domingo, 27 de dezembro de 2015
Cidades - postado em 15/12/15
A imigração - publicado em 23/7/15
A última história - publicado em 3/9/15
domingo, 18 de outubro de 2015
Sim, há algo acontecendo no mundo. E eu, o que faço?
quinta-feira, 8 de outubro de 2015
O amor em tempos de Tinder.
Sou usuária do Tinder há alguns anos, e costumo dizer que é como fazer parte de um grande experimento social. Lá consigo elaborar muitas teorias sobre amor e relacionamentos, e ainda testar muitas outras. Ah, se Platão vivesse em tempos de Tinder, eu e ele seríamos grandes amigos.
É engraçado, que pra começo de história, muita gente tem vergonha de dizer que está no Tinder, ou ainda afirma que não precisa disso pra conhecer pessoas, ou que tem medo. Tsc, tsc, tsc! Bobinhos! O Tinder nada mais é do que “sair pra paquerar” sem ter que sair de casa. É como se eu estivesse em todos os bares, programas cults e parques da cidade, ao mesmo tempo, sem gastar dinheiro ou fôlego. E ainda com a vantagem de saber que a pessoa está disponível, e que também tem interesse por mim. Uaaaauu, isso é fantástico!
Eu, por exemplo, defini alguns critérios para otimizar ainda mais o meu tempo no aplicativo. Não dou "likes" para selfies dentro do carro (1 em cada 3 homens tem uma foto dentro do carro) - se o carro é o mais importante pode ter certeza que não temos muito em comum. Não dou like para quem tem uma única foto no perfil - assim é fácil parecer bonito! E nem para fotos mal tiradas, de má qualidade- se a pessoa não tem ao menos uma foto legal, que algum amigo tirou, é que essa pessoa não anda fazendo muitas coisas legais ultimamente. Tá, entre outras coisas óbvias, como fotos de sunga ou no espelho da academia.
Aos outros que aparecem, dou uma chance, leio os seus profiles e me dedico à olhar os detalhes na foto. Hoje mesmo eu dispensei um menino que em uma das fotos usava uma camisa da Dudalina..."Que horror Marina! Que preconceito!"
Talvez por isso que eu estou em constante conflito com os acontecimentos Tinderianos. Não quero deixar de conhecer pessoas pelo meu julgamento, quero ter a oportunidade de ser surpreendida, assim como quando eu conhecia um carinha na balada, nos meus áureos tempos de noitada. E foi por essa razão que estabeleci uma outra regra: não troco Facebook antes de conhecer pessoalmente. Já não basta todos os julgamentos prévios? Ainda precisamos ver a vida inteira da pessoa antes de sair pra tomar um café? Esses dias, um menino disse que não sairia comigo se antes eu não me tornasse sua amiga no Face, por segurança. Por segurança a Monica nunca teria trocado telefone com o Eduardo e muito menos teria ido encontrá-lo no parque da cidade. Se a pessoa tem medo de marcar um encontro pra um café provavelmente nunca terá coragem de colocar o pé na estrada sem destino. Então, de novo, pouco temos em comum.
Acontece que escrever sobre o Tinder é escrever sobre os relacionamentos modernos. Relacionamentos que nascem da obsessão de encontrar alguém que se encaixe em pré-requisitos, em regras pré-determinadas. "Não faço isso, não faço aquilo. Pra ficar comigo tem que ser assim ou assado. Quero um relacionamento desse e desse jeito." Sem deixar espaço pro acaso, pro diferente, espaço pra quebrar a cara e aprender com as frustrações, pra testar todos os tipos de relacionamento. As pessoas têm medo de experimentar, e esperam a perfeição sem nunca ter experimentado o imperfeito. O Tinder é apenas uma ferramenta para os relacionamentos atuais, não muda nada do que aconteceria naturalmente.
Voltei pra Bangkok para conhecê-lo, sem contar nada pra ninguém (quantas pessoas me chamariam de louca por isso)! Quando nos vimos pela primeira vez parecia que já nos conhecíamos há séculos. Vivi uma das melhores semanas da minha viagem ao seu lado. Ele era carinhoso, engraçado, e conversávamos por horas dos mais diversos assuntos. Inclusive sobre a minha descrença em Deus e sobre seu orgulho por ser muçulmano paquistanês.
Eu fui embora, como previsto, mas ganhei um amigo. Hoje continuamos conversando por Skype, sempre que da. E aprendi pela experiência que relacionamentos podem surgir assim, em qualquer lugar, pelo Tinder, até com a pessoa menos provável. Porque o mais importante nessa vida são as pessoas que conhecemos, e o que nos permitimos aprender e viver com elas. Esses serão os momentos que vamos lembrar pra sempre, e não aqueles que gastamos sentados no sofá vendo fotos de desconhecidos passar pela tela do celular.
terça-feira, 6 de outubro de 2015
Podia ser pior!
Vou pra cozinha, preparo o meu mamão cortadinho com sucrilhos integral industrializado e como correndo. "Podia ser pior, e ter que comer um pão de queijo do boteco, assim como nos dias em que saio correndo para uma reunião."
Tomo banho, me enrolo na toalha e começo o processo de escovar o cabelo e fazer maquiagem. "Podia ser pior, o meu cabelo é bem fininho e seca rápido, e de maquiagem só 4 produtinhos."
Corro pro quarto, coloco o meu vestido novo, minha calcinha que aperta a barriga, e aquele salto alto pra ficar ainda mais elegante. Me sinto linda, mas bem desconfortável. "Podia ser pior, ao menos eu tenho dinheiro pra comprar um vestido novo e um sapato elegante."
Passo a manhã no trabalho e no intervalo do almoço corro pra manicure, e depois passo em casa pra comer legumes congelados e ovo. "Essa podia ser bem pior, pelo menos posso fazer a unha toda semana, e ainda comer em casa quase todo dia. Que sorte!"
No fim do dia me arrasto pra casa, estou morta de cansaço. "Af, podia ser pior, pelo menos eu gosto do meu ambiente de trabalho, apesar de trabalhar com algo que pouco me motiva e já não fecha com os meus valores."
Coloco uma roupa de academia e arrastada pela Francine vou malhar. "Odeio malhar, mas podia ser pior, pelo menos tenho a Fran pra me acompanhar e a academia é perto de casa."
A rotina durante a semana é cansativa, mas nos finais de semana, tenho dinheiro pra me divertir em bares legais e restaurantes caros, e como estou longe da família tenho tempo de sobra pra gastar nas noites paulistanas.
"É, a minha vida é realmente perfeita, não tenho do que reclamar, levo uma vida saudável e com excelente qualidade de vida."
E foi assim que eu pensei por muito tempo, até que um dia eu percebi que, " a minha vida podia ser bem melhor"!
Hoje o despertador raramente toca pela manhã, mas mesmo assim acordo cedo, depois de uma boa noite de sono. Se o dia amanhece bonito, coloco o tênis emprestado da minha mãe e vou correr. Se não, deixo pra mais tarde. Ou então vou caminhando até algum compromisso e já incorporo o exercício nas atividades do dia a dia.
Faço o meu pão integral sem conservantes, preparo meu suco natural. Como cada vez menos doces, lacticínios, gorduras e carne. Naturalmente, apenas prestando atenção no que o meu corpo diz. Ele é sábio e avisa o que eu devo fazer.
Não uso mais salto, nem vestidos novos. Minha roupa básica é uma calça jeans e um All Star. Não comprimo a barriga com calcinhas apertadas, ela faz parte do corpo que tenho, não tenho que ter vergonha disso. Não faço mais escova no cabelo, que agora mais curto, seca rápido e fica mais crespo. Não uso maquiagem, no máximo um BB cream com proteção solar. Não faço mais a unha no salão, eu mesmo corto e hidrato as cutículas.
Não tenho mais aquele bom salário, não tenho mais dinheiro para frequentar bons restaurantes, nem para ir à bares caros toda semana. Não tenho carro. Tenho os meus pais por perto, e não gasto nem 1/4 (- de 25%) do que gastava quando trabalhava em São Paulo. Trabalho em casa, a hora que me sinto mais confortável. Economizo no que posso, não compro nada que não preciso, mas me alimento melhor e tenho tempo pra ir caminhando até o supermercado, pra fazer uma faxina na casa, meditar e ler.
Sei que essa fase da vida poderá ser passageira. O dinheiro acumulado, naquela fase ali de cima, vai acabar. Talvez, dependendo do rumo das coisas, será difícil ter uma vida como a que levo agora. Mas hoje eu sei que posso viver com menos dinheiro e de uma forma mais simples, e é isso que eu quero e que busco para a minha vida. É uma vida assim que me faz feliz.
Aprendi que uma vida saudável nada tem a ver com malhar enlouquecidamente numa academia depois de um dia estressante de trabalho, ou comer legumes congelados nas refeições e passar cremes caros pelo corpo.
Hoje entendo o real sentido da tão famosa frase "Você tem que se cuidar!" "Pode deixar, estou cuidando muito bem de mim! :)"
O pão integral com castanha e papoula que fiz hoje. |
domingo, 21 de junho de 2015
A Greve na Bélgica- texto de 7/12/14
Acordo às 4 da manhã no meu hostel em Luxemburgo, depois de uma noite mal dormida por causa de uma mulher que roncava mais alto que meu pai.
Saio do hostel as 4:15 em direção à estação de trem, caminhando 2 kms lomba acima, com a minha mochila de 14kgs nas costas. Me recusei a pagar 20 euros para pegar um táxi.
Chego em tempo, um pouco suada e descabelada, e sento perto do letreiro para verificar de onde sairia meu trem.
Eis que aparece no letreiro: train supprimé. Cutuco o rapaz ao meu lado e pergunto se significa o que eu tinha entendido. Isso mesmo, o trem foi cancelado.
Espero o local de venda de bilhetes abrir, e com cara de desespero pergunto ao rapaz do balcão o que aconteceu.
- É a greve na Bélgica moça! Nenhum trem entra ou sai do país.
- Sério? Eu tenho um voo saindo de Amsterdã às 2 da tarde, preciso chegar lá. Não existe nenhuma maneira de chegar na Holanda sem passar pela Bélgica?
Ele me olha com uma cara de quem pensa, claro que não sua ignorante, mas educadamente responde:
-Não senhora!
Ok, sento de novo em frente ao letreiro e penso no que posso fazer. Fico ali olhando o letreiro quando aparece: trem partindo as 6:11 com destino a Paris.
Volto correndo ao gichê de venda de passagens.
- Gostaria de trocar esse meu ticket para Amsterdã por um para Paris.
-Ok, senhora, plataforma 7 em 15 minutos.
Parei no ponto wi-fi da estação, avisei a Neominha que não chegaria à Dublin, reservei um hostel pelo Hostelword, e embarquei.
E aqui estou! Bonjour Paris!
Acabo de comprar um novo voo para Dublin, saindo de Paris no sábado pela manhã! Tive um prejuízo de 88 euros do voo que perdi, mas ganhei dois dias nessa cidade maravilhosa!
É, acho que ficar triste e "pobre" em Paris até que não é tão ruim assim! Hehehehe
Tailândia
Vamos fugir, desse lugar baby!
sábado, 13 de junho de 2015
A viagem do Vietnã aos Laos
Eu olhei no relógio, eram 5 horas da tarde. Tinha acabado de acordar da minha sonequinha depois de uma viagem super cansativa para Sa Pa. Resolvi apenas checar o horário do ônibus para o Laos, que tinha certeza que partia às 9 da noite. Já tinha até confirmado com a menina da recepeçao que me vendeu o ticket! Meus planos eram acordar, tomar um banho e sair para comer algo antes da viagem. Estava faminta só tinha comido o café da manhã as 7 da matina.
Peguei o ticket calmamente e li: pick up time at the hostel, 5PM.
O que? Como assim? Agora?
Desci as escadas correndo até a portaria, querendo estrangular a menina que havia me confirmado o horário e me certifiquei:
- O ônibus pra Vientiane sai mesmo as 17?
-Sim! Quer fazer o check out?
-Nãããão!!!
Subi correndo novamente, coloquei tudo dentro da mochila e ainda ousei pular debaixo do chuveiro no banho mais rápido da história. As 5 e 10 estava de novo na portaria fazendo o check-out.
Apareceu um cara berrando algo que não entendi, e o moço da recepção mandou eu segui-lo. Ele parecia bravo porque aparentemente estava esperando somente por mim. Tudo uma correria, uma confusão, e o menino da recepeçao dizia pra eu ir logo, enquanto ao mesmo tempo eu repetia que queria meu passaporte que havia ficado retido no hostel! Ele parecia tão nervoso quanto eu, e depois de eu repetir pela terceira vez ele entendeu que precisava devolver meu passaporte para que eu pudesse ir.
Segui o cara de camisa azul esbravejante. Ele dirigia uma moto, na contramão, e pediu para que eu e mais outros turistas trouxas (como eu), o seguissem. Andamos umas três quadras seguindo o cara de camisa azul e sua moto, pelo meio da rua, na chuva, com nossas mochilas nas costas.
Chegamos até uma rua principal onde haviam dois táxis esperando. Eles pareciam com muita pressa. E assim que cheguei perto do táxi, o motorista arrancou a mochila das minhas costas, que se enroscou na minha bolsa e no meu braço. E num golpe, atirou a mochila, e meu braço preso à ela, dentro do porta-malas. Quase fui decapitada!
O carro era uma adaptação, e pra caber mais passageiros, parte do porta-malas havia sido transformada em bancos. O motorista esbravejante, mandou eu sentar na ultima fileira, com mais um casal soterrado em baixo de suas mochilas. Obviamente não cabiam 3 pessoas naquele lugar, mas haviam de caber. Sentei com uma perna por cima da perna da outra menina e metade da bunda pra fora do assento, na posição mais confortável do mundo. Mais 3 meninas e suas mochilas gigantes dividiam o banco da frente, e mais à frente ainda o motorista e outra menina com mais duas mochilas. Parecíamos uma lata de sardinha!
O motorista saiu dirigindo loucamente no trânsito de Hanoi, buzinando pra todos os lados, até receber uma ligação. Falou alguma coisa e retornou, depois de uns 10 minutos, para o mesmo lugar da nossa partida. Com cara de quem "não está entendendo nada", todos nós nos olhamos. E uma das meninas da lata de sardinha disse em tom de ironia:
-Vai ver ele voltou pra buscar mais alguém!
Caímos na gargalhada, que durou até o motorista voltar com uma outra menina e sua mochila. Ele abriu a porta do banco de trás, e gritava para que ela entrasse ali. Era impossível!!!
Mas nada é impossível na Ásia. Sempre cabe mais um. Elas sentaram uma no colo das outras, colocaram as mochilas em cima de tudo, e assim fomos, por 20 infinitos minutos até a estação de ônibus.
Chegando na estação um terceiro cara nos encaminhou até os ônibus e distribuiu aleatoriamente as passagens pra cada um. Éramos uns 17 turistas trouxas até o momento. Eu fui correndo até uma vendinha e consegui comprar uma caixa de biscoitos antes de partir. Foi a minha única refeição nas 20 horas de viagem até o Laos.
Larguei a mochila no bagageiro e procurei um lugar pra sentar enquanto os outros passageiros largavam suas malas e preparavam-se pra entrar no ônibus. Sentei num banco próximo a outros motoristas e comecei comer meus biscoitos. Um deles chamou o amigo e os dois sentaram próximo à mim e ficaram falando coisas que eu não entendia, e olhavam fixamente pros meus peitos, apontando e dando risada. Devem ter ficado impressionados com o tamanho, já que para os padrões asiáticos devo parecer uma Cicciolina! Eles foram chegando tão perto, que eu pensei que o próximo passo seria estender a mão e tocar em mim. Olhei furiosa pra eles, mas não queria levantar. Perguntei se eles estavam olhando pra minha caixa de biscoitos, se eles queriam um. Depois passei a xinga-los em português, e por ultimo, totalmente acuada, levantei do banco e me dirigi pro ônibus.
Os ônibus no Vietnã são extremamente criativos. Ao invés de cadeiras reclináveis são camas, colocadas em dois andares, como num beliche. São 3 camas em cada fileira, e para caber mais gente, as últimas fileiras, no fundo do ônibus, são camas juntas, como se fosse uma cama de casal, mas que devem caber 3 pessoas, em baixo de uma outra cama, num lugar sem janelas, e ao lado da porta do banheiro. Basicamente uma caverna com um colchão. Parecida com aquelas tendas que crianças fazem para brincar. Era nesse lugar que eu devia sentar, com mais um casal de turistas trouxas.
Fui pro meu assento na caverna e bastaram 5 minutos pra me sentir totalmente sufocada do calor aliada a falta de circulação de ar! Fiquei de pé no corredor até todos os passageiros se sentarem, e então percebi que eles separavam os turistas trouxas dos vietnamitas. Os turistas ficavam todos nos últimos assentos, os piores, enquanto a elite dominava os assentos da frente.
Todos sentados, percebi que os assentos do meio do ônibus estavam vazios. Peguei as minhas coisas e sentei numa outra cama vazia. Assim que o ajudante do motorista me viu sentada ali, veio até mim e começou a gritar coisas que eu não entendia, mandando eu voltar pro meu assento. Eu dizia que era impossível viajar por 20 horas naquela caverna e que eu não voltaria pra lá. Ele não me entendia e berrava a mesma coisa, cada vez mais bravo. Então, ele pegou as minhas coisas e começou a levar pra fora do ônibus, me mandando descer já que eu não queria voltar pra caverna. Nessas alturas já estava muito nervosa e berrava cada vez mais, enquanto todos os outros turistas trouxas e os vietnamitas da elite só me olhavam.
Com medo, voltei pro fundo do ônibus e fiquei de pé até ele começar a se movimentar. Assim que apagaram as luzes pulei de novo na cama no meio do ônibus, agarrada nas minhas coisas, pensando que a qualquer momento o ajudante louco do motorista, viria até mim e me jogaria pra fora, no meio da estrada. Tive os mais terríveis pesadelos nessa noite.
O ônibus seguiu no estilo Vietnamita de direção! Buzinando o tempo todo, de um lado pra outro na pista, freiando de forma brusca.
Chegamos na fronteira às 5 da manhã, mas a fronteira só abria as 7. Esperamos por duas horas até nós encaminharmos ao lado da fronteira do Vietnã. Pagamos a propina básica para os agentes da polícia carimbarem nosso passaporte de saída, e mais uma propina para os ajudantes do motorista que carregavam os nossos passaportes.
Atravessamos a pé para o lado do Laos, enquanto os passageiros da elite foram levados de ônibus, os trouxas caminharam uns 2 kms até a imigração no Laos. Mais algumas horas de burocracia no lado do Laos e voltamos pro ônibus.
Quando entramos, duas trouxas perceberam que haviam deixado seus celulares dentro do ônibus, e que esses não estavam mais lá. Todo mundo procurando, em todos os lugares, elas avisam ao motorista que os celulares sumiram. Eles fazem cara de que não entenderam. Elas já estavam conformadas com a perda dos aparelhos quando o ajudante louco do motorista aparece com os dois celulares, tentando explicar algo que não entendemos. Enfim elas suspiram aliviadas.
Fizemos a parada do almoço em um lugar na estrada difícil de ser chamado de restaurante (olha que não sou nada fresca, e com a viagem tenho me tornado muito menos), mas servia comida para os passageiros que ali paravam. Saímos do ônibus pra tomar um ar, quando vimos que no teto do ônibus, ao lado do nosso, haviam dois filhotes de cachorros. O que faziam dois filhotes de cachorro em cima do ônibus? Estavam sendo "transportados" em caixas que se abriram e eles com muito calor e sede fugiram. Estavam tentando sair de cima do ônibus, mas eram muito pequenos e acabaram caindo. Um deles parecia morto, o outro estava chorando de dor. A cena mais horrível que eu podia ter visto.
Enquanto isso acontecia, os turistas todos alarmados com a situação, juntaram-se ao redor do cachorrinho sobrevivente para tentar ajudá-lo, enquanto os vietnamitas ficavam apenas observando, sem mexer um dedo, somente acompanhando os movimentos dos turistas.
Fomos chamados pra voltar ao nosso ônibus, e os cachorrinhos ficaram lá, sem que ficássemos sabendo o seu destino.
Antigamente, no Vietnã, era comum comer carne de cachorro, hoje em dia apenas alguns lugares ainda apreciam essa iguaria. Talvez esses dois filhotes virassem o almoço do dia seguinte nesse restaurante de beira de estrada.
Depois dessa ultima parada faltavam poucas horas pra chegarmos no nosso destino. Cheguei cansada, com fome, suja, suada, mas feliz por ter sobrevivido a essa "maravilhosa" experiência de viagem. E o meu hostel tinha piscina, não podia ter ficado mais feliz!
sábado, 6 de junho de 2015
O que eu aprendi no Vietnã.
O trânsito é um caos (na visão de um ocidental como eu). Há motos, muitas motos, por todos os lados. Estacionadas ou andando em cima das calçadas, atravessando cruzamentos, na contramão, nunca respeitando os semáforos e sempre buzinando. Como as calçadas servem para estacionamento ou para área de mesas dos restaurantes de rua, não sobra muito espaço para os pedestres, que acabam tendo que andar pelo meio da rua. E ainda tem os ciclistas que seguem no meio do trânsito, e há eventualmente carros e alguns ônibus. Todos andando em perfeita harmonia!
Sei que parece loucura dizer isso, mas a verdade é que tudo flui, como num balé ensaiado. As pessoas não parecem estar estressadas, nem xingam-se umas às outras. Elas também não andam em velocidade alta e não ficam bravas quando alguém "corta" a sua frente, ou não dá sinal para entrar, ou quando um pedestre cruza seu caminho. Os motoristas buzinam compondo uma melodia, mais para se fazerem presentes, do que para alertar alguém de seu erro. Tudo faz parte de uma coreografia perfeita, que para um simples espectador parece estar tudo a ponto de desabar. Mas nada desaba, ninguém cai, ninguém bate, todos saem ilesos.
E tudo isso enquanto alguns outros moradores, continuam sentados nas mesas das calçadas bebericando o seu chá e mascando sementes de girassol, ou batendo papo com amigos nas sombras das árvores, ou fazendo exercícios nos parques (que são lindos, muito bem cuidados). Compondo assim cidades cheias de vida, até altas horas da noite até o raiar do novo dia.
As motos em cima das calçadas |
Os lindos parques arborizados |
As mesas de rua, no meio das ruas |
Quando estávamos em Ha Long Bay fizemos um passeio até uma antiga cidade flutuante, onde no passado famílias de pescadores viviam em casas construídas em cima de plataformas flutuantes. Ao chegar no ponto de partida, um píer no meio do mar, havia um menininho de uns 3 anos brincando sozinho. Ele carregava um pedaço de um fio elétrico, e depois usava um pedaço de madeira quebrada para brincar num banco próximo da água. A criança parecia "sobrando", como a minha mãe resolveu apelidar as crianças por aqui, pois aparentemente não havia nenhum adulto tomando conta dela.
O menino brincando sozinho no píer. |
Não, a ideia não é causar polêmica nem defender o regime político do Vietnã. Mesmo porque, para isso precisaria de muito mais informação e vivência, do que alguns dias pelo país puderam me dar. Mas a impressão que tive é que o país está dando certo. Não é um país rico, mas também não é um país miserável. Não vi milionários andando em carros importados, ou helicópteros sobrevoando a cidade (cena tão comum em São Paulo que aqui pareceria uma piada) mas também não há moradores de rua, crianças pedindo esmola, e as ruas são limpas e os parques e áreas verdes são um verdadeiro cartão postal!
O país atravessou um longo período de guerra (20 anos), numa das guerrilhas mais violentas do século XX, com milhões de mortes (mais de 3 milhões de civis). Muitas famílias foram destruídas, muitas pessoas fugiram do país e tudo isso há pouco tempo atrás. O país reabriu-se recentemente para o turismo, só nos anos 90. E parece que já está preparado para receber todos os curiosos do mundo, inclusive norte-americanos, seus ex-inimigos de guerra, que andam tranquilamente pelas ruas. Uma prova disso é a cidade de Hoi An, uma cidade muito bem preservada, com muitos restaurantes e cafés, que ganhou o título de minha cidade favorita no Vietnã.
As pessoas estão dando um jeito de sobreviver e de sustentar suas famílias, de viver bem! Eu e a mãe fomos visitar o Museu da Mulher aqui em Hanói (recomendo a visita) e assistimos à um vídeo de mulheres vendedoras de rua. Era um documentário com depoimentos dessas mulheres que vão para as ruas vender frutas, flores e todo o tipo de bugigangas. Muitas delas são provenientes de cidades do interior e vem para a capital apenas para ajudar nas finanças da família. Elas dividem uma casa, entre 10 ou mais mulheres, acordam muito cedo e trabalham até muito tarde para ganhar uns trocados. Votam para suas famílias uma vez a cada 15 dias com menos de U$20,00 no bolso, que foi o lucro delas nesses dias. Uma vida difícil, de muito desgaste. Fiquei pensando nessas mulheres, e em tantas outras que vi nesse museu. Mulheres que lutaram na linha de frente durante a Guerra (cerca de 40% dos combatentes eram mulheres), mulheres que perderam muitos filhos para guerra (uma delas havia perdido oito filhos), mulheres responsáveis pelas plantações de arroz, pela tecelagem, pela manufatura, mulheres que ainda estão lutando por um mundo melhor.
As vendas de rua |
As mulheres vendedoras de rua. |
4) O que é ser “bem-educado”.
Estou acostumada com a falta de gentileza nos aeroportos do mundo inteiro, mas acho que nunca tinha visto nada parecido com o que vi nos aeroportos daqui. No primeiro aeroporto, depois da chamada para o embarque eu e a mãe nos encaminhamos para a fila. A fila parecia algo “simbólico”, já que, assim que abria um espaço de menos de 10 cms entre duas pessoas, uma terceira já tomava o lugar. Além de filas paralelas que surgiam para a entrada no mesmo portão! O cara que estava atrás de nós, ou melhor grudado em nós como se fosse a nossa sombra, depois de dar umas resmungadas simplesmente passou na nossa frente. Simples assim, sem nenhum constrangimento. Assim que o avião pousou, todos os passageiros pularam de suas poltronas. Duas vezes a mãe levou um safanão na cabeça da moça que estava atrás lutando pra alcançar a sua mala.
No outro dia, almoçando num restaurante, fiquei observando uma mulher ocidental sair do restaurante, pegar a sua moto e entrar no trânsito local. A moça já saiu irritada pois a garçonete não aparecia com a sua conta. Depois chegou uma pedestre que resolveu passar atrás da sua moto bem na hora em que ela estava saindo. E ainda depois esbravejou com umas outras motos que entraram em sua frente, antes de atravessar o cruzamento e sair pelas ruas.