sábado, 3 de março de 2018

Sobre expectativas, sobre ser mãe!

Seria mentira se eu dissesse que nunca imaginei ser mãe. Assim como muitas outras meninas eu brinquei de boneca e imaginei o nome que a minha filhinha teria quando ela nascesse (como se isso não fosse uma opção e sim algo natural, que com certeza absoluta aconteceria).

Eu cresci, amadureci e passei a questionar muitas verdades, inclusive a de TER que ser mãe. Por mais que eu tenha o privilégio de acesso à informação, e de decidir sobre o meu futuro “maternal”, a pressão de um pensamento social de que mulheres (na minha idade principalmente) tem que ser mãe, sempre esteve presente. Isso ficou evidente no momento de contar para os amigos sobre a gravidez: 
-Tenho que te contar uma novidade!
-Tu estás grávida?
Ninguém sugeriu que eu tivesse ganhado uma promoção no trabalho, que eu estivesse indo morar no Butão, que eu tivesse pedido demissão pela segunda vez… 100% das reações foram presumindo que a minha novidade é de que eu seria mãe. Bom, dessa vez acertaram.

Acontece que para mim, tudo isso foi uma grande novidade. Talvez se eu mesma tivesse me contando uma novidade, eu nunca acharia que seria relacionado à uma gravidez. Ser mãe não estava nos planos. Depois de entender que isso não precisava acontecer, tornou-se quase uma bandeira da minha luta feminista, “Pelo direito das mulheres que não querem ser mães”! “Não sou obrigada”, é o que dizia o cartaz que eu carregava na marcha do último 8 de Março.

E também não era obrigada a manter o mesmo posicionamento para sempre.

Comecei a mudar de ideia em uma conversa despretensiosa com o homem que me fazia pensar sobre as minhas verdades. Tornou-se uma decisão poucos meses depois, numa conversa rápida de sofá. Algum tempo depois eu estava grávida. Agora olhando para trás, parece óbvio que se um dia eu tomasse essa decisão, seria assim, com o coração e não com a razão, como todas as outras grandes decisões da minha vida.

Isso tudo pode soar uma grande irresponsabilidade, e eu mesma tive a maior crise de senso de responsabilidade algumas semanas depois de descobrir que estava grávida. Surtei pensando que o momento não era o ideal (eu estou morando em Santiago!), que isso afetaria minha carreira, que eu não teria dinheiro, estrutura emocional, que eu não teria saúde, que eu não aguentaria o parto, que eu não teria apoio familiar, que eu seria uma péssima mãe, enfim, um milhão de paranoias, que só mesmo o meu namorado para me trazer de volta pra realidade, colocar meu pé no chão, e me convencer de que tudo estava bem.

E sim, estava tudo bem. Era só uma questão de expectativas criadas e confrontadas. Eu nem sabia que elas existiam, mas elas estavam lá, só esperando para me chantagearem no momento certo. É impossível dizer que eu não tenha criado expectativas para a mãe perfeita, para a profissional e mulher perfeita. Há muito tempo eu tenho tentado me livrar das tais Expectativas. Tenho intencionalmente trabalhado para que elas não existam ou quando existam, não me afetem tanto se não realizadas. Mas concluí que isso é o grande segredo da vida, e que é algo que deve ser praticado todos os dias. Quando nos livrarmos de expectativas do futuro, poderemos viver plenamente o presente.

Mas foi assim que virei mãe no presente. No futuro, só o Universo pra dizer como vai ser. Hoje sou uma mãe confusa, que sofreu absurdamente nos três primeiros meses, com dores de estomago, enjoos, dores nos seios, cólicas, mau humor, falta de paciência e sensibilidade extrema. Chorei, entrei em crise por escolhas relacionadas ao trabalho (quando voltar para o Brasil), fiquei sem respirar de tão ansiosa toda vez que fiz uma consulta médica, com medo de que eu tivesse feito algo que tivesse prejudicado o serzinho que me escolheu como mãe. Não me via refletida em modelos de maternidade, não sou casada, não sei nada sobre enxoval de bebês, tenho medo (ainda) de pesquisar sobre parto, não gosto nem de imaginar ficar gorda, e já me deixa nervosa só o fato das minhas calças não fecharem mais.

Algumas pessoas dizem que é normal, que na verdade são poucas as mulheres que vivem a plenitude de uma gravidez que nem dos anúncios de TV. Eu gostaria de acreditar que não sou a única mulher por aí assim.

Enquanto isso, sigo vivendo um dia de cada vez, e me deliciando com cada novidade. Hoje deitada na cama e olhando para a minha barriga, fiquei imaginando como seria divertido se a pele fosse transparente e eu pudesse contemplar o meu nenê ali, como num aquário! Ser mãe tem sido uma experiência realmente divertida. Que continue sendo assim!!!

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