segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O ano de Marina

Foi uma febre na rede a retrospectiva do ano elaborada pelo Facebook. Muitos dos meus amigos deram o poder ao Mark (e a alguns algoritmos) de elaborar um resumo dos momentos mais marcantes do seu ano.

Eu inicialmente, como em tudo que vem em ondas como essa, não quis nem saber do que se tratava, mas depois de me render e bisbilhotar "o ano" de alguns amigos, resolvi dar uma chance para que a máquina, e os números de likes nas minhas fotos, definisse os meus momentos mais importantes. Eu realmente estava certa! Como aquele monte de fotos reunidas poderiam resumir o que foi o "meu ano"? Não. Infelizmente não pude aceitar uma retrospectiva despretensiosa como essa, tinha que fazer a minha própria retrospectiva de 2014 de uma forma mais profunda e entender o real significado dos dias que ficaram pra trás.


No passado, achava bobagem essa formalidade de final de ano, desse momento de replanejar e recomeçar, atribuído pelo fim de um calendário. Mas com o passar do tempo, e mais madura, me dei conta de que esse ciclos são importantes, e que as pessoas precisam perceber o fim de algo para iniciar um novo algo. E a cada ano que passa eu tenho dado mais importância para esse ritual de mudança, tentando avaliar o que aconteceu de bom e o que eu aprendi com cada situação, para assim definir metas para o ano que está chegando.


Não sei se por ser uma pessoa analítica, ou por às vezes ter uma visão muito poliana do mundo, mas não consigo, e não gosto, de definir se o ano foi bom ou ruim como ouço muitas pessoas avaliarem por aí. Sempre acho que os anos tem momentos bons e ruins, e é impossível, ou até mesmo injusto, atribuir a ele um rótulo de vilão ou mocinho.


E o ano de 2014 não foi diferente, houveram alguns momentos muito difíceis e outros de extrema alegria, e os aprendizados foram enormes. Aprendi muito sobre marketing, e como as grandes empresas definem seus orçamentos para esse fim. Aprendi que bons relacionamentos profissionais valem muito mais que qualquer conhecimento técnico. Confirmei o que já sabia, que Brasileiros, não importa em que condição, deixam tudo para a última hora, atrapalhando todo um planejamento detalhado da realização de um evento para mais de 300 pessoas.


Aprendi sobre tributos estaduais e federais...não que isso sirva pra muita coisa. Aprendi que uma Copa do Mundo pode ser muito poderosa.


Percebi que carregava mágoas e que elas me asfixiavam durante a noite, não me deixando dormir. Percebi que eu tinha medo (e ainda tenho) de ser verdadeira. Um aprendizado para continuar vivenciado no ano que vem.

Aprendi que Santiago do Chile não está mais alto que São Paulo, era apenas eu que estava muito fora de forma quando cheguei por lá. Aprendi sobre a história da Bolívia e da origem do orgulho de seu povo. E também sobre os Maias e os Astecas, sobre a Revolução Cubana, sobre arte e arquitetura, e lembrei porque um dia escolhi a minha profissão.


Entendi que persistência e paciência andam juntas, e são indispensáveis pra alcançar qualquer objetivo pessoal ou profissional. Experimentei arepas, suco de lulo, enchiladas, esquites, e uma série de outros sabores que aguçaram ainda mais meu paladar.


Aprendi nos hostels, a dormir com barulho, com luz, no frio, no calor, e desenvolvi toda uma técnica para tomar banho que pode ser adaptada à qualquer condição. Aprendi a respeitar costumes de diferentes culturas, num eterno exercício de relevar meus próprios preconceitos.


Conheci pessoas doces, corajosas, atenciosas, de coração bom, com histórias de vida incríveis e ganhei grandes amigos. Comprovei que sou uma menina de muita sorte, que tenho os melhores amigos do mundo, e que eles estarão sempre ao meu lado nas mais estapafúrdias decisões que eu tomar. Aprendi que eles não precisam estar fisicamente ao meu lado para que o nosso amor continue a existir. Percebi que os melhores momentos são aqueles em que posso compartilhar com as pessoas que amo, mas que momentos sozinha são extremamente importantes para alimentar a minha alma.


Aprendi sobre empreendedorismo social, e um pouco mais sobre a realidade do nosso país, e que essa realidade pode ser ainda pior em outros países da América Latina.


Melhorei muito o meu espanhol, e percebi que esqueci muito do francês e do italiano que um dia estudei.
Aprendi mais com as pessoas do que em qualquer livro ou sala de aula.


Vivi, senti, pensei, analisei, mudei de ideia, mudei de opinião e mudei os planos. Tive medo e criei coragem. Chorei. Quis chorar e não consegui, quis não chorar e não consegui. Fiquei com raiva de mim, dos outros. Perdoei à mim e aos outros. Amei, sofri de amor, escondi o amor, fingi que ele não existia. Ainda estou aprendendo a amar...


Foi o ano que tomei uma importante decisão na minha vida, a de pedir demissão e viajar o mundo. Foi o ano em que aprendi, aprendi, aprendi.


E ESSE foi o ano da Marina! Sou extremamente grata por tudo o que aconteceu. E que venha 2015!







quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Europa Parte I

Cheguei em Frankfurt num dia frio de inverno, depois de quinze dias de calor em Cuba. Só essa chegada, e o impacto de sair de um lugar como Cuba para aterrissar num país como a Alemanha, daria um post inteiro de reflexões, pensamentos e sensações. Mas depois de Frankfurt fui ainda para Barcelona, Amsterdã, Roterdã, Bruxelas e agora estou no trem a caminho de Luxemburgo, por isso vou tentar resumir nesse texto um pouco de tudo que vi e vivi nesse primeiro mês pela Europa.
Eu sabia que a imigração na Europa podia ser um pouco difícil, pois eu não tinha uma passagem para retornar ao meu país, e ainda pretendia ficar um longo período em território europeu. Estava preparada, mas mesmo assim sempre acho um pouco tenso todo esse processo. O rapaz da polícia foi bem educado apesar de austero. Me encheu de perguntas sobre o que eu pretendia fazer e principalmente como tinha conseguido dinheiro para fazer essa viagem. Só deixou eu seguir depois de acessar o site do CTE, minha antiga empresa, e ver que havíamos trabalhado na construção dos estádios da Copa, e aí ele concluiu que a empresa tinha faturado muito dinheiro com a FIFA, e eu consequentemente. Bom, isso não é bem verdade, mas se isso era o que ele queria pra me deixar entrar, tudo bem. Eu sorri e concordei com sua afirmação.
Sai do aeroporto, o céu estava cinza, frio e por todos os lados eu via propagandas, lojas, sinais de modernidade, bem diferente de qualquer cidade em Cuba. Estava de volta no primeiro mundo. Frankfurt é uma cidade bonita, moderna. Caminhei pelas ruas do centro, por alguns parques, cheguei na margem do rio principal, atravessei a ponte cheia de cadeados de casais apaixonados e fui visitar o Museu de Arquitetura. O Museu foi uma adorável surpresa. Estava acontecendo uma exposição sobre os modernos edifícios da cidade, de como foram construídos e de como a cidade foi planejada. Gostei! Principalmente por me lembrar, que apesar de há muito tempo não ter contato com a arquitetura, eu ainda me interesso e gosto de tudo aquilo que diz respeito a “arte de projetar”. Voltei feliz e muito pensativa para o hostel. Será que eu havia deixado de lado todo esse meu lado “artista”? Será que se eu mexesse nos arquivos do passado eu ainda conseguiria acessar esse meu conhecimento? A dúvida ficou no ar.
No outro dia embarquei com destino à Barcelona. Essa era a terceira vez que estava indo para a cidade, e a principal razão dessa viagem era rever um grande amigo.
Barcelona é uma cidade que vibra, tem vida nas ruas, e isso para mim, é o que mais me fascina. Com certeza é uma cidade para se viver, no sentido literal da palavra. Saindo pelas ruas, a cada esquina há uma surpresa. Um centro cultural, um museu, um bar, um restaurante, um parque, ou simplesmente um lugar agradável para descansar ou apreciar. E além de tudo tem a praia, ali do lado, dando aquele ar especial para a cidade.
Passei uma semana por lá, hospedada no apartamento do meu amigo, o que fez toda a diferença, já que há muito tempo não dormia em uma “casa”. Na estada na cidade fiz muitos programas legais. Fomos, eu e meu amigo, à exposição Gênesis do Sebastião Salgado, que eu já tinha visto em São Paulo, mas que dessa vez foi ainda mais especial, pois no dia seguinte assistimos ao filme de sua vida, Sal da Terra. Foi um combo e tanto! Uma experiência incrível e inesquecível. Da exposição e do filme surgiram horas e mais horas de filosofias e pensamentos sobre a vida, a humanidade e o mundo.
Fomos também à um show de chorinho, para reconectar com a cultura brasileira. E ainda fui ao Festival de Cinema Independente de Barcelona, assistir à um filme turco, muito interessante, chamado I’m not him, sobre um homem que decidi viver a vida de uma outra pessoa. O filme me inspirou a escrever o post passado, Falsidade Ideológica, e obviamente a pensar um pouco sobre isso.
Para finalizar minha estada pela cidade fui à Fundação Miró. Passei quatro horas fazendo a visita guiada, e foi incrível aprender um pouco mais sobre a vida desse artista. Mais um milhão de questionamentos e reflexões sobre a vida e sobre o nosso papel na sociedade surgiram nessa tarde.
Acho que Barcelona foi mais um daqueles lugares marcantes dessa viagem. A cidade, as companhias, e principalmente as horas de conversas e reflexões sobre tudo o que vivi até agora, e sobre o que me espera daqui pra frente, me fizeram sair de lá fortalecida e muito feliz por tudo o que vivi naqueles dias pela cidade.
De Barcelona peguei um avião com destino à Amsterdã. Também não era a minha primeira vez na cidade, e fui pra lá encontrar com um outro amigo que estava passando alguns dias de férias. Fazia muito mais frio do que Barcelona, e os primeiros dias foram bem congelantes.
Passei seis dias com o meu amigo caminhando pelas ruas da cidade. Aliás, descobri, se é que eu já não sabia, que eu realmente gosto de caminhar. Caminhar é o melhor jeito de conhecer a cidade, além de assim economizar alguns trocados e ainda perder algumas calorias. Acho que caminho no mínimo uns 5 kms por dia, mas tenho certeza que em alguns devo caminhar bem mais que isso.
Descobri, caminhando, que Amsterdã tem os parques mais lindos que eu já conheci. O parque que ficava próximo ao hotel que estávamos hospedados, chamado Rembrandtpark, ganharia o título de parque mais bonito segundo a minha avaliação. E além dos parques a cidade é repleta de restaurantes deliciosos, não teve um só dia que não comemos muito bem. Aproveitamos para visitar o museu do Van Gogh e fazer a visita guiada. Foi uma excelente visita e inúmeros aprendizados da vida desse artista.
De Amsterdã peguei um trem com destino a Roterdã. Achei que seria interessante conhecer uma outra cidade na Holanda, e eu não estava enganada. Roterdã é uma cidade linda e me surpreendeu por suas ruas e sua arquitetura. Parece que a cidade toda saiu de um daqueles projetos de urbanismo e paisagismo que estudei ou projetei durante a faculdade. Tudo está lá, os espaços bem pensados, os detalhes de mobiliário urbano, o paisagismo, os edifícios novos compondo com os edifícios antigos restaurados, uma maravilha! A cidade tem um dos maiores portos do mundo, o que ainda dá mais personalidade para a cidade, e tem museus incríveis, provavelmente é possível passar uma semana inteira lá indo aos diferentes museus. Eu resolvi visitar um museu de design em que estava tendo uma exposição dos 50 anos do 007, além de uma exposição sobre a vida do Rudolf Steiner, o criador do método pedagógico Waldorf, que tem escolas espalhadas pelo mundo todo. Adorei as duas exposições.
No dia seguinte resolvi visitar o Museu da Fotografia e ver uma exposição do Mark Cohen, um fotógrafo americano com um modo muito peculiar de tirar fotos, muito próximas ao objeto fotografado. De novo muito interessante.
Além de tudo isso, há ainda na cidade um mercado muito moderno, construído para abrigar várias bancas de produtos locais. Comi um delicioso Stroopwafle, feito na hora, quentinho. Uma delícia!
Deixei Roterdã numa manhã ensolarada, ainda admirada com o tráfego de bicicletas, de como os holandeses estão acostumados à isso, falando no celular ou comendo, ao mesmo tempo que pedalam com suas crianças pequenas indo para a escola ou ao trabalho.
Meu próximo destino era Bruxelas. Fui novamente de trem. Só a viagem de trem, passando pelas pequenas cidades e vilarejos do caminho já bastariam. A vista das casinhas de tijolos, com seus telhados inclinados, com seus moradores tranquilos, passando de bicicleta ou caminhando por baixo de árvores sem folhas, é por si só uma viagem. Ver fragmentos da vida dessas pessoas, e imaginar como é viver ali, morar naquela casa, andar por aquele caminho, pode fazer a mente viajar longe e criar histórias incríveis.
Viajar de trem tem muitas vantagens, além de ser uma viagem única, é muito fácil. Em quinze minutos ou menos, comprei uma passagem e estava dentro do trem para a Bélgica. Cheguei lá num sábado à tarde, a cidade estava lotada de turistas, e eu havia decidido fazer o mesmo que em Roterdã, não reservar nenhum hostel. Peguei o endereço de um, que ficava há uns dois kms da estação de trem e fui caminhando, entre os turistas, pelas ruas antigas da cidade.
O problema é que era sábado e o hostel em questão estava lotado. Me indicaram um outro há uns dois quarteirões dali. Caminhei mais um pouco, cheguei no segundo local que também estava lotado. Tira a mochila, que nessas alturas já estava pesando uma tonelada, senta um pouco, toma um café com biscoito oferecido pela recepcionista e pensa no que fazer. A moça da recepção muito prestativa resolveu telefonar para alguns outros hostels e depois de alguns minutos voltou com a excelente notícia de que tinha conseguido uma cama pra mim em um hostel do outro lado da cidade. Sem problemas! Coloco de novo a mochila nas costas e atravesso toda a cidade, dessa vez de metrô porque, à essa altura, já estava destruída.
Resolvi sair para conhecer a cidade. Era sábado à noite e estava tendo um show de luzes Natalino na praça principal, onde fica o palácio. Tentei chegar perto, mas era simplesmente impossível. Um milhão de pessoas se acotovelavam na praça para tentar tirar uma foto do incrível show de luzes. Decidi comer um chocolate em uma das ruas repletas de lojas só de chocolate, onde é impossível comer um só!
No dia seguinte estava me preparando para sair em direção à um museu, quando conheci um menino de Bangladesh na recepção do hostel. Começamos a conversar, decidimos sair pra tomar um café e terminamos num bar da cidade conhecido por ter mais de 2000 rótulos de cerveja. Experimentamos uns 5 tipos de cerveja belga, e acabamos passando o dia juntos, passeando pela cidade e no final jantando num delicioso restaurante. Foi mais um dia sensacional.
Agora estou no trem, deixando a Bélgica para conhecer um pequeno país chamado Luxemburgo. Acho que nunca imaginei que viria até aqui, mas é mais uma dessas surpresas que a vida e uma viagem como essa pode oferecer. Depois de Luxemburgo volto à Amsterdã para embarcar para Dublin encontrar uma amiga querida, e depois de Dublin vou para a Itália, encontrar a família para as festas de final de ano! Não vejo a hora!
P.S: Nesse exato momento estou sentada no meu quarto no hostel em Luxemburgo, depois de ter passado a manhã caminhando pelas ruas da cidade. Estou tomando um vinho francês, J.P. Chenet, que paguei menos de dois euros, e olhando a vista na janela. Vejo parte da muralha que envolve a cidade, um prédio muito antigo que abriga um hospício, e muitas árvores quase sem folhas, de cores marrom e verde escuro. A cidade é surpreendente, muito mais linda do que eu podia imaginar. Parece uma cidade de um filme medieval. Estou vendo a hora em que a rainha aparecerá na janela do castelo em minha frente e acenará para mim.
Frankfurt


Barcelona

Amsterdam



Rotterdam

Bruxelas



Luxemburgo
 

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Falsidade Ideológica

Eu confesso o crime. Fui eu!

Quando tudo começou parecia tão mais fácil calçar aqueles sapatos. A roupa também estava ali, linda, passada, muito mais bonita do que as que eu tinha, era só vestir! Resolvi experimentar. Quando olhei no espelho não me reconhecia, e eu gostava daquela sensação. Foi sair na rua e perceber a reação dos outros, olhando pra mim, com olhar de admiração, que eu já não queria mais tirar aquele sapato. Eu me sentia bem, era seguro estar escondida atrás daquela roupa que não era minha. Eu finalmente podia ser amada, respeitada e admirada, sem muito esforço. Parecia ser o caminho mais curto e fácil para conseguir aquilo que eu sempre quis.
 
Não era mais eu, eu tinha outra identidade. E assim eu podia atrair muitas vítimas sem ser incriminada. Uma depois da outra foram caindo na minha lábia. Ficavam atraídos pelas minhas histórias, pela minha personalidade falsa. Eu era forte, poderosa, determinada, inteligente, sabia o que queria, era justa e alegre. Havia muitas pessoas ao meu redor admirando aquela imagem. Eu olhava no espelho e já não me via.
 
Algumas das vítimas foram muito prejudicadas, eu enganei, aproveitei e abusei de sua inocência. Outras, fugiram pra muito longe quando descobriram a verdade. Outras, tiveram compaixão e ficaram ao meu lado. Mas todas foram vítimas do meu crime.
 
Eu me entrego! Não consigo mais suportar o peso dessa fantasia. Admito que errei e quero agora cumprir com a minha sentença. Sei que a maior prejudicada fui eu...
 
Não me importo com o tempo da minha reclusão. Que seja o tempo necessário para que haja justiça. Muitos fugirão quando descobrirem a verdade, vão ter nojo, desprezo, mas isso não importará mais.
 
Quando absolvida terei a minha maior recompensa, me olharei no espelho e reconhecerei a Marina, aquela que esteve há tantos anos escondida e de que tanto tenho saudades.
 
 
 

sábado, 15 de novembro de 2014

A família cubana!

Nesse exato momento estou morrendo de remorso por não ter tirado uma foto com a família da casa que fiquei hospedada por três noites em Vinãles! Vim no micro-ônibus, de lá até Playa Larga, me culpando por deixado passar a oportunidade de ter esse registro dessa família tão especial.  Foi por isso que hoje pela manhã, quando ainda pensava porque diabos não tinha tirado a foto, que percebi que o que queria era uma recordação da experiência, e não uma simples foto, e que poderia fazer isso através das palavras desse post! Bingo!
 
E foi assim que os conheci...
Logo que o ônibus parou na pequena praça de Vinãles, uma multidão aproximou-se da porta com cartazes, com nomes de hóspedes para as casas de família da região. E lá estava o meu nome, em uma folha de papel meio amassada, sendo segurada por um senhor, com o rosto queimado do sol e um chapéu de palha.
Confesso que fiquei desconfiada. Desci do ônibus e não fui na direção dele. Pensei: vai que é pra outra Marina! Mas passado alguns minutos, ele continuava lá, com seu papel estendido, procurando a Marina. Um pouco da multidão já havia se dissipado, e foi então que fui até ele e me apresentei. Com um sorriso de satisfação por ter me encontrado, o senhor me deu as boas-vindas.
Gentilmente o senhor, Chino como lhe chamavam, pegou a minha mochila grande, colocou nas suas costas e foi me levando pelas pequenas ruas até sua casa. No caminho cumprimentou todos os seus vizinhos, me falou que era aniversário da sua filha mais nova, que tinha uma neta, Jéssica, e que sua esposa, Tatica, estava me esperando. É óbvio que também mencionou as novelas brasileiras e de como ele e a família adoravam a que estavam assistindo no momento, Flor do Caribe. Como não assisto novela, não tenho a mínima ideia de qual seja, mas sacodi a cabeça em sinal de concordância e disse algo como, mui buena!
Estávamos quase chegando e seu filho mais velho, Jaciel, aproximou-se em uma bicicleta. Olhou para mim de cima à baixo e perguntou se eu era A brasileira. Sim, eu sou A brasileira. Aparentemente ser brasileira fornece um status automático de beleza. Assim que digo que sou do Brasil as pessoas abrem um sorriso, e os homens por aqui, me convidam para sair. Acredito que Cuba seja um ótimo destino para mulheres brasileiras com baixa autoestima. Não teve um só dia que não recebi um elogio! Recebi inúmeros convites para beber uma cerveja ou dançar salsa, e na praia de Caio Jutias, recebi dois convites para passear de barco pelas ilhas da região. Já estou craque em sorrir, agradecer o convite, e gentilmente decliná-lo.
A casa era simples, como todas as casas da cidade, mas muito limpa, ampla e bem cuidada. Me levaram até o meu quarto, no fundo da casa. O quarto tinha duas camas de casal, com colchas de um tecido brilhoso bem colorido. Havia mosqueteiros em cima das camas e um banheiro com azulejos de flores. Tatica me mostrou tudo com muita atenção e fez questão de me receber com um suco de limão, e mostrar que era da árvore de seu jardim. Uma delícia.
 
Larguei as mochilas no quarto, tirei os sapatos, coloquei uma roupa mais leve e fui conversar com Tatica e seu filho Jaciel no gazebo do jardim. Ela explicou sobre o café da manhã e também avisou, pedindo desculpas, que estavam fazendo uma obra nos outros banheiros da casa e que durante o dia podia haver algum barulho. Seu filho, guia de turismo da região, me explicou sobre o tour de cavalo que ele fazia pelos vales da cidade. Concordei em fazer o tour no outro dia pela manhã. Resolvi dar um passeio pelo centro da cidade, beber um mojito, petiscar algo (por esse país ser tão caro, estou fazendo uma dieta de fome) e voltei para casa pelo fim da tarde para descansar.
No outro dia pela manhã levantei cedo, morrendo de fome, e fui tomar o café da manhã no jardim, com uma vista linda para as montanhas. No café da manhã preparado pela Tatica, com muito carinho, sempre havia um suco de frutas natural, uma omelete que ela preparava na hora pra mim, além de um café passado, frutinhas cortadas e um pão quentinho.
Terminei o café, e como a minha mãe me ensinou, tirei as coisas da mesa e levei para a cozinha. Jaciel já estava lá me esperando, de camisa e chapéu de vaqueiro. Um tipo e tanto, de olhos claros e pele morena. Saímos pelas ruas um pouco tímidos, sem falar muito, mas logo que montamos os cavalos começamos a conversar. Enchi ele de perguntas, sobre como era viver ali, de quanto ele ganhava por mês, de quanto havia que pagar para o governo, de como o governo controlava seu trabalho como guia, se era feliz, se gostava do seu trabalho... e ele foi me respondendo, e também fazendo perguntas sobre o Brasil, sobre as novelas, as praias e o Carnaval. Quando percebemos estávamos conversando sem parar, fazendo piadas, cantando músicas Cubanas e Brasileiras, rindo um do outro.
Quase chegando na primeira parada, uma caverna de 2 km de extensão com piscinas naturais, ele começou a dizer como me achava bonita, e como havia percebido que também era bonita por dentro! Ai que clichê! Que tinha gostado de mim desde o primeiro momento e blá, blá, blá. Me contou uma história de amor, de um amigo dele Cubano, que havia conhecido uma espanhola em uma noite em Vinales, se apaixonaram, casaram, foram viver na Espanha e hoje são muito felizes! Algo me dizia que, lá no fundo, ele esperava que um dia isso também acontecesse com ele. E parecia que no momento, podia ser eu a sua futura esposa, ou no mínimo amante por umas noites.
Assim que desmontamos dos cavalos, para entrarmos na caverna, ele me puxou para ensinar alguns passos de salsa. Era um tal de coloca a perna aqui, vira o rosto assim, chega mais perto... e acabou a música imaginária, ufa! Saímos do estacionamento de cavalos e entramos na caverna, com mais um casal de turistas e um outro guia. A caverna era lindíssima, como nada que eu já tenha visto na minha vida. Caminhamos por alguns metros numa escuridão até chegarmos nas piscinas naturais. Nesse ponto da caverna, sem a luz da lanterna, era impossível enxergar qualquer coisa. Estava de biquíni por baixo da roupa e então resolvi entrar na água, e ele também. O guia e outro casal desistiram da piscina natural e foram embora. Fomos caminhando pela piscina por mais alguns metros, totalmente sozinhos, até encontrarmos um lugar que havia uma lama, supostamente muito boa para a pele, que devíamos espalha-la pelo corpo, esperar um pouco, e sairíamos de lá como novos. Ele me mostrou o lugar que eu devia pegar a lama e perguntou se podia espalhar nas minhas costas. Apagou a luz da lanterna, para supostamente não acabar a bateria, e começou a espalhar a lama em mim.
Para a história aí! Eu sei, fui um pouco estúpida. Depois contando essa história para um Francês que conheci também em Vinales, percebi como fui estúpida! Mas mais uma vez tive sorte, e o menino era muito bonzinho apesar de suas más intensões. Disse pra ele que não estava gostando daquilo e que queria voltar. Ele prontamente ligou a lanterna, me ajudou a descer da pedra que estávamos, e começamos a voltar. Nada aconteceu, sai de lá sã e salva.
No caminho de volta conversamos mais um pouco, demos mais algumas risadas, e quase chegando de volta a sua casa ele pediu para segurar a minha mão, me puxou, e roubou um beijo, de cima do seu cavalo. Foi bonitinho! Podia até virar uma história de amor, mas não virou. Chegando na sua casa, insistindo para entrarmos de mãos dadas, me disse que à noite me convidaria para tomarmos uma cerveja, mas a noite chegou e ele não me convidou. Confesso que fui dormir aliviada.
No outro dia pela manhã a pequena Jessica estava choramingando na cozinha. Ela estava reclamando para a sua vó que sua mãe havia saído e esquecido de lhe dar um beijo. Tatica aproveitou a minha presença para dizer a ela que entregasse o beijo à mim, e que assim que eu saísse para o centro da cidade encontraria sua mãe e entregaria o beijo à ela. Jessica aceitou a proposta e me deu um beijo bem estalado. Sai logo cedo para conhecer uma praia linda da região chamada Caio Jutias. No final do dia fui tomar umas cervejas com novos amigos que conheci na praia e cheguei de volta na casa um pouco tarde. Tatica ainda estava acordada e me disse que havia feito a reserva para a casa que ficaria no outro dia em Playa Larga.
No último dia, acordei pela manhã com a voz da pequena Jessica, que todo dia vinha me dar bom dia enquanto eu estava tomando café. A obra do banheiro estava quase pronta e Tatica me chamou para mostrar como estava ficando. Peguei as minhas roupas que ela havia deixado dobradas em cima da cadeira, porque eu havia esquecido de recolhe-las na noite anterior, e terminei de arrumar as minhas coisas.
Estava me sentindo em casa. Na hora que fui dar tchau, Jaciel me deu um abraço apertado e um beijo demorado no rosto, a pequena Jessica pulou no meu pescoço e enchi ela de beijinhos, Tatica passou a mão no meu rosto, me deu um beijo e um abraço e me agradeceu muito por estar lá, Chino me estendeu a mão, mas mudou de idéia e me puxou para um abraço e um beijo. Era como se estivesse indo embora da minha própria casa e me despedindo da minha própria família... e eu não tirei nenhuma foto.
Tudo bem, agora, depois dessa descrição detalhada, creio que tenha mais recordações dessa família do que qualquer foto de Iphone poderia me dar!
 
Olha a pose!
 

Jaciel de pé no cavalo.


A praça central.

Praia de Caio Jutias

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Papas a la francesa- México!

Era um domingo de sol na Cidade do México, e eu e a Ana decidimos almoçar num lugar bacana em um bairro "cool". Estávamos em frente ao museu infantil projetado pelo Barragán, no Parque Chapultepec, que eu havia insistido em conhecer mas que não tinha nada demais, quando decidimos pegar um táxi. Afinal estávamos com fome, e apesar de usarmos bastante o sistema público de transporte, que funciona muito bem, achamos que era mais conveniente ir de táxi dessa vez.
 
É interessante como a noção do que é caro e barato, quando troco de moeda, demora pra acontecer. No início converto tudo pra Real e comparo com os preços do Brasil, ou melhor, de São Paulo (tudo é mais barato que São Paulo) e depois de uns dias, que já sei quanto custa uma água, um almoço, e uma corrida de táxi, sei o que é caro e barato sem precisar converter.
 
Nesse dia o táxista "deu uma de esperto" e cobrou o dobro. Como era o nosso segundo dia pela cidade nem notamos, afinal era mais barato do que em São Paulo. Péssimo parâmetro!
 
Acho que uma das coisas que mais gostei no México foram dos Mexicanos. Todos bem humorados, simpáticos, cheio de histórias pra contar, e mesmo esse taxista esperto foi uma simpatia. Conversou o caminho todo, nos encheu de dicas, contou inúmeras histórias sobre o país e seus problemas sociais. Sobre os problemas, aparentemente, o país não está passando por um bom momento. Segundo um Mexicano que conhecemos em Cozumel, há uma onda de seqüestros e violência regida pelas milícias que dominam certas regiões do país.
 
Logo nos primeiros dias pela cidade nos deparamos com uma enorme manifestação, no centro da cidade, sobre o caso de Ayotzinapa.
No último dia 26 de setembro, na cidade de Iguala, no distrito de Guerrero,  49 jovens estudantes foram seqüestrados, durante um protesto, e simplesmente sumiram. Quando ficamos sabendo da notícia, fiquei curiosa e fui buscar mais informações sobre o que havia acontecido, e para a minha surpresa, e total espanto, não havia mais informações. Ninguém sabia o que de fato tinha ocorrido, quem era responsável pelo sequestro, o que os jovens estavam fazendo reunidos na noite em que desapareceram... Apenas especulações. Talvez especulações que poucos tenham coragem de divulgar, pois o que afirmam é que a polícia local havia entregue os 49 jovens da oposição, aos narcotraficantes. Os cartéis são tão poderosos nesse estado que estão infiltrados no governo e na polícia, e parecem estar acima de qualquer lei. Confesso que fiquei chocada!
 
Quando chegamos à Oaxaca, uma cidade colonial, linda e charmosa, conhecida por sua gastronomia (tivemos um jantar maravilhoso por lá), haviam muitas pessoas acampadas no Zocálo, a principal praça da cidade, em protesto aos desaparecimentos.
 
O México é um país grande em território, tem mais de 22 milhões de pessoas vivendo só na Cidade do México, ou DF, como referem-se por aqui, e guarda muitas hostórias, desde as civilizações pré-hispânicas, dos Maias, Olmecas e, Salpotecas, até a história moderna de conflitos políticos e econômicos. 
 
A, e tem também a Frida Kahlo e o Diego Rivera, que são uma história à parte, cheia de amor, de arte, de cultura, uma história fascinante que nos transporta para um México diferente, e pela qual me apaixonei.
 
Não é a toa que a Cidade do México é fascinante! Por sua arquitetura muito bem conservada, por seus inúmeros museus, além de seus parques e áreas verdes. Fiquei encantada com as ruas da cidade, com as cores, com a comida, com os deliciosos tacos, tostadas, enchiladas, concluí que poderia viver nessa cidade por um bom tempo e tentar desvendar os segredos desse país!
 
Depois da Cidade do México ainda fomos conhecer Puerto Escondido, uma cidade de praia no Pacífico, conhecido por suas ondas perfeitas para o surf. Um lugar tranquilo e bonito, ótimo para relaxar. De lá pegamos um ônibus e viajamos durante 7 horas até chegar em Oaxaca, a cidade da maravilhosa gastronomia, com mercados e restaurantes.
 
Aaa, sim, voltando a história do almoço. Chegamos no bairro
"cool" e demoramos um pouco para achar um restaurante que nos agradasse e que coubesse no meu orçamento. Mas quando conseguimos sentar em um, com mesinhas na calçada, em um lugar super agradável, estávamos morrendo de fome. Pedimos as enchiladas com molho de tomate verde, que havia sido recomendação do taxista esperto, e resolvemos também experimentar algo novo no cardápio.
- Que tal essas papas a lá francesa?
- Mmmm deve ser interessante né?
- Deve ser uma batata rústica, ou com um molho... Vamos pedir!
Quando o garçom apareceu trazendo batatas fritas, a Ana logo percebeu, e com uma cara de que havia matado a charada, um pouco decepcionada, disse olhando pro garçom:
-aaaaa, papas a la francesa, french fries! 
E o garçom nos olhou com uma cara de quem diz: claro né, suas bestas! Caímos na risada e devoramos as batatas mesmo assim! Foi um ótimo almoço, em ótima companhia, num lindo domingo de sol.

Enchiladas Verdes
Puerto Escondido
 
Manifestação em Cidade do México
 

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

As surpresas de uma viagem.


Às vezes somos surpreendidos positivamente, e às vezes nem tanto, pelos lugares que escolhemos para fazerem parte do roteiro da nossa viagem. Diria que a Colômbia enquadra-se nesses destinos surpresas. Bogotá, a capital do país, me surpreendeu de um jeito não muito positivo, achei que a cidade seria mais bonita e moderna. Cartagena também foi uma surpresa, achei que chegaria lá e me jogaria na beira da praia de areia branca com mar azul e só sairia oito dias depois. Também não foi bem assim. Mas aí o país me surpreendeu com a moderna Medellin, e com as belas paisagens de Tayrona e Salento, lugares que eu nem sabia que existiam antes de vir pra cá, e principalmente com a hospitalidade, gentileza e alegria do povo nas ruas.
Assim que cheguei em Medellin, um pouco perdida depois de ter descido de um ônibus vindo do aeroporto, em um terminal de ônibus, pedi ajuda à um policial que organizava o trânsito, no meu maravilhoso espanhol. Ele parou o que estava fazendo e tentando falar em Inglês, acho que para praticar ou achando que eu não entendia espanhol, me acompanhou até a porta da estação do metrô para ter certeza que chegaria ao local em segurança. Depois disso pedi ajuda para umas outras cinco pessoas no caminho do hostel (era um pouco difícil achar esse lugar) e todas ajudaram com sorriso no rosto e se esforçando ao máximo para eu acertar o caminho.
Cartagena guarda na sua cidade murada muitos encantos, mas o bairro em que estive hospedada, fora dos muros da cidade antiga, foi uma deliciosa descoberta. Era como um bairro antigo, onde no meio de restaurantes e novos hotéis charmosos ainda preservam-se casas de antigos moradores da região, uma mistura e tanto. Eu e a mãe nos apaixonamos pela praça do bairro onde haviam pequenos restaurantes com mesas na calçada e banquinhas com comida de rua. Jantamos lá vários dias de nossa estadia.
As praias da cidade, ao contrário do que eu pensava, eram feias, com areia escura e mar também escuro. Para chegar à uma praia de foto de revista, era preciso tomar pequenos barcos e navegar por aproximadamente uma hora até uma ilha de areia branca. Acho que todo esse esforço era recompensado quando avistávamos, ainda do barco, aquela prainha esperando por nós.
Cartagena é realmente um ponto turístico de viajantes do mundo todo, isso significa ter que brigar com vendedores ambulantes na praia para ter um pouco de sossego e também pagar mais caro por tudo. Já o Parque Nacional Tayrona, próximo a Santa Marta, reservava pra nós muito sossego. O lugar é simplesmente lindo. Para chegar até as praias e hospedagens é necessário fazer uma trilha de uma hora, talvez um pouco mais, e acho que isso ajuda a deixar o local ainda mais interessante. Eu amei esse lugar, poderia passar uma semana por lá, simplesmente fazendo nada, mas tínhamos que seguir viagem.
Como já disse anteriormente, a Colômbia surpreendeu também por sua culinária, umas das melhores até agora nessa viagem. A comida é simplesmente deliciosa, e a cada dia que passa me apaixono ainda mais pela comida. As arepas já fazem parte da minha alimentação básica, e o café, aaaa o café, temo dizer que é melhor que o do Brasil.
Medellín foi outra surpresa. A cidade é linda, moderna, e em um free walking tour pelo centro da cidade aprendi muitas coisas sobre a Colômbia de Pablo Escobar e das drogas, mas também de como a cidade, e todo o país, estão se esforçando para mudar esse cenário com seu moderno sistema de transporte público, de “cablecars” para os morros, e também linhas de metrô de superfície. Realmente, a cidade não deixa à desejar. Fiz também um passeio até Guatapé, uma pequena cidade próxima com uma enorme pedra no meio de uma região de montanhas e lagos, com uma paisagem encantadora.
Mas a maior descoberta que tive até agora nesse país foi esse pequeno vilarejo chamado Salento, na região cafeeira do país. Uma cidade com pequenas casinhas coloridas no meio de montanhas e com as maiores palmeiras do mundo. Para chegar na cidade tomei um ônibus do moderno terminal de Medellín e viajei seis horas de ônibus até quase chegar à Armênia, uma cidade ao sul de Bogotá. O ônibus simplesmente parou no meio da estrada, e eu e outros viajantes europeus (sim porque os brasileiros ainda não descobriram a Colômbia, só Cartagena) atravessamos a estrada e esperamos um pequeno ônibus para nos levar até o centro do vilarejo. Eu não havia feito nenhuma reserva de hostel, então me aproximei de um grupo de ingleses e fui parar nessa pousada que parece mais uma casa de boneca. Adoro ser surpreendida assim, com lugares incríveis, com pessoas adoráveis que deixam a viagem ainda mais interessante.
Aqui, nesse pequeno vilarejo, no primeiro dia fiz uma trilha de quatro horas de caminhada em um parque, reserva natural, e no dia seguinte um tour por uma fazenda de café. À noite fui jogar Tejo, um jogo que mistura bocha, com explosões de pequenas bombinhas, times, e muitas risadas. Só jogando para entender. Foi uma noite muito divertida.
A viagem pela Colômbia ainda não acabou, ainda tenho que desvendar algumas pequenas cidades, vamos ver que outras surpresas o país reserva para mim!
P.S: escrevi esse texto há mais de uma semana quando ainda estava na Colômbia, por falta de internet não publiquei-o antes. Depois disso ainda fui à Cali e Popayan. Agora estou no México,e em breve escreverei sobre esse país maravilhoso.
Medellin

Guatapé

Tayrona

sábado, 27 de setembro de 2014

Qual é o seu sonho?

Qual é o seu grande sonho? O meu? Sim, o que você sonha um dia realizar, aquele seu grande sonho da juventude, qual é? É, mmmm, bom, eu acho que, mmmm, é...

A verdade é que odeio essa pergunta, sempre odiei, pelo simples fato de não saber respondê-la. Poderia responder que é viajar, mas isso não é um sonho, é simplesmente algo que gosto muito de fazer, assim como gosto de comer e beber. Poderia dizer que é dar a volta ao mundo, mas isso é algo que decidi fazer há pouco tempo atrás. Ser astronauta, trabalhar no Green Peace, morar em Nova York, casar e ter filhos, abrir um negócio, nada disso...

E mesmo não gostando dessa pergunta, uns dias atrás recebi um vídeo sobre "como alcançar seus sonhos", ou algo assim, e resolvi assisti-lo. Era um vídeo meio chato, de um cara falando horas sobre como transformar seu sonhos em negócio, mas aí ele falou certas coisas que na hora não dei muita atenção, mas que ficaram martelando na minha cabeça por alguns dias.

Ele começava dizendo que muitas vezes os sonhos surgem através de pessoas que conhecemos, ou de pessoas que nos inspiram. Você conhece aquela pessoa e pensa,  "poxa, queria ter a vida igual à dela por tais e tais motivos". E sem racionalizar muito passa a fazer coisas como aquela pessoa, ou então, surgem pensamentos como,  "o que essa pessoa faria se estivesse na minha situação"? Comigo isso aconteceu mais de uma vez, acho que tive a sorte de conhecer pessoas realmente inspiradoras.

Mas isso não é o suficiente, certo? Tem que haver algo mais, algo que é só seu e de ninguém mais. E aí o vídeo chato deu a resposta que eu precisava. É possível ter muitos sonhos, e envolver-se com muitas coisas, defender diversas causas ao longo da vida. Plim! Fez-se a luz! É isso! Eu não tenho um sonho, eu tenho vários, exatamente como os meus sonhos reais, aqueles que acontecem durante as horas de sono. Começo sonhando que estou numa mesa de jantar com amigos e termino sonhando que estou voando no meu unicórnio. Eu, às vezes, estou tão envolvida com a causa que acho que vou mudar o mundo, que vou me unir a um grupo de pessoas e promover uma revolução! E às vezes, meu grande sonho é somente chegar num lugar com chuveiro quente e uma cama para descansar depois de um longo dia.

Parei de me preocupar! O meu grande sonho agora é viver os meus dias da melhor forma possível, com amor e bondade, valorizando as pequenas conquistas e deixando as grandes pra depois. Uma hora elas surgem, sejam elas quais for.

domingo, 21 de setembro de 2014

O mais importante é o decidir!

Descobri porque tenho horror à "rotina"! O problema não é fazer o mesmo todos os dias, o problema é a falta de desafios quando não há escolhas.

Isso mesmo, se você faz sempre a mesma coisa, você não escolhe, você não pensa, você simplesmente repete uma escolha que você fez há algum tempo atrás. Mas quando não há rotina, quando seus dias podem ser qualquer coisa, você tem que decidir o tempo todo.

Eu acordo pela manhã e decido se levanto ou demoro mais um pouco na cama, se tomo café da manhã na padaria ou nem como nada, se caminho pela vizinhança ou pego um metro, se fico 20 minutos ou 2 horas naquele lugar. Isso quando não há decisões maiores para tomar, como que destino escolher para a próxima parada, onde ficar, quanto tempo...

Acho que só agora me dei conta disso. Só agora, depois de comprar uma passagem e pensar: mas teria sido melhor eu ter ido para a outra direção né?! Ou depois de resolver ir embora da cidade e ser tomada por uma sensação de "bem que eu poderia ter ficado um pouco mais, e ter conhecido aquele lugar que parecia tão interessante". Bom, o que parece é que sempre que decidimos algo, deixamos outro "algo" para trás. Por isso que na vida o mais importante é o decidir, já dizia Cora Coralina.

Eu sempre fui muito racional nas minhas escolhas e sempre tentei planilhar os prós e contras de cada decisão, e planejar bem os próximos passos, mas há algum tempo que venho tentando ser mais intuitiva e menos racional. Achava que estava me saindo bem nessa tentativa até essa viagem. As últimas decisões e os "ses" que surgiram fizeram eu perceber que ainda sou muito insegura. Estou aprendendo. Já descobri que apesar de toda insegurança e ansiedade que surge a cada decisão é disso o que eu gosto, é isso que me faz sentir viva, e não importa muito se a escolha foi a mais adequada, o que importa é a imprevisibilidade, é o novo, o desconhecido, a falta de rotina, é viver aquilo que eu mesma escolhi e arcar com todas as consequências, sejam elas boas ou ruins. E sei que quando retomar a minha vida de trabalho voltarei a ter uma rotina, mas também sei que poderei decidir por ter uma vida com mais escolhas e menos repetições, do jeitinho que eu gosto.

Hoje resolvi comer galletas de chocolate com sorvete de creme, mesmo sabendo que tenho que maneirar nas calorias pra não virar uma bola,  e decidi ir no cinema mesmo tendo uma cidade pra desvendar e pouco tempo por aqui. Decisões bobas, mas no fim não deixam de ser escolhas, escolhas nesse mundo repleto de opções. Que bom! 

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A cidade das Arepas, Bogotá.

Eram como pequenos discos brancos, dourando em cima de uma grelha quente, com um cheiro delicioso e uma ótima aparência. Havia várias pessoas na volta esperando por sua porção. Assim que passei pela barraca, na rua próxima ao nosso apartamento alugado, fiquei curiosa. Não sabia o que era, mas a minha “alma gorda” já suplicou por um pedaço. Mais tarde descobri que eram Arepas, uma massa de canjica (de milho), com queijo e manteiga. Uma delícia! Viciei, e comi uma dessas quase todos os dias em que estive em Bogotá.

Até agora a culinária Colombiana foi a que mais me agradou. São tantas coisas diferentes e deliciosas que é difícil eleger o prato preferido. Eu e a mãe fomos em alguns bons restaurantes e tivemos a oportunidade de experimentar alguns pratos tradicionais, como o Tamale, a Bandeja Paisa, a sopa Ajiaco, e outras delícias de rua que não lembro mais o nome. Talvez os quitutes colombianos sejam o que há de mais interessante na cidade.

Bogotá é uma cidade grande, com mais de 6 milhões de habitantes espalhados em prédios baixos e casas. O trânsito é pior que o de São Paulo, se é que isso é possível. Em nosso primeiro dia resolvemos voltar da parte norte da cidade para o nosso apartamento, de ônibus, às seis horas da tarde. Lembrei de um vídeo que assisti, do metrô no Japão (eu acho) em que havia policiais empurrando os passageiros para dentro dos vagões. Era mais ou menos isso! O sistema de ônibus da cidade é como o de Curitiba, em plataformas, que para acesso é necessário pagar a passagem antecipadamente e passar por uma roleta. As pessoas nas plataformas, amontoam-se esperando por seu ônibus, e quando esse chega apertam-se tanto que na hora de fechar as portas parte das roupas e mochilas ficam para o lado de fora. Que experiência emocionante!

A cidade não é bonita mas tem partes interessantes. No centro, os Rolos (quem nasce em Bogotá) andam apressados, e de vez em quando param para fazer ligações em celulares emprestados. Isso mesmo! Espalhados pela cidade pessoas carregam um a plaquinha com o valor do minuto cobrado, e qualquer um pode chegar, pagar, e usar o telefone para fazer ligações. Um substituto do bom e velho orelhão, que pelo jeito sumiu por aqui.

Próximo ao centro há um teleférico que sobe uma montanha, o Montesserate, e lá de cima a vista é fantástica. Em uma manhã nublada fizemos um tour pelas ruas da Candelária, um bairro histórico também no centro da cidade, para conhecer a arte de rua, de grafiteiros. Foi o máximo! Fomos também até uma parte da cidade mais chique, com lojas e restaurantes, próximo ao Centro Comercial Andino. Visitamos o Museu do Ouro e o Museu do Botero. E fizemos um tour até a Lagoa Guaravita e também a Catedral de Sal.

A Catedral de Sal foi realmente surpreendente. Achei que chegaria lá e veria uma igreja construída com blocos de sal, com um altar com uma cruz também de sal, e na saída haveriam vários vendedores ambulantes vendendo terços de sal. Por isso que digo, às vezes não saber é melhor do que ler qualquer resumo no Lonely Planet. A Catedral foi construída em uma antiga mina de sal, de mais de 500 anos e ativa até hoje. Para chegar até ela é preciso andar por um longo túnel, e descer a mais de 120 metros da superfície. É incrível, são enormes salões que abrigam as naves da Catedral e que fazem dessa visita uma experiência única.

Deixamos Bogotá em uma sexta pela manhã para voar até Cartagena. A mãe veio passar dez dias de suas férias comigo e resolvemos dividi-los entre Bogotá e Cartagena. Acho que os dias que passamos por lá foram suficientes para ver e sentir um pouco dessa cidade e da cultura Colombiana. Gostei, ainda mais por estar em tão boa companhia!


Os discos brancos
 
As chamadas de celular
 
O Túnel para a Catedral de Sal

domingo, 7 de setembro de 2014

Hay Paro! – Arequipa, Peru.

Eu tinha três dias em Cusco antes do embarque para a Colômbia, e já tinha rodado bastante pela cidade e seus arredores. Então decidi conhecer Arequipa, uma cidade ao sul do Peru, da qual havia recebido boas indicações.
 
Comprei uma passagem para quinta à noite, saindo de Cusco as 20:30 e chegando à Arequipa no outro dia pela manhã. Só depois que comprei as passagens é que me dei conta que dez horas de viagem de ida, mais dez horas de volta, não seriam pouca coisa. Na hora só pensei que poderia viajar durante a noite e economizar na hospedagem, mas não realizei que vinte horas eram suficientes para ir de São Paulo à Caxias do Sul!
 
Bom, já tinha comprado a passagem, agora só restava relaxar antes da partida. Eu estava num hostel com a Vanessa, minha nova amiga brasileira que conheci na trilha Salkantay, ela também pegaria um ônibus para Puno, e então decidimos que beberíamos a tarde toda para ocupar o tempo e facilitar as horas de sono durante a viagem.
 
Cheguei na rodoviária a pé, correndo, pois queria economizar com o táxi, mas por um pequeno “erro de cálculo” levei mais tempo do que eu imaginava. Meio tonta no meio de tanta gente, levei uns dez minutos para achar o guichê da companhia de ônibus onde eu deveria trocar o bilhete, e mais outros dez minutos em uma outra fila para pagar uma taxa de uso do terminal (sim, tem que pagar uma taxa para estar na rodoviária), e depois mais um bom tempo tentando entender de onde saía o ônibus. Ao contrário do Brasil, o box de onde sai o ônibus não está marcado na passagem, é preciso procurar por todos os cantos até encontra-lo. Meio na sorte mesmo. Enquanto eu estava lá, atordoada no meio de tanta gente gritando, me atropelando com suas malas, encontrei por acaso um outro amigo, que também conheci na trilha, e que também estava na batalha para encontrar seu ônibus. Conversamos um pouco, rimos mais um pouco, e cada um seguiu seu rumo. O ônibus saiu atrasado quase meia hora.
 
No ônibus passou um filme (muito bom aliás), serviram um lanchinho e tinha um cobertor e também calefação. Ótimo, não podia ser melhor. Na verdade poderia, se não fossem as inúmeras curvas da estrada, e buracos, que me sacolejaram a noite toda até chegar lá. As sete da manhã já estava na praça principal, sentada num restaurante agradável, tomando um café, esperando para visitar o Monastério Santa Catalina.  A cidade é realmente linda, está emoldurada pelos três vulcões e tem muitas construções antigas bem conservadas que deixam a cidade um charme. Caminhei, caminhei, caminhei, num dia lindo de sol, encantada com sua beleza, com suas praças e sua arquitetura. Visitei o Monastério, que achei lindo. Fiquei muito impressionada com o tamanho do edifício, com as cores, os espaços. Gastei algumas horas por lá, curtindo cada canto antes dos turistas chegarem em seus grupos.
 
Depois da visita ao Monastério resolvi procurar um restaurante para almoçar. Eis que caminhando pelas ruas da cidade escuto chamarem meu nome. Nem me dei o trabalho de olhar, quem estaria me chamando nessa cidade tão longe de tudo? Chamaram de novo, resolvi olhar. Era a Joane e o Andy, o casal de amigos Ingleses que conheci no Salar do Uyuni e que estavam passando uns dias pela cidade! Ai, como são boas essas coincidências de viagem!
 
Visitamos o mercado e almoçamos por lá. (Estou ficando boa nesse negócio de comer em mercados e em bancas de comidas de rua.) Decidimos passar a tarde em um terraço com uma linda vista para a cidade, bebendo alguns drinks e esperando o pôr do sol. Ótima tarde em ótima companhia.
 
Eram sete horas da noite e tive que deixá-los para enfrentar a segunda parte da saga “viagem de ônibus”. Viajar de ônibus em estradas locais é uma experiência que deveria fazer parte de qualquer viagem em um novo país. É pura cultura!  Cheguei na rodoviária e levei algum tempo para encontrar o balcão da empresa de ônibus. Entrei na fila e esperei, e esperei. Estavam com um “problema no sistema” e a mocinha do balcão não conseguia fazer outra coisa a não ser esbravejar e socar o mouse na mesa. As pessoas começaram a ficar agitadas, preocupadas que não teriam tempo para comprar seu ticket. Depois de brigar com uns dois que tentaram passar na minha frente, consegui estender o braço com o meu papel e fazer a menininha trocar por um boleto preenchido a mão, já que o computador havia travado. Bom, sai correndo para pagar a taxa de uso do terminal, e depois para achar o ônibus no meio da multidão.
 
Ufa! Embarcada, e com a sorte de não ter ninguém do meu lado dessa vez, me acomodei na cadeira e logo dormi. No meio da noite o ônibus para (já vi essa história antes) e a senhora ao lado grita: Hay um paro! Um “paro”? Penso eu - O que seria isso? E ali ficamos parados por algum tempo até o motorista subir correndo as escadas e pedir pra todos fecharem as cortinas. Ai, ai, isso não tá certo!
 
Depois de quase uma hora parados começamos a movimentarmos novamente, passamos pela primeira barreira de pedras e fogueiras na beira da estrada. Eram manifestantes, trabalhadores, que haviam fechado a estrada em protesto. Havíamos passado pela primeira barreira, mas haviam mais duas em seguida. A segunda não levou muito tempo para passar, mas na terceira paramos e ficamos. Já estava amanhecendo quando o batalhão da polícia chegou no local, eram inúmeros policias paramentados. Não sabia se ficava aliviada ou se passava a ter medo. Os policias passaram para a negociação com os grevistas, e nós ficamos. Pareceu uma eternidade. Só ficava pensando em como avisaria meus pais que estava lá parada, que perderia o voo para a Colômbia, mas que estava tudo bem. Estava no meio do nada em algum lugar do Peru.
A senhora ao lado tinha informações privilegiadas e não saia do telefone, ela deve ter recebido mais de dez ligações enquanto estávamos parados ali. Descobri que ela também chamava-se Marina enquanto ela avisava à todos no ônibus que o sobrinho dela estava na manifestação, e que no máximo em meia hora nos deixariam passar. Meia hora que pareceu dois dias. Mas passamos! Depois de mais algumas horas estávamos em Cusco. Cheguei no hostel acabada, cansada, só queria tomar um banho e descansar um pouco.
 
Realmente, tudo isso foi muito mais divertido e emocionante do que se tivesse ficado as últimas noites em Cusco. Mais uma aventura para contar! Conheci a linda cidade de Arequipa, adquiri mais algumas palavras para meu vasto vocabulário espanhol, conheci a Marina, encontrei amigos, fiquei um pouco apreensiva, cansada, e terminei assim meus dias pelo país. Agora parto para a segunda parte da viagem, na Colômbia. Vamos ver que outras histórias me esperam por lá!


O céu de Arequipa

O Monastério