Conheci uma menina brasileira de 21 anos no hostel que estava hospedada em Barcelona. Algumas horas de conversa, e percebi que ela nasceu e foi criada em uma família de classe média alta carioca.
A menina estava passando por uma situação difícil, de ciúmes e briga com o namorado, no meio de uma viagem de férias financiada pelos pais. E ela simplesmente não soube resolver os seus problemas sozinha. Durante a calorosa discussão que presenciei, eles usaram seus celulares de número brasileiro (imagina quanto isso custava) para ligar para mãe e para o pai, do outro lado do oceano, pedindo ajuda com o que estava acontecendo ali. Demonstravam tremenda fragilidade, dependência, insegurança, e acima de tudo um medo enorme por não saber como agir, longe de tudo aquilo que lhe és familiar. Não julgo a reação dessa menina, porque eu mesma, na mesma idade, fiz ligações do hemisfério norte para que a minha mãe no Brasil tentasse resolver os meus problemas.
Conheci uma outra menina, americana, 19 anos, num hostel na Eslovênia. Menina comunicativa, sorridente, de pais chineses mas criada nos Estados Unidos. Em algumas horas de conversa pude perceber que ela teve uma educação rigorosa, mas ao mesmo tempo de muita liberdade. Ela estava viajando sozinha pela Europa durante dois meses, fazendo couchsurfing (dormindo em sofás de gente desconhecida), de ônibus, planejando a cada dia sua rota e administrando o seu dinheiro. Estava feliz, e já fazia planos para sua próxima viagem.
E aí, pensando nessas duas meninas, fiquei me perguntando: o que diferenciava a atitude delas? Porque uma estava tendo as piores férias da vida e a outra as melhores?A resposta surgiu! O medo! Nós brasileiros nascemos e crescemos num país cheio de medo. Medo de sair na rua, medo de não conseguir emprego, medo de faltar dinheiro, medo de estranhos, medo da solidão, medo o tempo todo, e por todos os lados. E pais como o dessa menina, e também como os meus, obviamente criaram seus filhos protegendo-os desse medo, e dessa insegurança toda. O resultado? Nós brasileiros somos medrosos! Estamos despreparados para enfrentar os problemas da vida, temos medo das mudanças, do novo, e ficamos estagnados.
Ter medo é natural, enfrenta-los é o que faz de nós pessoas mais felizes e realizadas. No momento que mentalizamos que tudo dará certo, que não ficamos obcecados por controlar todas as situações, que tentamos enxergar o lado positivo até da pior situação, tudo passa a fluir e acontecer da melhor maneira possível.
A viagem da menina americana já terminou. Ela postou um monte de fotos bacanas em diversos países que visitou, e de pessoas que conheceu. Ela também me contou que em alguns momentos teve medo, que se perdeu à noite, que teve que se livrar de um cara que tentou seduzi-la, que perdeu dinheiro comprando passagens erradas, mas nada que ela não soubesse lidar e principalmente tirar lições para a vida.
A viagem da brasileira ainda não terminou. Ela ainda tem mais 7 dias em solo europeu. Sem falar com o namorado terá que se virar sozinha até voltar para o Brasil. Durante sua estada em Barcelona ela saiu somente duas vezes, naqueles ônibus de turismo, sem descer em nenhum ponto. Está contando as horas pra voltar pra casa da mãe.
Sei que essas duas meninas, assim como eu, somos privilegiadas por uma condição financeira bem diferente da maioria da população brasileira. Mas eu, acredito que todas as pessoas, de qualquer lugar do mundo, de qualquer condição social, podem aprender a lidar melhor com seus medos e por fim, vencê-los. Aprender isso daria poder às pessoas, que poderiam ter mais controle de suas vidas, e força para realizar seus sonhos e desejos. Teríamos mais vitoriosos, menos frustrados, e sucessivamente um mundo melhor.