segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A curiosa hostória da viagem no sul da Bolívia!


Contarei aqui uma pequena historinha, que merece um post especial por sua relevância.
Sexta a noite peguei um ônibus de Uyuni para La Paz. Eu havia ouvido muitas histórias sobre esse trecho terrestre, desde assaltos até acidentes, mas nenhuma como a minha própria história.
Contextualizando, Uyuni é uma cidade (se é que pode ser chamada de cidade) no sul da Bolívia, próxima à fronteira com o Chile, e é um ponto de partida ou de chegada para aqueles que querem conhecer o Salar do Uyuni e sua região. Depois de 3 dias num tour bastante “alternativo”, chega-se a esse pequeno vilarejo que não oferece uma grande estrutura para os turistas. Cheguei lá por voltas das 13hs e fui direto até a agência Todoturismo, que faz a rota Uyuni/ La Paz, e que de acordo com as dicas era a melhor empresa para realizar essa viagem. Eu havia solicitado a reserva da passagem na agência do tour do Salar, lá em San Pedro de Atacama, mas adivinha?! Eles não haviam feito a reserva e não havia mais espaço no ônibus para aquele dia.
 
Respirei fundo, sai de lá pensando que teria que dormir naquele vilarejo e tentar uma passagem para o outro dia. Mas como eu digo, sempre existem pessoas dispostas a ajudar, e dessa vez foi nosso motorista boliviano. Ele me levou até uma outra agência em que conhecia as pessoas que trabalhavam lá, ligou para alguém de seu celular, pois a agencia estava fechada para o horário de almoço, e em menos de 10 minutos deu um jeito de arranjar um lugar pra mim naquele ônibus no mesmo dia. A passagem saiu mais barata do que planejada e as 20hs daquela noite eu estaria partindo rumo à La Paz!
 
Resolvido o problema da passagem tinha apenas que esperar 8 horas naquela maravilhosa cidade. No meu tour haviam 12 pessoas, das quais 7 também decidiram ficar no Uyuni e tentar passagens para outros lugares. Fomos todos para um dos únicos restaurantes da cidade, e eu, dois canadenses, dois ingleses, uma menina suíça e um menino das Ilhas Mauricio resolvemos o problema tomando umas cervejas e petiscando as especialidades do local.
 
As 20 hs estava sentada dentro do ônibus que tinha cadeiras reclináveis, calefação e até um chocolatinho! Meu companheiro de banco era um rapaz que nem se mexeu na sua poltrona, assim como sentou-se levantou em La Paz. Coitado, pois eu não segui seu exemplo, passei as 12 horas de viagem mudando de posição.
E assim começou a viagem! Saímos pelas ruas de terra esburacadas saltitando feito sacos de batata em um caminhão. Esperei ansiosamente para entrarmos numa estrada asfaltada até me dar conta que não haveria estrada asfaltada. Sim! Seria uma noite inteira sacolejando naquela estrada esburacada. Ainda por cima, a janela ao meu lado estava com algum problema e não fechava totalmente, e pela fresta entrava o ar gelado do deserto com muita areia, ótimo para respiração. Ok! O que fazer? Tentar dormir, era o que me restava.
Passada umas 4 horas naquela estrada de terra o ônibus para de repente, desliga o motor, a calefação e tudo mais. Estamos no escuro, no meio do deserto, completamente parados. Legal, deve ser um acidente na estrada, penso eu! E ali ficamos parados no meio da escuridão em silêncio até que a luz do ônibus acende e uma Cholita, (aquelas mulheres Bolivianas, vestidas com saia rodada, trança no cabelo, mantos coloridos) começa a engatinhar entre os bancos a procura de algo. Seu filho pequeno está sentado no mesmo banco que ela na minha frente, mas agora ela está desesperada a procura do que perdeu na escuridão do ônibus. Até que enfim ela achou, era apenas seu filhote de cabrita, ou de algo parecido com isso que havia fugido da sacola e estava acuado em baixo de algum dos bancos. Pronto! A senhora já estava novamente com sua sacola com seu animalzinho, seu filho, e sua trouxa de roupas de volta no assento em frente ao meu.
Quase uma hora que estamos parados ali e o ônibus começa a dar ré. Passa por um outro ônibus parado e continua dando ré naquela estrada de terra. Chega num ponto em que é possível trocar para a outra pista, e assim ele vai pela contramão por alguns kms até passar do “ocorrido”. Um caminhão havia atolado na pista, e dificilmente sairia de lá naquela mesma noite. Sorte a nossa que o nosso motorista era bastante corajoso para andar de ré por alguns kms e mais alguns na contramão. E assim seguimos sacolejando por mais várias horas.
Por incrível que pareça eu dormi, quando acordei já estávamos numa estrada asfaltada e muito próximos a La Paz! Eba!!! As pessoas a minha volta também acordavam e tratavam de assoar seus narizes, numa sinfonia para os ouvidos. Da janela eu enxergava a cidade, uma cidade no meio de um vale, cercada por montanhas, com casas e edifícios da mesma cor, da cor do tijolo, realmente uma paisagem única...
Próximo as 9 da manhã estava na rodoviária. Peguei um táxi com um motorista muito simpático, e resolvi puxar o assunto de Copa do Mundo que nunca falha! Nos tornamos melhores amigos em algumas quadras. Cheguei ao hostel e é claro que meu quarto não estava pronto. Esperei mais umas duas horas e finalmente consegui tomar uma ducha quente (depois de dois dias sem banho) e me deitar numa cama que não sacolejava! Que alegria! Nunca fiquei tão feliz de chegar numa cidade, como fiquei ao chegar em La Paz!

6 comentários:

  1. Ai Jesus! Uma filhote de cabrita? Sério? ahahahahahah Fiquei imaginando a cena! To acompanhando tudo prima! Beijão!

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  2. Hahahahahah! Imagino sua cara quando viu o cabrito! Ainda bem que no final da estrada sempre existe uma ducha quente!

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  3. Pontos altos: descobrir que não há estrada asfaltada (asfalto?! Que asfalto?!); ar condicionado arenoso particular; descobrir que tem sempre alguém em uma situação mais difícil que a sua, porque, cabra + filho + estrada esburacada + 12hs de viagem..... habla sério!!
    Muito bom! Me senti lá! <3

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  4. kkkkkkkk

    adorei a história!
    tb me senti dentro do ônibus... e já vivi coisas parecidas.
    agora vou te cutucar! por que é óbvio o " Cheguei ao hostel e é claro que meu quarto não estava pronto"???? que tipo de expectativas que vc tá alimentando aí; hein?! ;)

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  5. Nossa, imagino a sua cara Marina. Ótimo!!!!

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