sábado, 7 de fevereiro de 2015

As forças ocultas do universo!

Depois de mais de uma semana dormindo num quarto privado, em airbnb e em casa de amigo, depois de seis meses de viagem, voltei para a vida de hostel em quarto compartilhado.
Ontem era um vai e vem de homens passando de cueca como se estivessem em casa. O mesmo papo de sempre se repete. De onde vc é? Brasil! Eu sou de Nova York. Como se todo mundo no mundo tivesse que saber onde é NY. Da próxima juro que respondo que sou de Porto Alegre, sem falar que sou brasileira!
Coloquei o meu fone de ouvido que serve como repelente, mas a animação desses viajantes de férias não é inibida por um simples fone. Querem conversar, falar, saber por onde vc já esteve na cidade, numa ânsia de não perder nada.
Eu, cansada, só queria ficar na minha, repudiava aquele desfile de corpos, e todo aquele falatório na minha frente! Dormi o dia todo, aproveitando o quarto vazio para relaxar por algumas horas.
Não é fácil, realmente chega a hora que cansa. Cansa de não ter mais privacidade, de dormir com barulho e luz, de ser obrigada a conhecer gente nova, de ser simpática, de vestir a mesma roupa, simplesmente cansa! E eu estava me sentindo cansada quando passei pela recepção sorrindo (isso sempre), e a menina brasileira da recepção me chama pra me apresentar outra brasileira.
Meio de saco cheio conto resumidamente sobre a minha viagem, quase colocando pra rodar a gravação que tenho sobre o tema, toda vez que me perguntam. A menina nem pisca para ouvir o que estou falando, e quando termino, com o olhar mais espantado possível diz: Nossa, como vc é corajosa, gostaria de ter essa coragem! 
Já ouvi isso algumas vezes, mas confesso que hoje teve um valor especial. Me fez lembrar que sim sou corajosa, e que devo jogar esse meu cansaço para baixo da cama, e seguir adiante! Aproveitar cada minuto dessa experiência incrível que muita gente gostaria de experimentar. 
E viva assim aos corpos semi nus passando pela minha frente todas as manhãs!

Parte II de sou corajosa e tenho que espantar o cansaço!
Saio do hostel decidida a embarcar no ônibus para Bilbao que partia as 11 da noite. Coloca toda as malas nas costas, pega metrô, troca de estação e chega com uma hora de antecedência na estação. Vou até o gichê pra comprar a passagem, mas num inteligente sistema de vendas de passagem, para o ônibus que sai daquela estação devo comprar o ticket numa outra estação.
Saio correndo, volto pro metrô, e tento chegar à tempo na outra estação para pegar o bus que saia de lá as 22:45. Chego em cima da hora, mas o guichê de venda de passagens já está fechado. Mas há uma máquina de venda de passagens, minha última chance. Tento de todas as maneiras comprar o ticket mas não funciona de jeito nenhum. Perdi o ônibus. Respira fundo, pega a mochila e volta pro hostel! 
Como sou uma menina de muita sorte o pessoal do hostel me recebeu de braços abertos.
É isso aí, a resistência me persegue, mas eu não to nem aí pra ela! Amanhã tentamos de novo! E vamos que vamos que Bilbao me espera!

Parte III do dia que poderia virar um conto!

Sentada na recepção, relaxando antes de voltar para o quarto, entra o menino brasileiro, namorado da brasileira que tinha conhecido à tarde. Ele está chorando carregando todas as suas malas de volta.
Ele começa a falar com a moça da recepção pedindo desculpas pelo o acontecido.
A mesma moça da recepção que tinha me apresentado a sua namorada agora diz pra ele sentar comigo ali e me pedir alguns conselhos. Eu com certeza poderia ajudá-lo. 
Eu??? Eu mesma??? 
Ele senta ao meu lado e começa a contar a história de briga e paixão entre ele e a namorada. Eles haviam discutido (não entendi muito bem porque), e num acesso de fúria ele tinha resolvido ir embora é deixar a menina ali!
Claro, uma decisão muito coerente com sua idade. Ele tem apenas 21 anos e me conta detalhes de seu longo namoro de um ano, dizendo que se ela realmente amava ele não teria mandado aquela mensagem para um outro carinha há seis meses atrás. Ai, ai, sério? Agora sou terapeuta de um jovem menino apaixonado e inconseqüente.
Nem sei bem o que estou dizendo pra ele, quando ele me pergunta: vc já sofreu em algum relacionamento?
Ai, ai de novo. Sim, se eu não tivesse sofrido não teria nunca me relacionado. Faz parte da vida, faz parte do amor.
E vamos que vamos que amanhã é um novo dia repleto de amor! Disso eu tenho certeza!

Parte IV da saga para Bilbao

Sei que muitos vão ler isso e pensar, "nossa, como ela é criativa para inventar histórias", mas eu juro que tudo descrito aqui reflete a verdade, somente a verdade, e nada mais além da verdade.

Há três dias atrás decidi que visitaria Bilbao. No primeiro dia, decidi que pegaria o bus que partiria pela manhã, e coloquei o despertador do celular pra tocar cedinho. O celular tocou, tocou denovo, e denovo! E eu? Perdi o horário! Uma coisa simples, que as vezes acontece, comigo quase nunca, mas naquele dia aconteceu. Tudo bem, tentamos de novo amanhã. 
No dia seguinte decidi pegar o ônibus da noite, e aconteceu tudo aquilo que contei no post passado.
E aí, finalmente ontem, decidi fazer tudo certinho pra que NADA pudesse dar errado. Coloquei o despertador pra acordar cedo. O despertador tocou e eu levantei. Fui ao terminal de ônibus comprar o ticket para o ônibus. Comprei o ticket com horas de antecedência.
A noite, mais de uma hora antes do horário da partida sai do hostel com destino ao terminal. Cheguei lá, tudo certo, o ônibus está lá, coloco a mala no bagageiro, tudo certo, me sento no meu banco confortavelmente e aguardo.
O ônibus parte com destino à Bilbao! Uhu!!!!
Depois de andar duas quadras o telefone do motorista toca e ele para o carro no meio da rua.
Depois de uns minutos falando no celular, levanta-se e comunica os passageiros.
"Acabo de receber a informação que a estrada que vai até Bilbao está bloqueada por causa da neve. Não poderemos realizar o serviço hoje  e estamos voltando a Barcelona".

Bom, na linha do que acredito, nada nessa vida acontece por acaso. E por algum motivo o Universo não quer que eu vá pra Bilbao. 
Tá bom! Já entendi! Mudança de planos, mudança de rota! E vamos aproveitar um pouco de Barcelona porque ela merece, depois de tudo isso.

P.S: quando retornei ao hostel presenciei, e participei quase obrigada, de uma das brigas de casais mais agressivas que vi na minha vida. Mas essa eu vou deixar pra contar depois, porque se não, ninguém mesmo vai acreditar que tudo isso pode acontecer numa mesma viagem! Heheheh

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