O menino brincando sozinho no píer. |
3) Um país socialista também pode dar certo.
Não, a ideia não é causar polêmica nem defender o regime político do Vietnã. Mesmo porque, para isso precisaria de muito mais informação e vivência, do que alguns dias pelo país puderam me dar. Mas a impressão que tive é que o país está dando certo. Não é um país rico, mas também não é um país miserável. Não vi milionários andando em carros importados, ou helicópteros sobrevoando a cidade (cena tão comum em São Paulo que aqui pareceria uma piada) mas também não há moradores de rua, crianças pedindo esmola, e as ruas são limpas e os parques e áreas verdes são um verdadeiro cartão postal!
O país atravessou um longo período de guerra (20 anos), numa das guerrilhas mais violentas do século XX, com milhões de mortes (mais de 3 milhões de civis). Muitas famílias foram destruídas, muitas pessoas fugiram do país e tudo isso há pouco tempo atrás. O país reabriu-se recentemente para o turismo, só nos anos 90. E parece que já está preparado para receber todos os curiosos do mundo, inclusive norte-americanos, seus ex-inimigos de guerra, que andam tranquilamente pelas ruas. Uma prova disso é a cidade de Hoi An, uma cidade muito bem preservada, com muitos restaurantes e cafés, que ganhou o título de minha cidade favorita no Vietnã.
As pessoas estão dando um jeito de sobreviver e de sustentar suas famílias, de viver bem! Eu e a mãe fomos visitar o Museu da Mulher aqui em Hanói (recomendo a visita) e assistimos à um vídeo de mulheres vendedoras de rua. Era um documentário com depoimentos dessas mulheres que vão para as ruas vender frutas, flores e todo o tipo de bugigangas. Muitas delas são provenientes de cidades do interior e vem para a capital apenas para ajudar nas finanças da família. Elas dividem uma casa, entre 10 ou mais mulheres, acordam muito cedo e trabalham até muito tarde para ganhar uns trocados. Votam para suas famílias uma vez a cada 15 dias com menos de U$20,00 no bolso, que foi o lucro delas nesses dias. Uma vida difícil, de muito desgaste. Fiquei pensando nessas mulheres, e em tantas outras que vi nesse museu. Mulheres que lutaram na linha de frente durante a Guerra (cerca de 40% dos combatentes eram mulheres), mulheres que perderam muitos filhos para guerra (uma delas havia perdido oito filhos), mulheres responsáveis pelas plantações de arroz, pela tecelagem, pela manufatura, mulheres que ainda estão lutando por um mundo melhor.
Não, a ideia não é causar polêmica nem defender o regime político do Vietnã. Mesmo porque, para isso precisaria de muito mais informação e vivência, do que alguns dias pelo país puderam me dar. Mas a impressão que tive é que o país está dando certo. Não é um país rico, mas também não é um país miserável. Não vi milionários andando em carros importados, ou helicópteros sobrevoando a cidade (cena tão comum em São Paulo que aqui pareceria uma piada) mas também não há moradores de rua, crianças pedindo esmola, e as ruas são limpas e os parques e áreas verdes são um verdadeiro cartão postal!
O país atravessou um longo período de guerra (20 anos), numa das guerrilhas mais violentas do século XX, com milhões de mortes (mais de 3 milhões de civis). Muitas famílias foram destruídas, muitas pessoas fugiram do país e tudo isso há pouco tempo atrás. O país reabriu-se recentemente para o turismo, só nos anos 90. E parece que já está preparado para receber todos os curiosos do mundo, inclusive norte-americanos, seus ex-inimigos de guerra, que andam tranquilamente pelas ruas. Uma prova disso é a cidade de Hoi An, uma cidade muito bem preservada, com muitos restaurantes e cafés, que ganhou o título de minha cidade favorita no Vietnã.
As pessoas estão dando um jeito de sobreviver e de sustentar suas famílias, de viver bem! Eu e a mãe fomos visitar o Museu da Mulher aqui em Hanói (recomendo a visita) e assistimos à um vídeo de mulheres vendedoras de rua. Era um documentário com depoimentos dessas mulheres que vão para as ruas vender frutas, flores e todo o tipo de bugigangas. Muitas delas são provenientes de cidades do interior e vem para a capital apenas para ajudar nas finanças da família. Elas dividem uma casa, entre 10 ou mais mulheres, acordam muito cedo e trabalham até muito tarde para ganhar uns trocados. Votam para suas famílias uma vez a cada 15 dias com menos de U$20,00 no bolso, que foi o lucro delas nesses dias. Uma vida difícil, de muito desgaste. Fiquei pensando nessas mulheres, e em tantas outras que vi nesse museu. Mulheres que lutaram na linha de frente durante a Guerra (cerca de 40% dos combatentes eram mulheres), mulheres que perderam muitos filhos para guerra (uma delas havia perdido oito filhos), mulheres responsáveis pelas plantações de arroz, pela tecelagem, pela manufatura, mulheres que ainda estão lutando por um mundo melhor.
Assim como a The, uma jovem vietnamita proprietária de um café na cidade de Da Nang. O café é um espaço acolhedor, aconchegante, com um delicioso cardápio. Mas não é só isso, assim que sentamos na mesa, a The, veio até nós e começou a nos dar dicas de turismo, e aproveitou para nos contar do seu projeto. A ideia do café é ser um espaço para trocas, entre jovens vietnamitas e turistas do mundo todo. Os turistas ganham com as dicas e curiosidades sobre a cidade e o país, e os jovens vietnamitas ganham a chance de praticar seu inglês e aprender a língua com os turistas. Além de tudo, no próprio café ela tem alguns dormitórios para turistas que desejem ficar hospedados gratuitamente desde que se disponham a conversar com o pessoal local. Uma ideia simples, cheia de propósito. E essa foi a imagem que fiquei do país, de pessoas batalhadoras, que continuam lutando, mas dessa vez não contra o inimigo, mas contra as marcas deixadas pela história.
As vendas de rua |
As mulheres vendedoras de rua. |
4) O que é ser “bem-educado”.
Bom, se olhar com os olhos de um ocidental, mais especificamente de um brasileiro de classe média (metido à besta, como eu) os vietnamitas são extremamente mal-educados, de uma grosseria sem tamanho.
Estou acostumada com a falta de gentileza nos aeroportos do mundo inteiro, mas acho que nunca tinha visto nada parecido com o que vi nos aeroportos daqui. No primeiro aeroporto, depois da chamada para o embarque eu e a mãe nos encaminhamos para a fila. A fila parecia algo “simbólico”, já que, assim que abria um espaço de menos de 10 cms entre duas pessoas, uma terceira já tomava o lugar. Além de filas paralelas que surgiam para a entrada no mesmo portão! O cara que estava atrás de nós, ou melhor grudado em nós como se fosse a nossa sombra, depois de dar umas resmungadas simplesmente passou na nossa frente. Simples assim, sem nenhum constrangimento. Assim que o avião pousou, todos os passageiros pularam de suas poltronas. Duas vezes a mãe levou um safanão na cabeça da moça que estava atrás lutando pra alcançar a sua mala.
No outro dia, almoçando num restaurante, fiquei observando uma mulher ocidental sair do restaurante, pegar a sua moto e entrar no trânsito local. A moça já saiu irritada pois a garçonete não aparecia com a sua conta. Depois chegou uma pedestre que resolveu passar atrás da sua moto bem na hora em que ela estava saindo. E ainda depois esbravejou com umas outras motos que entraram em sua frente, antes de atravessar o cruzamento e sair pelas ruas.
Mas, foi também aqui no Vietnã que no primeiro dia em que chegamos a Ho Chi Min uma senhora, do nada, resolveu nos ajudar a encontrar o nosso hotel, caminhando conosco até a entrada da propriedade. Foi aqui que em todos os hotéis que nos hospedamos (hotéis baratinhos, de diárias de U$30,00) fomos recebidas com sucos e frutas cortadinhas, e por pessoas gentis que faziam de tudo para nos agradar, e que também tivemos o melhor serviço em restaurantes e lojas. Foi na rua da tumultuada Hanoi, que um senhor fez sinal para que atravessássemos com ele, para a nossa salvação, e foi onde ganhamos mimos das vendedoras da loja que nos acharam simpáticas. Não houve uma só pessoa, independente do seu nível social, que não soubesse onde era o Brasil. E todas sabiam alguma coisa a mais. O país do futebol, do Neymar, e da escalação completa da Copa de 94. O país das mais lindas top models. O país de belas paisagens. O país que tem como língua oficial o português. Obrigada! E não é que tenham muitos turistas brasileiros por aqui, aliás não encontramos nenhum durante a nossa viagem.
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