domingo, 21 de junho de 2015

A Greve na Bélgica- texto de 7/12/14

Acordo às 4 da manhã no meu hostel em Luxemburgo, depois de uma noite mal dormida por causa de uma mulher que roncava mais alto que meu pai.

Saio do hostel as 4:15 em direção à estação de trem, caminhando 2 kms lomba acima, com a minha mochila de 14kgs nas costas. Me recusei a pagar 20 euros para pegar um táxi.

Chego em tempo, um pouco suada e descabelada, e sento perto do letreiro para verificar de onde sairia meu trem.

Eis que aparece no letreiro: train supprimé. Cutuco o rapaz ao meu lado e pergunto se significa o que eu tinha entendido. Isso mesmo, o trem foi cancelado.

Espero o local de venda de bilhetes abrir, e com cara de desespero pergunto ao rapaz do balcão o que aconteceu.

- É a greve na Bélgica moça! Nenhum trem entra ou sai do país.

- Sério? Eu tenho um voo saindo de Amsterdã às 2 da tarde, preciso chegar lá. Não existe nenhuma maneira de chegar na Holanda sem passar pela Bélgica?

Ele me olha com uma cara de quem pensa, claro que não sua ignorante, mas educadamente responde:

-Não senhora!

Ok, sento de novo em frente ao letreiro e penso no que posso fazer. Fico ali olhando o letreiro quando aparece: trem partindo as 6:11 com destino a Paris.

Volto correndo ao gichê de venda de passagens.

- Gostaria de trocar esse meu ticket para Amsterdã por um para Paris.

-Ok, senhora, plataforma 7 em 15 minutos.

Parei no ponto wi-fi da estação, avisei a Neominha que não chegaria à Dublin, reservei um hostel pelo Hostelword, e embarquei.


E aqui estou! Bonjour Paris!

Acabo de comprar um novo voo para Dublin, saindo de Paris no sábado pela manhã! Tive um prejuízo de 88 euros do voo que perdi, mas ganhei dois dias nessa cidade maravilhosa! 

É, acho que ficar triste e "pobre" em Paris até que não é tão ruim assim! Hehehehe

Tailândia

Quando eu digo que estou viajando pelo mundo algumas pessoas me perguntam: e aí, qual seu país preferido?
Como se desse pra comparar banana com maçã!
A questão é que todos os lugares tem coisas boas e ruins e é difícil comparar entre culturas tão diferentes, e eleger o melhor país. 
Maaaaaasssss... temo dizer que tenho o meu país queridinho! Sim, tenho uma queda, um carinho, um amor pela Tailândia! 😍
Conheci um Australiano que morou durante anos no Brasil e também algum tempo na Tailândia. E ele disse: A Tailândia é o Brasil do Sudeste Asiático! 
Bingo! É isso! O nosso povo é muito parecido, por isso que me sinto tão em casa quando estou aqui.
Bom, sendo assim, elegi aqui 14 razões pelas quais eu amo a Tailândia. Não que eu precisasse justificar o meu amor, mas talvez assim consigo mais fãs pro local.
1) A comida Tailandesa.
Sem dúvida a melhor que eu já comi. Tá ali, ali com a italiana, mas é mais saudável, e mais apimentada! E eu aprendi amar comida apimentada depois da minha primeira viagem ao país.
2) A comida de rua.
Tá bom, podia entrar no item 1, mas acho que merece um quesito especial! A comida de rua é barata, é variada, é fresca, e é muito gostosa. Na Colômbia a comida de rua também é tentadora, mas de novo a Tailândia ganha disparado, por sua variedade, disponibilidade (há qualquer hora, em qualquer esquina) e sabor.
3) O Seven Eleven.
Só quem já veio à Tailândia vai entender. Existem Sevens Elevens, por toda parte, um em cada esquina. Um paraíso de preços baixos e variedade pros mochileiros. Fora a toast feita na hora! Minha preferida!
4) Friendly people.
Não conheci nenhum outro lugar na minha viagem onde as pessoas locais fossem tão amigáveis. Talvez Cuba possa competir nesse quesito, mas de novo  a Tailândia ganha disparado! As pessoas são sorridentes e solícitas, e todos parecem se esforçar muito pra tentar  te entender!
5) Thai Massage.
Experimentei massagens no Laos, Camboja e Vietnã, e a Thai Massage é a melhor, com toda a certeza. Por R$18,00 você ganha uma hora de puro relaxamento! Amo!
6) Os templos Budistas.
Vi templos budistas em vários outros lugares, mas em nenhum outro país os templos são tão coloridos e reluzentes, e estão por toda parte.
7) As praias.
Ok, isso pode gerar muitos argumentos, pois é fácil dizer que as praias no Brasil, na Colômbia, no México, em Cuba, na Itália, na Croácia e na Austrália também são maravilhosas, mas de novo, acho que nunca vi um pôr do sol tão lindo como vi nas praia do Sul da Tailândia.
8) O Budismo.
É a religião oficial do país e isso faz muita diferença quando se trata da cultura do país. Uma das principais filosofias do Budismo refere-se a compartilhar. Mesmo que tenham poucas posses os Tailandeses estão sempre dispostos a compartilhar o que têm.
9) A Imigração.
Essa é a terceira vez que entro no país. E é sempre tão fácil! Nunca me perguntam nada, apenas carimbam meu passaporte e me dão o direito de ficar no país por 90 dias! É importante lembrar de ter o comprovante de vacina de febre amarela junto ao passaporte.
10) Não entra-se de sapato em lugar algum.
Eu adoro esse hábito. Tirar o sapato pra entrar em casa, no restaurante, no supermercado e nas lojas. Andar de pés descalços é uma delícia!
11) É barato.
Em que outro lugar do mundo é possível comer por R$5,00 uma comida saborosa? Em que outro lugar do mundo é possível viajar kms de trem ou de ônibus por menos de R$10,00? A Tailândia é o paraíso para os mochileiros de plantão!
12) É seguro.
É preciso tomar cuidado assim como em qualquer outro lugar do mundo, sempre há alguém espertalhão querendo tirar vantagem. Mas é um lugar em que se pode sair as ruas à noite sem medo. Nunca me senti insegura viajando por aqui.
13) É simples.
Na maioria dos lugares tudo é simples. Não há luxo. É um país pra viver de calça de tecido, camiseta e chinelo de dedo. E eu amo isso!
14) É fácil.
Por todos esses motivos que viajar pela Tailândia se torna muito fácil. Foi aqui que encontrei o maior número de mulheres viajando sozinhas. Existem turistas por todos os lados e parece que os Tailandeses estão bem preparados para recepcioná-los! Sawadeeka! 🙏


Vamos fugir, desse lugar baby!

Agora tem sido assim. Uma notícia de um crime, ou uma notícia sobre a baixa popularidade da Dilma, um texto difamando o país e constatando que não há solução a não ser abandoná-lo.
Parece que virou moda falar mal sobre o país, criticá-lo, e apontar como solução para todos os problemas a mudança para o exterior. O Exterior sabe? Aquele lugar onde tudo é lindo, funciona, é seguro, tem pessoas sorridentes andando pelas ruas, e é claro, é bem melhor que no Brasil. Esse paisinho de terceiro mundo onde só se fala sobre futebol e se espera o ano todo pelo Carnaval. Ai, esses Brasileiros de mentalidade atrasada, não sabem o que é uma vida boa num país desenvolvido.
Hoje ao terminar de ler um desses textos percebi como prepotente pode ser esse pensamento. Como é fácil colocar a culpa em uma nação inteira pelos problemas que temos em nossas vidas. O trabalho está ruim, estamos insatisfeitos com a monotonia do emprego seguro, estamos cansados dos nossos amigos, estamos desgastados com as nossas relações familiares, de saco cheio da nossa cidade e assim achamos que a culpa de tudo isso só pode ser desse país, e da gente que vive nele. Melhor fazer as malas e sair daqui enquanto há tempo!
Eu fiz isso. Fiz as malas e sai do meu emprego, me afastei da minha cidade e dos meus amigos. Estava esgotada, insatisfeita, queria mudar, precisava sair. Mas não precisava sair porque o meu país era uma droga. Eu precisava mudar porque EU precisava melhorar, rever algumas atitudes, ter novas perspectivas, novas experiências, essas que só temos quando atravessamos fronteiras. O problema era meu e não de uma nação inteira.
Nessa viagem já passei por 23 países e mais de 80 cidades. Em todas elas imaginei como seria morar ali pela vida inteira. Como seria envelhecer naquele país, ter uma família, novos amigos um novo emprego. E muitas pareceram um lugar bom pra ficar e morar. Facilmente posso me imaginar morando em Sydney, em Barcelona, e até na Cidade do México. Posso imaginar a linda vida que teria lá, com um emprego que às vezes me faria feliz, às vezes não, com uma casa confortável, não tanto como sonhei, mas aconchegante como eu gostaria, com amigos ao meu lado, correndo alguns riscos, não tendo dinheiro pra tudo o que gostaria de fazer, mas tendo uma vida saudável e feliz.
Acontece, que exatamente essa mesma vida, nesse mesmo desenho de uma família feliz, numa vida saudável e segura, também é possível no Brasil. Assim como conheço pessoas que estão insatisfeitas com suas realidades no Brasil, conheço outras tantas que estão muito felizes vivendo a vida que elas sempre sonharam. É claro que sempre haverá problemas com as cidades, assim como há problemas em Sydney, Barcelona, Tóquio ou Nova York (Ou será que há gente que acredita que corrupção, assaltos, trânsito e poluição só existem no Brasil?). Mas esses mesmos problemas são incapazes de destruir o sonho daqueles que realmente acreditam, se esforçam pra fazer seus dias melhores, e ajudam a transformar o país num lugar melhor.
Isso tudo pode soar utópico, e infantil, mas eu realmente acredito que no nosso país há muito mais gente boa do que ruim. Que há muita gente por aí fazendo a diferença, também insatisfeita com as injustiças, mas levantando de suas camas todos os dias decididos a mudar um pouquinho de suas realidades. Eu acredito que o país do futebol, também é o país do trabalho em equipe, onde as pessoas são solidárias, receptivas, guerreiras, trabalhadoras e honestas.
Pode acreditar, gente insatisfeita têm em todo o lugar! Até na mais segura das cidades, na mais paradisíaca praia, na casa mais confortável, e na cidade mais cheia de opções de lazer. Para algumas pessoas a satisfação pode estar mesmo em uma cidade como Tóquio ou em uma ilha no Mar do Caribe (talvez eu até seja uma delas). Tudo bem, que essas pessoas façam suas malas e mudem-se. O que não podemos é generalizar e culpar uma nação inteira pelos nossos problemas e achar que todos as nossas frustações resolverão-se fugindo do país Tupiniquim.

sábado, 13 de junho de 2015

A viagem do Vietnã aos Laos

Eu olhei no relógio, eram 5 horas da tarde. Tinha acabado de acordar da minha sonequinha depois de uma viagem super cansativa para Sa Pa. Resolvi apenas checar o horário do ônibus para o Laos, que tinha certeza que partia às 9 da noite. Já tinha até confirmado com a menina da recepeçao que me vendeu o ticket! Meus planos eram acordar, tomar um banho e sair para comer algo antes da viagem. Estava faminta só tinha comido o café da manhã as 7 da matina.

Peguei o ticket calmamente e li: pick up time at the hostel, 5PM. 

O que? Como assim? Agora?

Desci as escadas correndo até a portaria, querendo estrangular a menina que havia me confirmado o horário e me certifiquei: 

- O ônibus pra Vientiane sai mesmo as 17? 

-Sim! Quer fazer o check out?

-Nãããão!!! 

Subi correndo novamente, coloquei tudo dentro da mochila e ainda ousei pular debaixo do chuveiro no banho mais rápido da história. As 5 e 10 estava de novo na portaria fazendo o check-out. 

Apareceu um cara berrando algo que não entendi, e o moço da recepção mandou eu segui-lo. Ele parecia bravo porque aparentemente  estava esperando somente por mim. Tudo uma correria, uma confusão, e o menino da recepeçao dizia pra eu ir logo, enquanto ao mesmo tempo eu repetia que queria meu passaporte que havia ficado retido no hostel! Ele parecia tão nervoso quanto eu, e depois de eu repetir pela terceira vez ele entendeu que precisava devolver meu passaporte para que eu pudesse ir.

Segui o cara de camisa azul esbravejante. Ele dirigia uma moto, na contramão, e pediu para que eu e mais outros turistas trouxas (como eu), o seguissem. Andamos umas três quadras seguindo o cara de camisa azul e sua moto, pelo meio da rua, na chuva, com nossas mochilas nas costas. 

Chegamos até uma rua principal onde haviam dois táxis esperando. Eles pareciam com muita pressa. E assim que cheguei perto do táxi, o motorista arrancou a mochila das minhas costas, que se enroscou na minha bolsa e no meu braço. E num golpe, atirou a mochila, e meu braço preso à ela, dentro do porta-malas. Quase fui decapitada!

O carro era uma adaptação, e pra caber mais passageiros, parte do porta-malas havia sido transformada em bancos. O motorista esbravejante, mandou eu sentar na ultima fileira, com mais um casal soterrado em baixo de suas mochilas. Obviamente não cabiam 3 pessoas naquele lugar, mas haviam de caber. Sentei com uma perna por cima da perna da outra menina e metade da bunda pra fora do assento, na posição mais confortável do mundo. Mais 3 meninas e suas mochilas gigantes dividiam o banco da frente, e mais à frente ainda o motorista e outra menina com mais duas mochilas. Parecíamos uma lata de sardinha!

O motorista saiu dirigindo loucamente no trânsito de Hanoi, buzinando pra todos os lados, até receber uma ligação. Falou alguma coisa e retornou, depois de uns 10 minutos, para o mesmo lugar da nossa partida. Com cara de quem "não está entendendo nada", todos nós nos olhamos. E uma das meninas da lata de sardinha disse em tom de ironia: 

-Vai ver ele voltou pra buscar mais alguém!

Caímos na gargalhada, que durou até o motorista voltar com uma outra menina e sua mochila. Ele abriu a porta do banco de trás, e gritava para que ela entrasse ali. Era impossível!!!

Mas nada é impossível na Ásia. Sempre cabe mais um. Elas sentaram uma no colo das outras, colocaram as mochilas em cima de tudo, e assim fomos, por 20 infinitos minutos até a estação de ônibus.

Chegando na estação um terceiro cara nos encaminhou até os ônibus e distribuiu aleatoriamente as passagens pra cada um. Éramos uns 17 turistas trouxas até o momento. Eu fui correndo até uma vendinha e consegui comprar uma caixa de biscoitos antes de partir. Foi a minha única refeição nas 20 horas de viagem até o Laos.

Larguei a mochila no bagageiro e procurei um lugar pra sentar enquanto os outros passageiros largavam suas malas e preparavam-se pra entrar no ônibus. Sentei num banco próximo a outros motoristas e comecei comer meus biscoitos. Um deles chamou o amigo e os dois sentaram próximo à mim e ficaram falando coisas que eu não entendia, e olhavam fixamente pros meus peitos, apontando e dando risada. Devem ter ficado impressionados com o tamanho, já que para os padrões asiáticos devo parecer uma Cicciolina! Eles foram chegando tão perto, que eu pensei que o próximo passo seria estender a mão e tocar em mim. Olhei furiosa pra eles, mas não queria levantar. Perguntei se eles estavam olhando pra minha caixa de biscoitos, se eles queriam um. Depois passei a xinga-los em português, e por ultimo, totalmente acuada, levantei do banco e me dirigi pro ônibus.

Os ônibus no Vietnã são extremamente criativos. Ao invés de cadeiras reclináveis são camas, colocadas em dois andares, como num beliche. São 3 camas em cada fileira, e para caber mais gente, as últimas fileiras, no fundo do ônibus, são camas juntas, como se fosse uma cama de casal, mas que devem caber 3 pessoas, em baixo de uma outra cama, num lugar sem janelas, e ao lado da porta do banheiro. Basicamente uma caverna com um colchão. Parecida com aquelas tendas que crianças fazem para brincar. Era nesse lugar que eu devia sentar, com mais um casal de turistas trouxas. 

Fui pro meu assento na caverna e bastaram 5 minutos pra me sentir totalmente sufocada do calor aliada a falta de circulação de ar! Fiquei de pé no corredor até todos os passageiros se sentarem, e então percebi que eles separavam os turistas trouxas dos vietnamitas. Os turistas ficavam todos nos últimos assentos, os piores, enquanto a elite dominava os assentos da frente. 

Todos sentados, percebi que os assentos do meio do ônibus estavam vazios. Peguei as minhas coisas e sentei numa outra cama vazia. Assim que o ajudante do motorista me viu sentada ali, veio até mim e começou a gritar coisas que eu não entendia, mandando eu voltar pro meu assento. Eu dizia que era impossível viajar por 20 horas naquela caverna e que eu não voltaria pra lá. Ele não me entendia e berrava a mesma coisa, cada vez mais bravo. Então, ele pegou as minhas coisas e começou a levar pra fora do ônibus, me mandando descer já que eu não queria voltar pra caverna. Nessas alturas já estava muito nervosa e berrava cada vez mais, enquanto todos os outros turistas trouxas e os vietnamitas da elite só me olhavam.

Com medo, voltei pro fundo do ônibus e fiquei de pé até ele começar a se movimentar. Assim que apagaram as luzes pulei de novo na cama no meio do ônibus, agarrada nas minhas coisas, pensando que a qualquer momento o ajudante louco do motorista, viria até mim e me jogaria pra fora, no meio da estrada. Tive os mais terríveis pesadelos nessa noite. 

O ônibus seguiu no estilo Vietnamita de direção! Buzinando o tempo todo, de um lado pra outro na pista, freiando de forma brusca.

Chegamos na fronteira às 5 da manhã, mas a fronteira só abria as 7. Esperamos por duas horas até nós encaminharmos ao lado da fronteira do Vietnã. Pagamos a propina básica para os agentes da polícia carimbarem nosso passaporte de saída, e mais uma propina para os ajudantes do motorista que carregavam os nossos passaportes. 

Atravessamos a pé para o lado do Laos, enquanto os passageiros da elite foram levados de ônibus, os trouxas caminharam uns 2 kms até a imigração no Laos. Mais algumas horas de burocracia no lado do Laos e voltamos pro ônibus.

Quando entramos, duas trouxas perceberam que haviam deixado seus celulares dentro do ônibus, e que esses não estavam mais lá. Todo mundo procurando, em todos os lugares, elas avisam ao motorista que os celulares sumiram. Eles fazem cara de que não entenderam. Elas já estavam conformadas com a perda dos aparelhos quando o ajudante louco do motorista aparece com os dois celulares, tentando explicar algo que não entendemos. Enfim elas suspiram aliviadas. 

Fizemos a parada do almoço em um lugar na estrada difícil de ser chamado de restaurante (olha que não sou nada fresca, e com a viagem tenho me tornado muito menos), mas servia comida para os passageiros que ali paravam. Saímos do ônibus pra tomar um ar, quando vimos que no teto do ônibus, ao lado do nosso, haviam dois filhotes de cachorros. O que faziam dois filhotes de cachorro em cima do ônibus? Estavam sendo "transportados" em caixas que se abriram e eles com muito calor e sede fugiram. Estavam tentando sair de cima do ônibus, mas eram muito pequenos e acabaram caindo. Um deles parecia morto, o outro estava chorando de dor. A cena mais horrível que eu podia ter visto.

Enquanto isso acontecia, os turistas todos alarmados com a situação, juntaram-se ao redor do cachorrinho sobrevivente para tentar ajudá-lo, enquanto os vietnamitas ficavam apenas observando, sem mexer um dedo, somente acompanhando os movimentos dos turistas.

Fomos chamados pra voltar ao nosso ônibus, e os cachorrinhos ficaram lá, sem que ficássemos sabendo o seu destino. 

Antigamente, no Vietnã, era comum comer carne de cachorro, hoje em dia apenas alguns lugares ainda apreciam essa iguaria. Talvez esses dois filhotes virassem o almoço do dia seguinte nesse restaurante de beira de estrada.

Depois dessa ultima parada faltavam poucas horas pra chegarmos no nosso destino. Cheguei cansada, com fome, suja, suada, mas feliz por ter sobrevivido a essa "maravilhosa" experiência de viagem. E o meu hostel tinha piscina, não podia ter ficado mais feliz!

sábado, 6 de junho de 2015

O que eu aprendi no Vietnã.

Há quase 20 dias no país posso dizer que o Vietnã me ensinou algumas coisas. Aliada a minha trajetória e meu momento de vida, as reflexões e acontecimentos durante esse período tornaram essa parte da viagem única e inesquecível.
Fizemos, eu e minha mãe, uma viagem que iniciou pela fronteira com o Camboja (atravessamos de ônibus) passando por Ho Chi Min (antiga Saigon), Huê, Hoi An, Da Nang até Hanoi, atual capital do país, terminando em um cruzeiro pelas ilhas de Ha Long Bay.
 
1)As cidades podem "funcionar" de diferentes maneiras.
O trânsito é um caos (na visão de um ocidental como eu). Há motos, muitas motos, por todos os lados. Estacionadas ou andando em cima das calçadas, atravessando cruzamentos, na contramão, nunca respeitando os semáforos e sempre buzinando. Como as calçadas servem para estacionamento ou para área de mesas dos restaurantes de rua, não sobra muito espaço para os pedestres, que acabam tendo que andar pelo meio da rua. E ainda tem os ciclistas que seguem no meio do trânsito, e há eventualmente carros e alguns ônibus. Todos andando em perfeita harmonia! 

Sei que parece loucura dizer isso, mas a verdade é que tudo flui, como num balé ensaiado. As pessoas não parecem estar estressadas, nem xingam-se umas às outras. Elas também não andam em velocidade alta e não ficam bravas quando alguém "corta" a sua frente, ou não dá sinal para entrar, ou quando um pedestre cruza seu caminho. Os motoristas buzinam compondo uma melodia, mais para se fazerem presentes, do que para alertar alguém de seu erro. Tudo faz parte de uma coreografia perfeita, que para um simples espectador parece estar tudo a ponto de desabar. Mas nada desaba, ninguém cai, ninguém bate, todos saem ilesos. 

E tudo isso enquanto alguns outros moradores, continuam sentados nas mesas das calçadas bebericando o seu chá e mascando sementes de girassol, ou batendo papo com amigos nas sombras das árvores, ou fazendo exercícios nos parques (que são lindos, muito bem cuidados). Compondo assim cidades cheias de vida, até altas horas da noite até o raiar do novo dia.
 
Fiquei pensando em pesquisar quantas pessoas sofrem acidentes de transito por aqui, depois achei desnecessário. Em todo esse tempo por aqui não vi nenhum acidente e nenhum motoqueiro caído no chão. Tratando-se de cidades como Ho Chi Min, com 12 milhões de habitantes, acho que o simples fato de não ter presenciado nada já é uma boa estatística.
As motos em cima das calçadas
Os lindos parques arborizados

As mesas de rua, no meio das ruas


2) As crianças sabem se virar sozinhas.
Quando estávamos em Ha Long Bay fizemos um passeio até uma antiga cidade flutuante, onde no passado famílias de pescadores viviam em casas construídas em cima de plataformas flutuantes. Ao chegar no ponto de partida, um píer no meio do mar, havia um menininho de uns 3 anos brincando sozinho. Ele carregava um pedaço de um fio elétrico, e depois usava um pedaço de madeira quebrada para brincar num banco próximo da água. A criança parecia "sobrando", como a minha mãe resolveu apelidar as crianças por aqui, pois aparentemente não havia nenhum adulto tomando conta dela.
 
Veja só quantos perigos eminentes! Um fio elétrico, um pedaço de madeira cheio de farpas, um píer no meio do mar sem nenhuma proteção, além do sol pegando fogo do meio da manhã. E a criança estava lá, sorridente, brincando, sem dar bola para todos aqueles turistas indo e vindo de todos os lados. Uma cena dessas seria impossível no Brasil, haveria com certeza um adulto correndo atrás da criança, e falando muitos “nãos”. Mas aqui as crianças parecem ser diferentes. Elas brincam sozinhas no meio da rua, são habilidosas, ágeis e sabem se defender. Estão livres, para tentar e aprender com os erros. Ou as crianças daqui são especiais e nascem com um gene diferente das crianças no Brasil, ou o excesso de cuidados e zelo dos pais é que está acabando com a habilidade nata de sobrevivência das crianças do nosso país.
O menino brincando sozinho no píer.

 3) Um país socialista também pode dar certo.

Não, a ideia não é causar polêmica nem defender o regime político do Vietnã. Mesmo porque, para isso precisaria de muito mais informação e vivência, do que alguns dias pelo país puderam me dar. Mas a impressão que tive é que o país está dando certo. Não é um país rico, mas também não é um país miserável. Não vi milionários andando em carros importados, ou helicópteros sobrevoando a cidade (cena tão comum em São Paulo que aqui pareceria uma piada) mas também não há moradores de rua, crianças pedindo esmola, e as ruas são limpas e os parques e áreas verdes são um verdadeiro cartão postal!

O país atravessou um longo período de guerra (20 anos), numa das guerrilhas mais violentas do século XX, com milhões de mortes (mais de 3 milhões de civis). Muitas famílias foram destruídas, muitas pessoas fugiram do país e tudo isso há pouco tempo atrás. O país reabriu-se recentemente para o turismo, só nos anos 90. E parece que já está preparado para receber todos os curiosos do mundo, inclusive norte-americanos, seus ex-inimigos de guerra, que andam tranquilamente pelas ruas. Uma prova disso é a cidade de Hoi An, uma cidade muito bem preservada, com muitos restaurantes e cafés, que ganhou o título de minha cidade favorita no Vietnã.

As pessoas estão dando um jeito de sobreviver e de sustentar suas famílias, de viver bem! Eu e a mãe fomos visitar o Museu da Mulher aqui em Hanói (recomendo a visita) e assistimos à um vídeo de mulheres vendedoras de rua. Era um documentário com depoimentos dessas mulheres que vão para as ruas vender frutas, flores e todo o tipo de bugigangas. Muitas delas são provenientes de cidades do interior e vem para a capital apenas para ajudar nas finanças da família. Elas dividem uma casa, entre 10 ou mais mulheres, acordam muito cedo e trabalham até muito tarde para ganhar uns trocados. Votam para suas famílias uma vez a cada 15 dias com menos de U$20,00 no bolso, que foi o lucro delas nesses dias. Uma vida difícil, de muito desgaste. Fiquei pensando nessas mulheres, e em tantas outras que vi nesse museu. Mulheres que lutaram na linha de frente durante a Guerra (cerca de 40% dos combatentes eram mulheres), mulheres que perderam muitos filhos para guerra (uma delas havia perdido oito filhos), mulheres responsáveis pelas plantações de arroz, pela tecelagem, pela manufatura, mulheres que ainda estão lutando por um mundo melhor.
 
Assim como a The, uma jovem vietnamita proprietária de um café na cidade de Da Nang. O café é um espaço acolhedor, aconchegante, com um delicioso cardápio. Mas não é só isso, assim que sentamos na mesa, a The, veio até nós e começou a nos dar dicas de turismo, e aproveitou para nos contar do seu projeto. A ideia do café é ser um espaço para trocas, entre jovens vietnamitas e turistas do mundo todo. Os turistas ganham com as dicas e curiosidades sobre a cidade e o país, e os jovens vietnamitas ganham a chance de praticar seu inglês e aprender a língua com os turistas. Além de tudo, no próprio café ela tem alguns dormitórios para turistas que desejem ficar hospedados gratuitamente desde que se disponham a conversar com o pessoal local. Uma ideia simples, cheia de propósito. E essa foi a imagem que fiquei do país, de pessoas batalhadoras, que continuam lutando, mas dessa vez não contra o inimigo, mas contra as marcas deixadas pela história.
As vendas de rua

As mulheres vendedoras de rua.

4) O que é ser “bem-educado”.
Bom, se olhar com os olhos de um ocidental, mais especificamente de um brasileiro de classe média (metido à besta, como eu) os vietnamitas são extremamente mal-educados, de uma grosseria sem tamanho. 

Estou acostumada com a falta de gentileza nos aeroportos do mundo inteiro, mas acho que nunca tinha visto nada parecido com o que vi nos aeroportos daqui. No primeiro aeroporto, depois da chamada para o embarque eu e a mãe nos encaminhamos para a fila. A fila parecia algo “simbólico”, já que, assim que abria um espaço de menos de 10 cms entre duas pessoas, uma terceira já tomava o lugar. Além de filas paralelas que surgiam para a entrada no mesmo portão! O cara que estava atrás de nós, ou melhor grudado em nós como se fosse a nossa sombra, depois de dar umas resmungadas simplesmente passou na nossa frente. Simples assim, sem nenhum constrangimento. Assim que o avião pousou, todos os passageiros pularam de suas poltronas. Duas vezes a mãe levou um safanão na cabeça da moça que estava atrás lutando pra alcançar a sua mala. 

No outro dia, almoçando num restaurante, fiquei observando uma mulher ocidental sair do restaurante, pegar a sua moto e entrar no trânsito local. A moça já saiu irritada pois a garçonete não aparecia com a sua conta. Depois chegou uma pedestre que resolveu passar atrás da sua moto bem na hora em que ela estava saindo. E ainda depois esbravejou com umas outras motos que entraram em sua frente, antes de atravessar o cruzamento e sair pelas ruas.
Mas, foi também aqui no Vietnã que no primeiro dia em que chegamos a Ho Chi Min uma senhora, do nada, resolveu nos ajudar a encontrar o nosso hotel, caminhando conosco até a entrada da propriedade. Foi aqui que em todos os hotéis que nos hospedamos (hotéis baratinhos, de diárias de U$30,00) fomos recebidas com sucos e frutas cortadinhas, e por pessoas gentis que faziam de tudo para nos agradar, e que também tivemos o melhor serviço em restaurantes e lojas. Foi na rua da tumultuada Hanoi, que um senhor fez sinal para que atravessássemos com ele, para a nossa salvação, e foi onde ganhamos mimos das vendedoras da loja que nos acharam simpáticas. Não houve uma só pessoa, independente do seu nível social, que não soubesse onde era o Brasil. E todas sabiam alguma coisa a mais. O país do futebol, do Neymar, e da escalação completa da Copa de 94. O país das mais lindas top models. O país de belas paisagens. O país que tem como língua oficial o português. Obrigada! E não é que tenham muitos turistas brasileiros por aqui, aliás não encontramos nenhum durante a nossa viagem. 
 
É, parece que ser bem-educado não se resume a bom comportamento nos aeroportos.

5) E por último, mas não menos importante, aprendi a tomar café com gelo e leite condensado!
Uma delícia refrescante para os dias de calor por aqui.

A mãe e meu café gelado