quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O amor em tempos de Tinder.

Depois de 15 dias de conversa pelo Skype eu estava embarcando pra Bangkok, pra conhecer o Paquistanês que tinha conquistado o meu coração...

Sou usuária do Tinder há alguns anos, e costumo dizer que é como fazer parte de um grande experimento social. Lá consigo elaborar muitas teorias sobre amor e relacionamentos, e ainda testar muitas outras. Ah, se Platão vivesse em tempos de Tinder, eu e ele seríamos grandes amigos.

É engraçado, que pra começo de história, muita gente tem vergonha de dizer que está no Tinder, ou ainda afirma que não precisa disso pra conhecer pessoas, ou que tem medo. Tsc, tsc, tsc! Bobinhos! O Tinder nada mais é do que “sair pra paquerar” sem ter que sair de casa. É como se eu estivesse em todos os bares, programas cults e parques da cidade, ao mesmo tempo, sem gastar dinheiro ou fôlego. E ainda com a vantagem de saber que a pessoa está disponível, e que também tem interesse por mim. Uaaaauu, isso é fantástico!

Eu, por exemplo, defini alguns critérios para otimizar ainda mais o meu tempo no aplicativo. Não dou "likes" para selfies dentro do carro (1 em cada 3 homens tem uma foto dentro do carro) - se o carro é o mais importante pode ter certeza que não temos muito em comum. Não dou like para quem tem uma única foto no perfil - assim é fácil parecer bonito! E nem para fotos mal tiradas, de má qualidade- se a pessoa não tem ao menos uma foto legal, que algum amigo tirou, é que essa pessoa não anda fazendo muitas coisas legais ultimamente. Tá, entre outras coisas óbvias, como fotos de sunga ou no espelho da academia.

Aos outros que aparecem, dou uma chance, leio os seus profiles e me dedico à olhar os detalhes na foto. Hoje mesmo eu dispensei um menino que em uma das fotos usava uma camisa da Dudalina..."Que horror Marina! Que preconceito!"

Sim, acontece que nesse mundo de relacionamentos virtuais, o que mais usamos são os nossos pré conceitos para julgar quem está lá do outro lado. Não tem outra forma. No mundo do Tinder o Eduardo nunca teria saído com a Mônica. Eles eram muito diferentes...

Talvez por isso que eu estou em constante conflito com os acontecimentos Tinderianos. Não quero deixar de conhecer pessoas pelo meu julgamento, quero ter a oportunidade de ser surpreendida, assim como quando eu conhecia um carinha na balada, nos meus áureos tempos de noitada. E foi por essa razão que estabeleci uma outra regra: não troco Facebook antes de conhecer pessoalmente. Já não basta todos os julgamentos prévios? Ainda precisamos ver a vida inteira da pessoa antes de sair pra tomar um café? Esses dias, um menino disse que não sairia comigo se antes eu não me tornasse sua amiga no Face, por segurança. Por segurança a Monica nunca teria trocado telefone com o Eduardo e muito menos teria ido encontrá-lo no parque da cidade. Se a pessoa tem medo de marcar um encontro pra um café provavelmente nunca terá coragem de colocar o pé na estrada sem destino. Então, de novo, pouco temos em comum.

Acontece que escrever sobre o Tinder é escrever sobre os relacionamentos modernos. Relacionamentos que nascem da obsessão de encontrar alguém que se encaixe em pré-requisitos, em regras pré-determinadas. "Não faço isso, não faço aquilo. Pra ficar comigo tem que ser assim ou assado. Quero um relacionamento desse e desse jeito." Sem deixar espaço pro acaso, pro diferente, espaço pra quebrar a cara e aprender com as frustrações, pra testar todos os tipos de relacionamento. 
As pessoas têm medo de experimentar, e esperam a perfeição sem nunca ter experimentado o imperfeito. O Tinder é apenas uma ferramenta para os relacionamentos atuais, não muda nada do que aconteceria naturalmente.
E esses indivíduos estão tão obcecados em encontrar alguém que se encaixe em um certo estereótipo que acabam se iludindo. E depois, lá na frente, se dão conta que estão com alguém diferente daquilo que haviam idealizado. Veja só! Agora é tarde demais!
Eu, ainda quero me jogar de cabeça, me entregar, viver intensamente, me apaixonar. Já quebrei a cara umas tantas vezes, meu coração já ficou em frangalhos, mas isso não é motivo pra recuar. E foi assim, desse jeito intenso, que eu conheci o Muhammad, pelo Tinder, numa breve passagem por Bangkok. Começamos a conversar só depois que eu já estava a milhares de kms de distância, na Indonésia. Ele não se encaixava em nenhum pré-requisito. Ele era mulçumano, paquistanês e estava à milhas de distância, mas mesmo assim algo me atraiu. E mesmo com tudo diferente veio meio de repente uma vontade de se ver, e os dois se encontravam todo dia e a vontade crescia como tinha que ser...

Voltei pra Bangkok para conhecê-lo, sem contar nada pra ninguém (quantas pessoas me chamariam de louca por isso)! Quando nos vimos pela primeira vez parecia que já nos conhecíamos há séculos. Vivi uma das melhores semanas da minha viagem ao seu lado. Ele era carinhoso, engraçado, e conversávamos por horas dos mais diversos assuntos. Inclusive sobre a minha descrença em Deus e sobre seu orgulho por ser muçulmano paquistanês.
Eu fui embora, como previsto, mas ganhei um amigo. Hoje continuamos conversando por Skype, sempre que da. E aprendi pela experiência que relacionamentos podem surgir assim, em qualquer lugar, pelo Tinder, até com a pessoa menos provável. Porque o mais importante nessa vida são as pessoas que conhecemos, e o que nos permitimos aprender e viver com elas. Esses serão os momentos que vamos lembrar pra sempre, e não aqueles que gastamos sentados no sofá vendo fotos de desconhecidos passar pela tela do celular.
E quem irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração, e quem irá dizer que não existe razão...

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