Ainda não me sinto gabaritada pra falar desse assunto, mas acho que o primeiro sentimento que tive que lidar logo tomada a decisão e passado o proceso de pedir demissão, foi a questão do apego.
Como deixar tudo pra trás?
Tudo bem, eu achava que não tinha tanta coisa assim pra me desapegar. Afinal meu carro eu vendi há um ano, meu apartamento é alugado, e há algum tempo que tento reduzir compras em geral. Mas mesmo com esse esforço de não comprar mais nada, e aos poucos me livrar das coisas que há tempos estão sem uso, eu continuo sendo uma “pessoa apegada”. Minha mãe quem diga, toda vez que ela com seu espírito virginiano organizador me obrigava a dar roupas ou sapatos velhos. Sei lá, eu simplesmente gosto de ter algumas coisas. E não é um sentimento de guardar para o futuro, não sou do tipo que compra uma roupa e guarda para ocasiões especiais, sou do tipo que usa sem muito zelo, que empresta para as amigas sem dó, que não sofre se perde, se mancha, se estraga. Mas depois, essses trapinhos que sobram ficam ali, pois não tenho coragem de me desfazer.
Acho que isso que acontece com as coisas materiais é um reflexo do que eu faço com as outras coisas na minha vida. Eu sou assim: intensa! Acho que essa é a palavra que melhor me define. (pelo menos no meu ponto de vista) Eu gosto de viver, de usar a vida sem muitos cuidados, sem me preocupar com o que vai ser amanhã, não guardo a “roupa” para o dia de festa, uso a todos os dias! É claro que viver dessa forma as vezes desgasta o corpo e a alma. Mas eu prefiro assim, viver o momento e ser feliz hoje, e amanhã eu me preocupo com o coração partido, com o corpo dolorido, com a cabeça que doí, com as marcas que a vida deixou. Não sei se viver dessa forma, é certo ou errado. As minhas queridas amigas que sofrem tentando entender, e até já se acostumaram, e sabem que conselhos do tipo, “melhor você abrir mão disso para não ficar sofrendo depois”, não funcionam comigo!
E assim como eu faço com as roupas velhas, que não tem mais uso,eu faço com as minhas memórias, guardo elas lá no fundinho. Não consigo desapegar, seguir adiante. Volta e meia elas vem à tona, gosto de resgata-las, de te-las por perto, de ver e rever fotos, lembrar dos momentos felizes e dos nem tanto. Livrar-se do passado é algo difícil pra mim, muito difícil!
Tomada a decisão de viiver por um ano com uma mochila de 60 litros, de sair da minha casa, de deixar tudo pra trás, o coração apertou. Não serão só os móveis e roupas que estarei deixando pra trás, será também uma carreira, um emprego que gosto, amigos que são tudo pra mim, e uma família que sinto saudades todos os dias.
Tirar as roupas do armário, limpar gavetas e prateleiras, ainda que numa primeira versão light (sei que vou ter que me desfazer de muito mais coisas até a data da viagem) foi dolorido. Tudo bem, eu racionalmente sei que na volta eu posso comprar outras, que posso começar do zero, que vai ser até mais divertido, mas ao mesmo tempo meu estômago dói, porque os meus sentimentos dizem pra não deixar nada pra trás.
O processo das roupas e dos móveis vão me ajudar com o processo das memórias e das pessoas. To tentando, me esforçando pra fazer diferente! Eu juro! Mas o que eu mais quero agora é usar a vida que eu tenho aqui até o restinho, sem deixar absolutamente nada pra trás. E mesmo sabendo que talvez seja mais dolorido lá na frente me desapegar de tudo isso, sinto que ainda não é a hora!
Assim sigo vivendo intensamente cada momento, até o momento da partida, até o momento da volta!
Olha quantos cabides vazios!!! |
E isso tudo vai pro bazar! |
Alguns anos de cartões de visitas! |
ufa né?! ;)
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