segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O ano de Marina

Foi uma febre na rede a retrospectiva do ano elaborada pelo Facebook. Muitos dos meus amigos deram o poder ao Mark (e a alguns algoritmos) de elaborar um resumo dos momentos mais marcantes do seu ano.

Eu inicialmente, como em tudo que vem em ondas como essa, não quis nem saber do que se tratava, mas depois de me render e bisbilhotar "o ano" de alguns amigos, resolvi dar uma chance para que a máquina, e os números de likes nas minhas fotos, definisse os meus momentos mais importantes. Eu realmente estava certa! Como aquele monte de fotos reunidas poderiam resumir o que foi o "meu ano"? Não. Infelizmente não pude aceitar uma retrospectiva despretensiosa como essa, tinha que fazer a minha própria retrospectiva de 2014 de uma forma mais profunda e entender o real significado dos dias que ficaram pra trás.


No passado, achava bobagem essa formalidade de final de ano, desse momento de replanejar e recomeçar, atribuído pelo fim de um calendário. Mas com o passar do tempo, e mais madura, me dei conta de que esse ciclos são importantes, e que as pessoas precisam perceber o fim de algo para iniciar um novo algo. E a cada ano que passa eu tenho dado mais importância para esse ritual de mudança, tentando avaliar o que aconteceu de bom e o que eu aprendi com cada situação, para assim definir metas para o ano que está chegando.


Não sei se por ser uma pessoa analítica, ou por às vezes ter uma visão muito poliana do mundo, mas não consigo, e não gosto, de definir se o ano foi bom ou ruim como ouço muitas pessoas avaliarem por aí. Sempre acho que os anos tem momentos bons e ruins, e é impossível, ou até mesmo injusto, atribuir a ele um rótulo de vilão ou mocinho.


E o ano de 2014 não foi diferente, houveram alguns momentos muito difíceis e outros de extrema alegria, e os aprendizados foram enormes. Aprendi muito sobre marketing, e como as grandes empresas definem seus orçamentos para esse fim. Aprendi que bons relacionamentos profissionais valem muito mais que qualquer conhecimento técnico. Confirmei o que já sabia, que Brasileiros, não importa em que condição, deixam tudo para a última hora, atrapalhando todo um planejamento detalhado da realização de um evento para mais de 300 pessoas.


Aprendi sobre tributos estaduais e federais...não que isso sirva pra muita coisa. Aprendi que uma Copa do Mundo pode ser muito poderosa.


Percebi que carregava mágoas e que elas me asfixiavam durante a noite, não me deixando dormir. Percebi que eu tinha medo (e ainda tenho) de ser verdadeira. Um aprendizado para continuar vivenciado no ano que vem.

Aprendi que Santiago do Chile não está mais alto que São Paulo, era apenas eu que estava muito fora de forma quando cheguei por lá. Aprendi sobre a história da Bolívia e da origem do orgulho de seu povo. E também sobre os Maias e os Astecas, sobre a Revolução Cubana, sobre arte e arquitetura, e lembrei porque um dia escolhi a minha profissão.


Entendi que persistência e paciência andam juntas, e são indispensáveis pra alcançar qualquer objetivo pessoal ou profissional. Experimentei arepas, suco de lulo, enchiladas, esquites, e uma série de outros sabores que aguçaram ainda mais meu paladar.


Aprendi nos hostels, a dormir com barulho, com luz, no frio, no calor, e desenvolvi toda uma técnica para tomar banho que pode ser adaptada à qualquer condição. Aprendi a respeitar costumes de diferentes culturas, num eterno exercício de relevar meus próprios preconceitos.


Conheci pessoas doces, corajosas, atenciosas, de coração bom, com histórias de vida incríveis e ganhei grandes amigos. Comprovei que sou uma menina de muita sorte, que tenho os melhores amigos do mundo, e que eles estarão sempre ao meu lado nas mais estapafúrdias decisões que eu tomar. Aprendi que eles não precisam estar fisicamente ao meu lado para que o nosso amor continue a existir. Percebi que os melhores momentos são aqueles em que posso compartilhar com as pessoas que amo, mas que momentos sozinha são extremamente importantes para alimentar a minha alma.


Aprendi sobre empreendedorismo social, e um pouco mais sobre a realidade do nosso país, e que essa realidade pode ser ainda pior em outros países da América Latina.


Melhorei muito o meu espanhol, e percebi que esqueci muito do francês e do italiano que um dia estudei.
Aprendi mais com as pessoas do que em qualquer livro ou sala de aula.


Vivi, senti, pensei, analisei, mudei de ideia, mudei de opinião e mudei os planos. Tive medo e criei coragem. Chorei. Quis chorar e não consegui, quis não chorar e não consegui. Fiquei com raiva de mim, dos outros. Perdoei à mim e aos outros. Amei, sofri de amor, escondi o amor, fingi que ele não existia. Ainda estou aprendendo a amar...


Foi o ano que tomei uma importante decisão na minha vida, a de pedir demissão e viajar o mundo. Foi o ano em que aprendi, aprendi, aprendi.


E ESSE foi o ano da Marina! Sou extremamente grata por tudo o que aconteceu. E que venha 2015!







quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Europa Parte I

Cheguei em Frankfurt num dia frio de inverno, depois de quinze dias de calor em Cuba. Só essa chegada, e o impacto de sair de um lugar como Cuba para aterrissar num país como a Alemanha, daria um post inteiro de reflexões, pensamentos e sensações. Mas depois de Frankfurt fui ainda para Barcelona, Amsterdã, Roterdã, Bruxelas e agora estou no trem a caminho de Luxemburgo, por isso vou tentar resumir nesse texto um pouco de tudo que vi e vivi nesse primeiro mês pela Europa.
Eu sabia que a imigração na Europa podia ser um pouco difícil, pois eu não tinha uma passagem para retornar ao meu país, e ainda pretendia ficar um longo período em território europeu. Estava preparada, mas mesmo assim sempre acho um pouco tenso todo esse processo. O rapaz da polícia foi bem educado apesar de austero. Me encheu de perguntas sobre o que eu pretendia fazer e principalmente como tinha conseguido dinheiro para fazer essa viagem. Só deixou eu seguir depois de acessar o site do CTE, minha antiga empresa, e ver que havíamos trabalhado na construção dos estádios da Copa, e aí ele concluiu que a empresa tinha faturado muito dinheiro com a FIFA, e eu consequentemente. Bom, isso não é bem verdade, mas se isso era o que ele queria pra me deixar entrar, tudo bem. Eu sorri e concordei com sua afirmação.
Sai do aeroporto, o céu estava cinza, frio e por todos os lados eu via propagandas, lojas, sinais de modernidade, bem diferente de qualquer cidade em Cuba. Estava de volta no primeiro mundo. Frankfurt é uma cidade bonita, moderna. Caminhei pelas ruas do centro, por alguns parques, cheguei na margem do rio principal, atravessei a ponte cheia de cadeados de casais apaixonados e fui visitar o Museu de Arquitetura. O Museu foi uma adorável surpresa. Estava acontecendo uma exposição sobre os modernos edifícios da cidade, de como foram construídos e de como a cidade foi planejada. Gostei! Principalmente por me lembrar, que apesar de há muito tempo não ter contato com a arquitetura, eu ainda me interesso e gosto de tudo aquilo que diz respeito a “arte de projetar”. Voltei feliz e muito pensativa para o hostel. Será que eu havia deixado de lado todo esse meu lado “artista”? Será que se eu mexesse nos arquivos do passado eu ainda conseguiria acessar esse meu conhecimento? A dúvida ficou no ar.
No outro dia embarquei com destino à Barcelona. Essa era a terceira vez que estava indo para a cidade, e a principal razão dessa viagem era rever um grande amigo.
Barcelona é uma cidade que vibra, tem vida nas ruas, e isso para mim, é o que mais me fascina. Com certeza é uma cidade para se viver, no sentido literal da palavra. Saindo pelas ruas, a cada esquina há uma surpresa. Um centro cultural, um museu, um bar, um restaurante, um parque, ou simplesmente um lugar agradável para descansar ou apreciar. E além de tudo tem a praia, ali do lado, dando aquele ar especial para a cidade.
Passei uma semana por lá, hospedada no apartamento do meu amigo, o que fez toda a diferença, já que há muito tempo não dormia em uma “casa”. Na estada na cidade fiz muitos programas legais. Fomos, eu e meu amigo, à exposição Gênesis do Sebastião Salgado, que eu já tinha visto em São Paulo, mas que dessa vez foi ainda mais especial, pois no dia seguinte assistimos ao filme de sua vida, Sal da Terra. Foi um combo e tanto! Uma experiência incrível e inesquecível. Da exposição e do filme surgiram horas e mais horas de filosofias e pensamentos sobre a vida, a humanidade e o mundo.
Fomos também à um show de chorinho, para reconectar com a cultura brasileira. E ainda fui ao Festival de Cinema Independente de Barcelona, assistir à um filme turco, muito interessante, chamado I’m not him, sobre um homem que decidi viver a vida de uma outra pessoa. O filme me inspirou a escrever o post passado, Falsidade Ideológica, e obviamente a pensar um pouco sobre isso.
Para finalizar minha estada pela cidade fui à Fundação Miró. Passei quatro horas fazendo a visita guiada, e foi incrível aprender um pouco mais sobre a vida desse artista. Mais um milhão de questionamentos e reflexões sobre a vida e sobre o nosso papel na sociedade surgiram nessa tarde.
Acho que Barcelona foi mais um daqueles lugares marcantes dessa viagem. A cidade, as companhias, e principalmente as horas de conversas e reflexões sobre tudo o que vivi até agora, e sobre o que me espera daqui pra frente, me fizeram sair de lá fortalecida e muito feliz por tudo o que vivi naqueles dias pela cidade.
De Barcelona peguei um avião com destino à Amsterdã. Também não era a minha primeira vez na cidade, e fui pra lá encontrar com um outro amigo que estava passando alguns dias de férias. Fazia muito mais frio do que Barcelona, e os primeiros dias foram bem congelantes.
Passei seis dias com o meu amigo caminhando pelas ruas da cidade. Aliás, descobri, se é que eu já não sabia, que eu realmente gosto de caminhar. Caminhar é o melhor jeito de conhecer a cidade, além de assim economizar alguns trocados e ainda perder algumas calorias. Acho que caminho no mínimo uns 5 kms por dia, mas tenho certeza que em alguns devo caminhar bem mais que isso.
Descobri, caminhando, que Amsterdã tem os parques mais lindos que eu já conheci. O parque que ficava próximo ao hotel que estávamos hospedados, chamado Rembrandtpark, ganharia o título de parque mais bonito segundo a minha avaliação. E além dos parques a cidade é repleta de restaurantes deliciosos, não teve um só dia que não comemos muito bem. Aproveitamos para visitar o museu do Van Gogh e fazer a visita guiada. Foi uma excelente visita e inúmeros aprendizados da vida desse artista.
De Amsterdã peguei um trem com destino a Roterdã. Achei que seria interessante conhecer uma outra cidade na Holanda, e eu não estava enganada. Roterdã é uma cidade linda e me surpreendeu por suas ruas e sua arquitetura. Parece que a cidade toda saiu de um daqueles projetos de urbanismo e paisagismo que estudei ou projetei durante a faculdade. Tudo está lá, os espaços bem pensados, os detalhes de mobiliário urbano, o paisagismo, os edifícios novos compondo com os edifícios antigos restaurados, uma maravilha! A cidade tem um dos maiores portos do mundo, o que ainda dá mais personalidade para a cidade, e tem museus incríveis, provavelmente é possível passar uma semana inteira lá indo aos diferentes museus. Eu resolvi visitar um museu de design em que estava tendo uma exposição dos 50 anos do 007, além de uma exposição sobre a vida do Rudolf Steiner, o criador do método pedagógico Waldorf, que tem escolas espalhadas pelo mundo todo. Adorei as duas exposições.
No dia seguinte resolvi visitar o Museu da Fotografia e ver uma exposição do Mark Cohen, um fotógrafo americano com um modo muito peculiar de tirar fotos, muito próximas ao objeto fotografado. De novo muito interessante.
Além de tudo isso, há ainda na cidade um mercado muito moderno, construído para abrigar várias bancas de produtos locais. Comi um delicioso Stroopwafle, feito na hora, quentinho. Uma delícia!
Deixei Roterdã numa manhã ensolarada, ainda admirada com o tráfego de bicicletas, de como os holandeses estão acostumados à isso, falando no celular ou comendo, ao mesmo tempo que pedalam com suas crianças pequenas indo para a escola ou ao trabalho.
Meu próximo destino era Bruxelas. Fui novamente de trem. Só a viagem de trem, passando pelas pequenas cidades e vilarejos do caminho já bastariam. A vista das casinhas de tijolos, com seus telhados inclinados, com seus moradores tranquilos, passando de bicicleta ou caminhando por baixo de árvores sem folhas, é por si só uma viagem. Ver fragmentos da vida dessas pessoas, e imaginar como é viver ali, morar naquela casa, andar por aquele caminho, pode fazer a mente viajar longe e criar histórias incríveis.
Viajar de trem tem muitas vantagens, além de ser uma viagem única, é muito fácil. Em quinze minutos ou menos, comprei uma passagem e estava dentro do trem para a Bélgica. Cheguei lá num sábado à tarde, a cidade estava lotada de turistas, e eu havia decidido fazer o mesmo que em Roterdã, não reservar nenhum hostel. Peguei o endereço de um, que ficava há uns dois kms da estação de trem e fui caminhando, entre os turistas, pelas ruas antigas da cidade.
O problema é que era sábado e o hostel em questão estava lotado. Me indicaram um outro há uns dois quarteirões dali. Caminhei mais um pouco, cheguei no segundo local que também estava lotado. Tira a mochila, que nessas alturas já estava pesando uma tonelada, senta um pouco, toma um café com biscoito oferecido pela recepcionista e pensa no que fazer. A moça da recepção muito prestativa resolveu telefonar para alguns outros hostels e depois de alguns minutos voltou com a excelente notícia de que tinha conseguido uma cama pra mim em um hostel do outro lado da cidade. Sem problemas! Coloco de novo a mochila nas costas e atravesso toda a cidade, dessa vez de metrô porque, à essa altura, já estava destruída.
Resolvi sair para conhecer a cidade. Era sábado à noite e estava tendo um show de luzes Natalino na praça principal, onde fica o palácio. Tentei chegar perto, mas era simplesmente impossível. Um milhão de pessoas se acotovelavam na praça para tentar tirar uma foto do incrível show de luzes. Decidi comer um chocolate em uma das ruas repletas de lojas só de chocolate, onde é impossível comer um só!
No dia seguinte estava me preparando para sair em direção à um museu, quando conheci um menino de Bangladesh na recepção do hostel. Começamos a conversar, decidimos sair pra tomar um café e terminamos num bar da cidade conhecido por ter mais de 2000 rótulos de cerveja. Experimentamos uns 5 tipos de cerveja belga, e acabamos passando o dia juntos, passeando pela cidade e no final jantando num delicioso restaurante. Foi mais um dia sensacional.
Agora estou no trem, deixando a Bélgica para conhecer um pequeno país chamado Luxemburgo. Acho que nunca imaginei que viria até aqui, mas é mais uma dessas surpresas que a vida e uma viagem como essa pode oferecer. Depois de Luxemburgo volto à Amsterdã para embarcar para Dublin encontrar uma amiga querida, e depois de Dublin vou para a Itália, encontrar a família para as festas de final de ano! Não vejo a hora!
P.S: Nesse exato momento estou sentada no meu quarto no hostel em Luxemburgo, depois de ter passado a manhã caminhando pelas ruas da cidade. Estou tomando um vinho francês, J.P. Chenet, que paguei menos de dois euros, e olhando a vista na janela. Vejo parte da muralha que envolve a cidade, um prédio muito antigo que abriga um hospício, e muitas árvores quase sem folhas, de cores marrom e verde escuro. A cidade é surpreendente, muito mais linda do que eu podia imaginar. Parece uma cidade de um filme medieval. Estou vendo a hora em que a rainha aparecerá na janela do castelo em minha frente e acenará para mim.
Frankfurt


Barcelona

Amsterdam



Rotterdam

Bruxelas



Luxemburgo