domingo, 7 de setembro de 2014

Hay Paro! – Arequipa, Peru.

Eu tinha três dias em Cusco antes do embarque para a Colômbia, e já tinha rodado bastante pela cidade e seus arredores. Então decidi conhecer Arequipa, uma cidade ao sul do Peru, da qual havia recebido boas indicações.
 
Comprei uma passagem para quinta à noite, saindo de Cusco as 20:30 e chegando à Arequipa no outro dia pela manhã. Só depois que comprei as passagens é que me dei conta que dez horas de viagem de ida, mais dez horas de volta, não seriam pouca coisa. Na hora só pensei que poderia viajar durante a noite e economizar na hospedagem, mas não realizei que vinte horas eram suficientes para ir de São Paulo à Caxias do Sul!
 
Bom, já tinha comprado a passagem, agora só restava relaxar antes da partida. Eu estava num hostel com a Vanessa, minha nova amiga brasileira que conheci na trilha Salkantay, ela também pegaria um ônibus para Puno, e então decidimos que beberíamos a tarde toda para ocupar o tempo e facilitar as horas de sono durante a viagem.
 
Cheguei na rodoviária a pé, correndo, pois queria economizar com o táxi, mas por um pequeno “erro de cálculo” levei mais tempo do que eu imaginava. Meio tonta no meio de tanta gente, levei uns dez minutos para achar o guichê da companhia de ônibus onde eu deveria trocar o bilhete, e mais outros dez minutos em uma outra fila para pagar uma taxa de uso do terminal (sim, tem que pagar uma taxa para estar na rodoviária), e depois mais um bom tempo tentando entender de onde saía o ônibus. Ao contrário do Brasil, o box de onde sai o ônibus não está marcado na passagem, é preciso procurar por todos os cantos até encontra-lo. Meio na sorte mesmo. Enquanto eu estava lá, atordoada no meio de tanta gente gritando, me atropelando com suas malas, encontrei por acaso um outro amigo, que também conheci na trilha, e que também estava na batalha para encontrar seu ônibus. Conversamos um pouco, rimos mais um pouco, e cada um seguiu seu rumo. O ônibus saiu atrasado quase meia hora.
 
No ônibus passou um filme (muito bom aliás), serviram um lanchinho e tinha um cobertor e também calefação. Ótimo, não podia ser melhor. Na verdade poderia, se não fossem as inúmeras curvas da estrada, e buracos, que me sacolejaram a noite toda até chegar lá. As sete da manhã já estava na praça principal, sentada num restaurante agradável, tomando um café, esperando para visitar o Monastério Santa Catalina.  A cidade é realmente linda, está emoldurada pelos três vulcões e tem muitas construções antigas bem conservadas que deixam a cidade um charme. Caminhei, caminhei, caminhei, num dia lindo de sol, encantada com sua beleza, com suas praças e sua arquitetura. Visitei o Monastério, que achei lindo. Fiquei muito impressionada com o tamanho do edifício, com as cores, os espaços. Gastei algumas horas por lá, curtindo cada canto antes dos turistas chegarem em seus grupos.
 
Depois da visita ao Monastério resolvi procurar um restaurante para almoçar. Eis que caminhando pelas ruas da cidade escuto chamarem meu nome. Nem me dei o trabalho de olhar, quem estaria me chamando nessa cidade tão longe de tudo? Chamaram de novo, resolvi olhar. Era a Joane e o Andy, o casal de amigos Ingleses que conheci no Salar do Uyuni e que estavam passando uns dias pela cidade! Ai, como são boas essas coincidências de viagem!
 
Visitamos o mercado e almoçamos por lá. (Estou ficando boa nesse negócio de comer em mercados e em bancas de comidas de rua.) Decidimos passar a tarde em um terraço com uma linda vista para a cidade, bebendo alguns drinks e esperando o pôr do sol. Ótima tarde em ótima companhia.
 
Eram sete horas da noite e tive que deixá-los para enfrentar a segunda parte da saga “viagem de ônibus”. Viajar de ônibus em estradas locais é uma experiência que deveria fazer parte de qualquer viagem em um novo país. É pura cultura!  Cheguei na rodoviária e levei algum tempo para encontrar o balcão da empresa de ônibus. Entrei na fila e esperei, e esperei. Estavam com um “problema no sistema” e a mocinha do balcão não conseguia fazer outra coisa a não ser esbravejar e socar o mouse na mesa. As pessoas começaram a ficar agitadas, preocupadas que não teriam tempo para comprar seu ticket. Depois de brigar com uns dois que tentaram passar na minha frente, consegui estender o braço com o meu papel e fazer a menininha trocar por um boleto preenchido a mão, já que o computador havia travado. Bom, sai correndo para pagar a taxa de uso do terminal, e depois para achar o ônibus no meio da multidão.
 
Ufa! Embarcada, e com a sorte de não ter ninguém do meu lado dessa vez, me acomodei na cadeira e logo dormi. No meio da noite o ônibus para (já vi essa história antes) e a senhora ao lado grita: Hay um paro! Um “paro”? Penso eu - O que seria isso? E ali ficamos parados por algum tempo até o motorista subir correndo as escadas e pedir pra todos fecharem as cortinas. Ai, ai, isso não tá certo!
 
Depois de quase uma hora parados começamos a movimentarmos novamente, passamos pela primeira barreira de pedras e fogueiras na beira da estrada. Eram manifestantes, trabalhadores, que haviam fechado a estrada em protesto. Havíamos passado pela primeira barreira, mas haviam mais duas em seguida. A segunda não levou muito tempo para passar, mas na terceira paramos e ficamos. Já estava amanhecendo quando o batalhão da polícia chegou no local, eram inúmeros policias paramentados. Não sabia se ficava aliviada ou se passava a ter medo. Os policias passaram para a negociação com os grevistas, e nós ficamos. Pareceu uma eternidade. Só ficava pensando em como avisaria meus pais que estava lá parada, que perderia o voo para a Colômbia, mas que estava tudo bem. Estava no meio do nada em algum lugar do Peru.
A senhora ao lado tinha informações privilegiadas e não saia do telefone, ela deve ter recebido mais de dez ligações enquanto estávamos parados ali. Descobri que ela também chamava-se Marina enquanto ela avisava à todos no ônibus que o sobrinho dela estava na manifestação, e que no máximo em meia hora nos deixariam passar. Meia hora que pareceu dois dias. Mas passamos! Depois de mais algumas horas estávamos em Cusco. Cheguei no hostel acabada, cansada, só queria tomar um banho e descansar um pouco.
 
Realmente, tudo isso foi muito mais divertido e emocionante do que se tivesse ficado as últimas noites em Cusco. Mais uma aventura para contar! Conheci a linda cidade de Arequipa, adquiri mais algumas palavras para meu vasto vocabulário espanhol, conheci a Marina, encontrei amigos, fiquei um pouco apreensiva, cansada, e terminei assim meus dias pelo país. Agora parto para a segunda parte da viagem, na Colômbia. Vamos ver que outras histórias me esperam por lá!


O céu de Arequipa

O Monastério




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