domingo, 12 de abril de 2015

Os 10 dias de silêncio.

Não sei bem de onde saiu essa ideia maluca de fazer um retiro de 10 dias de silêncio. Quando eu estava lá, em silêncio de fala, mas em conversa com a minha mente, que mais parecia uma reunião de condomínio de tão confusa e cheia de interesses, esse assunto veio à tona. "Como eu vim mesmo parar aqui?"
Há algum tempo atrás estive pesquisando muito sobre a Índia e seu lado espiritual, e acho que foi dessa pesquisa que tudo isso surgiu. E aí lendo sobre a experiência dos meus amigos, Dri e Manu na Tailândia, fiquei ainda mais curiosa, e então decidi aproveitar a oportunidade e encarar o desafio.
E que desafio! Por algumas vezes pensei que qualquer coisa deveria ser melhor do que estar ali, até mesmo uma prisão ou um hospício (juro que esse pensamento me ocorreu), e eu estava fazendo isso por vontade própria! Ninguém me prendia ali, e eu poderia dar as costas e ir pra alguma praia paridisiaca tomar cerveja e comer camarão, mas o que me fez ficar foi a minha teimosia aliada a uma enorme sede de auto-conhecimento.
A rotina não era nada fácil. Todos os dias acordávamos às 4 da manhã e meditávamos aproximadamente umas 7 horas por dia, mais as aulas de meditação e yoga. A alimentação era restrita à duas refeições vegetarianas, sendo a ultima servida ao meio dia. No café da manhã tinha todos os dias a mesma sopa de arroz. Sim, sopa de arroz no café da manhã! E a noite eu sonhava com uma torrada de queijo (misto quente para os paulistanos)...
Além disso, dormíamos numa cama que era uma esteira com travesseiro de madeira e tomávamos banho de canequinha. Eu levei mais ou menos um 9 dias pra entender como fazia pra lavar o cabelo desse jeito. Fora o calor, que era insuportável durante as noites sem ventilador no quarto. E ainda haviam algumas regras que deveriam ser seguidas. Não escrever nenhum diário, não ler nada, não ouvir música, não deitar em nenhum lugar durante as atividades, não comer nada além das refeições oferecidas, entregar celular e computadores, e não falar, claro. Acho que a parte do "não falar" foi a mais fácil de todas, aliás ajudou muito a manter a serenidade.
Pra mim, definitivamente os primeiros e os últimos dias foram os mais difíceis. No primeiro e no segundo dia achei que ia morrer, que não ia aguentar, que dez dias era uma eternidade, que preferia ficar dez diais trabalhando em um Construction Review do que ficar ali. Mas aí a mente foi se acalmando, o corpo se acostumando às posturas de meditação, e com as aulas de meditação, do terceiro ao oitavo dia, tive meu melhor rendimento. Nunca imaginei que a meditação fosse capaz de me proporcionar momentos como os que experimentei em Suon Mokkh. Às vezes tinha a sensação que aquilo era melhor que sexo, ou ainda melhor que muita droga (ai, se Buda sabe que eu pensei isso), e às vezes, depois da meditação, achava que tinha encontrado a resposta pra muitos dos meus problemas. Mas confesso que esses momentos foram poucos. A maior parte do tempo, sentada no chão, tudo o que eu conseguia pensar era na dor nas costas, na perna, no joelho, no pescoço, ou então no meu plano de viagem ou em burrices do meu passado, ou ainda em coisas banais, como letras de música dos Mamonas Assasinas ou em cenas de filmes bobos como o Virgem de 40 anos. Aaaaa não me pergunte como essas coisas foram parar na minha mente no meio de um retiro de meditação, mas elas estavam lá, infiltradas em outros pensamentos mais profundos sobre minha vida.
Depois de aprender e praticar algumas das lições básicas do Budismo como o desapego, o foco no presente, que tudo é finito, o não julgamento, eu cheguei à algumas conclusões e tive alguns "insights" (muito pessoais e um pouco chocantes pra eu expor aqui). Pela primeira vez na vida tive interesse em aprender mais sobre uma religião. Me identifiquei com muitos dos conceitos e pretendo estudar mais a religião (que aliás é bem complexa) e desenvolver ainda mais esse lado espiritual.
Acho que ainda tenho que dar um tempo e "digerir" tudo o que se passou nesses 10 dias. Ontem pela manhã tudo o que eu queria era sair correndo de lá, estava cansada de tanta meditação e feliz por concluir o retiro, mas posso afirmar que muita coisa mudou dentro de mim. Prova disso é que fiquei 11 dias sem beber, e hoje quando tive oportunidade de beber aquela cerveja bem gelada, simplesmente não tive vontade. Mas comer a torrada de queijo, isso sim, eu comi! Hummmm, e tava uma delícia!





Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto e pela coragem. Incrível como a mente demora para entender que aquilo que a gente está acostumado não vale de nada... E que não criar expectativa e viver o presente é mais difícil do que parece...

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